A ESCOLA DAS FÉRIAS GRANDES-GRANDES
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Quando eu era adolescente, todas as férias eram grandes: no Natal, quinze dias; na Páscoa, outros quinze; e lembro-me de o Carnaval nos dar direito a uma semana. Mas as férias grandes-grandes espraiavam-se por quase quatro meses, de junho a outubro. Nesses tempos, também eu me desdobrava por diferentes casas de familiares: dos Tios Manuel e Margarida, em Miramar; dos Tios Mário e Dinora, em Esposende; dos Tios Miguel e Maria Emília, no Estoril; dos avós maternos, em Barcelos; da quinta da avó paterna, também em Barcelos. As casas apinhavam-se de primos e de amigos de primos, e de amigos dos nossos pais e tios, e as portas abriam e fechavam e havia sempre mais pratos em cima da mesa. Assim era também na casa de férias, na Póvoa do Varzim: ao regressar do trabalho, no Porto, o meu pai não sabia nunca quem mais iria encontrar. E embora a dança das férias me parecesse muito diferente do ritmo escolar, a verdade é que, olhando para trás, compreendo que desenvolvi então muitas das minhas “competências transversais”. Na praia da Póvoa, com o meu Tio Rui (apenas três anos mais velho do que eu), apurei a coordenação motora participando em corridas de caricas – e em breve dominei a “arte do piparote”, curvando a cabeça do dedo médio até apoiar a unha na cabeça do polegar, para, de repente, o endireitar e fazer a carica do Jackie Stewart ultrapassar a do Niki Lauda sem se despistar na estreita estrada de areia. Com o “Jogo do Prego”, aprendi que a persistência recompensa: depois de longas horas de treino, conseguia atirar o prego na posição mais difícil (a partir das “costas da mão”), fazendo-o aterrar firme e erecto, na areia. Com a nossa vizinha de barraca de praia, D. Dina, fui iniciada na “arte do crochet”, urdindo rosetas multicolores que viriam a resultar em mantas e xailes compridos de verão. Com a minha amiga Solange, aprendi a fazer roupa a partir dos moldes da revista Burda. Com o livro do Eurico Cebolo, tirei os primeiros acordes da minha guitarra, mas é ao meu primo Zé Miguel que devo a paciência de me ensinar a “tirar” músicas de ouvido. Foi no ambiente festivo das férias que a minha mãe me iniciou na cozinha (em breve o “Bolo de Bolacha” se tornou o meu primeiro sucesso culinário), mas devo à irmã da minha Tia Maria Emília a receita da minha primeira pizza e à minha Tia Margarida a da Sopa de Alho Francês. Com a minha prima Guigas, aprendi a exprimir com o corpo o lado trágico da vida, nas intermináveis interpretações que fizemos do Lago dos Cisnes, ao som dramático de Tchaikovsky. E quando o meu pai entrava também em férias e nos metia aos quatro na carrinha (a mim, à minha mãe e aos meus dois irmãos) para percorrermos longos quilómetros, na Europa, eu consolidava o meu repertório de “músicas de carro”, com especial preferência por canções italianas dos anos 60, que os meus pais cantavam, a duas vozes. Antes de regressarmos à escola, em outubro, havia ainda a vindima na quinta da minha avó, comigo a ajudar em todas as fases, da colheita à “pisa da uva”.
Pensando agora nas minhas férias grandes-grandes, vejo-as como uma espécie de escola onde fui muito feliz. E sim, havia exames: emocionantes corridas de caricas, partidas do Jogo do Prego com adversários experimentados, festas em que tocava guitarra e cantava – provas públicas onde tinha de dar prova de “aprendizagens bem-sucedidas”, como agora se diz.
