Meia hora foi o suficiente para espoletar um fascínio que perdura até aos dias de hoje – e já lá vão quase 20 anos! – desde aquela primeira viagem na Linha 18. Prestes a graduar-se na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), Francisco Stocker tem conciliado os estudos e a vida de (quase) médico com a condução de elétricos, um ex-libris incontornável da cidade Invicta.

Aquela primeira viagem realizada entre o Hospital de Santo António e o Museu do Carro Elétrico despertou uma curiosidade que foi crescendo à medida que as deslocações em transportes públicos se tornavam cada vez mais frequentes, sempre na companhia do avô paterno. “Durante as férias escolares, o meu avô fazia-me a vontade e viajávamos de elétrico praticamente desde a saída do primeiro carro até à recolha, por volta das 19 horas”, relembra Francisco Stocker.

Existindo poucos elétricos em circulação, os rostos do reduzido número de guarda-freios – a designação da pessoa que tripula o carro elétrico – repetiam-se a cada nova viagem, o que permitiu construir várias relações de amizade. Talvez motivada pela admiração constante no olhar daquele jovem rapaz, Carmen Barros, antiga tripulante da STCP, foi ensinando Francisco a virar as placas de destino, as agulhas e até quando se tornou mais crescido, os tróleis. “Na verdade, só me faltava conduzir porque tudo o resto relacionado com os elétricos fui aprendendo durante a minha infância e adolescência”.

Já a meio do Mestrado Integrado em Medicina, porque também sempre gostou de tudo o que está ligado ao corpo humano, soube que a STCP ia abrir uma nova bolsa de guarda-freios. Não será difícil de antever o que se sucedeu: após o envio do currículo e de uma longa série de entrevistas e de exames médicos, Francisco Stocker abandonou o lugar de passageiro e passou a tripular o elétrico em determinados serviços requisitados por agências de viagens, escolas, equipas de filmagens, entre outros eventos.

Das viagens mais “memoráveis” aos comandos do carro elétrico, Francisco Stocker recorda dois momentos em que a vida académica e este hobby se uniram. “No seguimento de uma avaliação de Biopatologia, acabei por conduzir a Professora Fátima Carneiro numa viagem de elétrico com a família, e no ano seguinte realizei um serviço no âmbito do aniversário da Federação Académica do Porto”, confidencia, acrescentando que até já chegou a receber “gorjetas para os estudos” dadas por turistas.

Terminado o curso, Francisco Stocker espera continuar o trajeto enquanto médico e no ensino da anatomia, um “objetivo de vida” que iniciou no 4.º ano do curso. Quanto à condução de elétricos, espera ter disponibilidade para continuar a conciliar esta paixão. “É um hobby que acaba por ser terapêutico”, conclui.

A paixão de Francisco Stocker pelos elétricos remonta desde muito cedo na sua infância.

Naturalidade? Porto

Idade? 24 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Desde os excelentes profissionais até ao ambiente vivido junto da comunidade académica.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Falta de interligação entre as várias unidades orgânicas da Universidade do Porto.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

No seguimento da resposta anterior, deveria existir uma maior abertura para os estudantes que procuram complementar a sua formação noutras áreas.

– Como prefere passar os tempos livres?

A natureza é algo que me permite abstrair do presente. Assim, nos meus tempos livres faço questão de me rodear dela. Além disso, a música tem um impacto deveras importante no meu estado de espírito e nunca nego um passeio de carro na melhor companhia.

– Um livro preferido?

Gray’s Anatomy (o livro, não a série!).

– Um disco/músico preferido?

Música é algo muito presente no meu dia a dia, e escolher apenas um músico ou um estilo é quase impossível, contudo, destaco os Coldplay e os Imagine Dragons.

– Um prato preferido?

Pergunta difícil, dado que gosto muito da gastronomia portuguesa. No entanto, uma boa posta junto à beira-mar com a companhia certa é o cenário ideal.

– Um filme preferido?

Não sou adepto de filmes, no entanto, sou apologista de séries como “Dr. House” e “Chicago Med”.

– Uma viagem de sonho?

Tarefa difícil… Tenho curiosidade em conhecer várias culturas e expandir a minha visão do mundo. Indubitavelmente quero conhecer a Suíça, país de origem do meu avô materno que nunca conheci. Certamente existem outros locais que me cativam, como o Mediterrâneo ou a cidade de Paris. Além disso, gostaria de conhecer países nos outros continentes.

– Um objetivo de vida?

Ver que todos estes anos de estudo me vão colocar no sítio onde eu sempre sonhei estar e reforçar o sentimento de dever cumprido.

– Uma inspiração?

Não posso cingir o sentimento de inspiração a uma pessoa só. Ao longo de todo o meu trajeto académico, cruzei-me com pessoas que me marcaram e me motivaram de certa forma. Destaco a Professora Dulce Madeira, que desde o início do meu percurso me transmitiu muitos ensinamentos, não só enquanto profissional, mas também como pessoa. Também nos carros elétricos, o meu instrutor, o Sr. Alfredo Gama, vindo diretamente de Lisboa, moldou o tipo de profissional em que me tornei. E, por fim, não posso terminar sem agradecer à Rita, que me auxilia em tudo e molda muito a pessoa que sou atualmente.

– O projeto da sua vida…

Delinear um projeto de vida de forma concreta neste momento pode ser difícil. É certo que tenciono continuar vinculado à FMUP, na vertente de ensino da Unidade de Anatomia do Departamento de Biomedicina. Não obstante, no que concerne ao futuro enquanto médico, ambiciono uma especialidade médica que me permita ser feliz diariamente, pois só assim poderei ter sucesso junto dos doentes. Tenciono sempre poder conciliar o trabalho com a minha vida pessoal. Construir uma família está claramente presente nos meus planos, sendo que pretendo ter o tempo suficiente para me dedicar à mesma. Assim, aguardo expectante por aquilo que o futuro me reserva…