As férias grandes-grandes foram a minha escola informal, com os mais inesperados – mas inspiradores – pedagogos. À luz do jargão pedagógico dos nossos dias, contribuíram para o meu desenvolvimento social, promovendo oportunidades para interação com os meus pares (olá, primos!), e prepararam-me para o trabalho em equipa, participando em atividades desportivas (fiz muitas vezes, no papel de Jackie Stewart, equipa com um vizinho-de-barraca Jody Scheckter, correndo, pela Tyrrell, contra primos-tios-irmãos-Niki Lauda e Alain Prost, da Ferrari, ou Mario Andretti e Ronnie Peterson, da Lotus). As férias grandes-grandes contribuíram para o meu desenvolvimento emocional e para a minha autoconfiança (dei então o meu primeiro beijo), bem como para o meu desenvolvimento cognitivo: nesses dias que se arrastavam, depois de longos passeios, que estimulavam a curiosidade e o gosto pela exploração, havia sempre livros à minha espera.
Talvez por estas recordações felizes, entro em férias sempre com grandes expectativas. Já não são tão grandes-grandes, mas haverá sempre mundo para aprender enquanto fizermos os nossos passeios com curiosidade, soubermos inventar jogos com a família e amigos e tivermos bons livros à nossa espera.
A todos desejo um excelente mês de agosto!
Fátima Vieira Vice-Reitora para a Cultura e Museus
Nota: A Casa-Comum também precisa de férias... Voltamos com as energias retemperadas em setembro!
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Culturas gastronómicas dão sabor às últimas Noites no Pátio do Museu
A última semana (29 a 31 de julho) das "noites culturais" da U.Porto convida a pensar a cidade, comer queijo francês, beber vinho e assistir a um concerto. Hélio Loureiro vai trazer sabores de França ao Pátio do Museu. Foto: DR
Ao tradicional "pão e vinho sobre a mesa", o chef Hélio Loureiro vai juntar queijo francês, à ideia de cidade vamos acrescentar os principais desafios e... até ao final da semana... prometemos apresentar ainda The Last Marquis e um Silly Boy Blue... É o rock alternativo a encerrar a versão 2024 das Noites no Pátio do Museu. Infraestruturas, imponderáveis, fluxos e dinâmicas… Como planear uma cidade que aloja estilos de vida em constante mutação? Quais as tendências que não se tornarão obsoletas quando concretizadas? Que problemas já identificámos e como resolver? Que exemplos inspiradores poderemos ter? Para essa abrangente visão do futuro convidámos para o arranque desta semana, dia 29 de julho, dois geógrafos (e também docentes da U.Porto) Álvaro Domingues e José Alberto Rio Fernandes; os arquitetos José Pedro Sousa (docente da FAUP) e Nuno Grande (docente da Universidade de Coimbra); assim como Paula Pereira, filósofa e docente da FLUP. A Conversa para Pensar... a Cidade será moderada pela Vice-reitora para a Cultura e Museus, Fátima Vieira.
Dia 30 de julho, terça-feira, é um dia ou, neste caso, uma noite para apurar o palato.
"Comment voulez-vous gouverner un pays où il existe 246 variétés de fromage?" A frase é atribuída a Charles de Gaulle e já dá uma ideia da importância atribuída ao queijo, embora este número já tenha disparado. Hoje estão registadas em França mais de mil variedades de queijo. Vamos, então, aprender a compatibilizar este queijo francês com pão e vinho produzidos em terras lusitanas, sendo que, em relação ao vinho poderemos apontar pouco mais de 300 castas, 33 denominações de origem e oito indicações geográficas. Caberá ao chef Hélio Loureiro o comando desta viagem pelos sentidos. A participação é gratuita, mas de inscrição obrigatória aqui. Silly Boy Blue e The Last Marquis são os projetos que vão encerrar a programação das Noites no Pátio do Museu. (Foto: DR)
Dia 31 de julho, Silly Boy Blue e The Last Marquis serão as últimas bandas a subir ao palco das Noites no Pátio do Museu. Silly Boy Blue começou por ser Miguel Machado Vaz e depois de fazer parte da coletânea Novos Talentos FNAC (2016) gravou o primeiro álbum Man on Wire, lançado em 2019, com influências folk, rock e pop. O álbum foi apresentado na sala Passos Manuel, no Porto. Hoje, os Silly Boy Blue são compostos por Casca (voz e guitarra), Ramon (vozes, guitarra e Wurlitzer), Bartilotti (vozes e baixo) e Tó Bé (vozes e bateria). A primeira parte do concerto será assegurada por The Last Marquis, projeto de Ricardo Guedes. Os temas que vem apresentar fazem parte de um conjunto intitulado Late Lust Lullabies, atualmente em fase de gravação.
Depois de um mês da mais variada programação, será, então, a vez do rock alternativo encerrar a programação das Noites no Pátio do Museu. Da poesia à gastronomia, do cinema ao teatro, do ballet à dança tradicional portuguesa e da música ao debate de ideias, cerca de três dezenas de eventos trouxeram centenas de pessoas ao pátio do Museu de História Natural e da Ciência.
Obrigada por terem estado connosco durante todo o mês de julho!
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Instituto Pernambuco - Porto apresenta Brasília - Da utopia à Capital
Exposição revela os principais personagens epercursos históricos e sociais envolvidos na criação da cidade de Brasília. Entrada livre. O que levou à criação da mais modernista cidade brasileira? A resposta está em Brasília – Da utopia à Capital, título da exposição que estará patente no Instituto Pernambuco – Porto de 1 de agosto a 27 de outubro. São cerca de 300 obras e documentos que testemunham o surgimento e a materialização de ideias. Entre eles incluem-se maquetes de edifícios icónicos projetados por Oscar Niemeyer; desenhos e maquete fotográfica do plano urbanístico de Lúcio Costa; esculturas de Maria Martins, de Bruno Giorgi e de Alfredo Ceschiatti; e fotografias de Marcel Gautherot, Peter Scheier, Jean Manzon e Mario Fontenelle. Entre maquetes, desenhos, esculturas e fotografias assistimos à criação de uma cidade e conhecemos os seus principais protagonistas. Como se ergueu esta cidade – síntese do pensamento modernista brasileiro?
O Planalto Central, no cerrado brasileiro, transformou-se num verdadeiro canteiro de obras de proporções épicas, com espaços de alojamento precários, sendo um deles a Cidade Livre, que chegou a abrigar mais de 30 mil trabalhadores durante a construção. Os trabalhadores, chamados “candangos”, aprenderam no local a técnica do concreto aparente, elemento marcante do Modernismo brasileiro.
Se o projeto urbanístico, Plano Piloto, tem assinatura do professor, arquiteto e urbanista Lúcio Costa, a visão de harmonia que trespassa o mar de linhas curvas deve-se ao trabalho do histórico arquiteto Oscar Niemeyer.
Nas maquetes, podem ver-se os arcos que sustentam o Palácio do Itamaraty e os pilares do Palácio da Alvorada, inspirados nas redes de casas de fazenda do período colonial, mas não só. Está aqui representada a obra de muitos dos artistas que foram convocados para a construção desta cidade com características de museu a céu aberto.
Oscar Niemeyer, um dos “obreiros” da capital brasileira. (Foto: DR)
Brasília comissionou obras a: Athos Bulcão, autor das fachadas do Teatro Nacional e dos painéis de azulejos no Congresso Nacional e na Igrejinha; Marianne Peretti, autora dos vitrais da Catedral Metropolitana; Alfredo Ceschiatti, escultor dos anjos da Catedral; Roberto Burle Marx, artista criador de projetos paisagísticos dos principais espaços públicos da capital, como o Parque da Cidade, o Palácio do Itamaraty, as praças e eixos do plano piloto, entre outros. Depois de um período de construção que durou três anos e 10 meses, a nova capital brasileira foi inaugurada em 21 de abril de 1960. Com curadoria de Danielle Athayde, Brasília – Da utopia à Capital apresenta obras provenientes de coleções brasileiras públicas e privadas e já circulou por várias capitais como Paris, Berlim, Moscovo, Londres e Roma. A mostra integra as comemorações do aniversário dos 64 anos da cidade, assinalado, precisamente, a 21 de abril de 2024.
A exposição será complementada com um ciclo de cinema – intitulado Brasília Viva -, a decorrer no Instituto Pernambuco-Porto de 1 a 4 de agosto, sempre às 19h30. Os temas a abordar incluem a história da cidade, a respetiva diversidade cultural e os principais desafios urbanos e sociais que enfrenta.
Este ciclo, de entrada livre, pretende proporcionar uma visão mais abrangente e multifacetada da cidade de Brasília para o público em geral. Todos os filmes foram produzidos ou rodados na capital do Brasil, que é, atualmente, um importante polo de produção audiovisual do país. O ciclo tem curadoria do realizador e produtor de cinema Ronaldo Duque.
A inauguração de Brasília – Da utopia à Capital está marcada para as 18h30 do dia 31 de julho. Depois deste momento, a exposição abrirá as portas ao público de segunda a sexta-feira, das 09h00 às 18h00. A entrada é livre.
Fonte: Notícias U.Porto
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Prescrição Cultural: nova UC da U.Porto prova que a Arte faz bem à Saúde
Disponível a partir do próximo ano letivo, a Unidade Curricular encara a Arte como uma ferramenta de promoção de saúde e bem-estar. Da esquerda para a direita: Carolina Guedes, Sofia Pais, Joana Cadima, Pedro Nobre, Joana Manarte e Joana Cruz
Foi com um forte contingente de docentes e de investigadoras que a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP) apresentou, no dia 19 de julho, na Reitoria da U.Porto, a nova Unidade Curricular de Competências Transversais e Transferíveis (CTT) de Prescrição Cultural. Moderada pelo Professor Pedro Nobre, Diretor da FPCEUP, a apresentação aconteceu durante o I Encontro Nacional sobre Prescrição Cultural, que reuniu especialistas das áreas da Saúde e das Artes e que refletiu sobre as evidências científicas de projetos que preveem “receitas” de contornos artísticos e culturais como ferramentas centrais na promoção da saúde e do bem-estar.
A nova Unidade Curricular estará disponível para todos os estudantes de Licenciaturas, Mestrados e Doutoramentos da U.Porto a partir do segundo semestre do próximo ano letivo. Constitui o eixo de Formação de um programa mais amplo de intervenção sistemática, que inclui também um eixo de Ação e um eixo de Investigação.
Presente nos três eixos, a FPCEUP organizará também formações para profissionais de saúde (nomeadamente médicos e psicólogos), mediadores culturais e artistas, apostando igualmente na consultoria, na monitorização de atividades e na medição dos seus impactos.
A equipa da FPCEUP inclui Carolina Guedes, Catarina Grande, Diana Alves, Joana Cadima, Joana Cruz, Joana Manarte e Sofia Pais.
Cultura (também) é SaúdeA criação da nova Unidade Curricular acontece na senda de vários projetos nacionais e internacionais, que envolveram docentes da FPCEUP, e que exploraram, ao longo dos últimos anos, a ideia da Arte como coadjuvante, numa lógica terapêutica e/ou de inclusão. Entre eles, estão os projetos ArtiCULan: Art, TIme, Culture and Language, levado a cabo em escolas primárias de vários países europeus; #NarcissusMeetsPandora, que explorava a relação de jovens com as redes sociais; ou ainda Cante Pela Sua Saúde, delineado para pessoas seniores (maioritariamente institucionalizadas), cuja terceira edição arranca no próximo mês de setembro.
Segundo um relatório da Organização Mundial da Saúde (O.M.S.), de 2019, a fruição e a participação cultural têm um impacto positivo na saúde e no bem-estar, na gestão e no tratamento de doenças ao longo da vida, e atua de forma preventiva ou remediativa junto de indivíduos ou de comunidades referenciadas.
Fonte: Notícias U.Porto
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Julho na U.Porto
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Para conhecer o programa da Casa Comum e outras iniciativas, consulte a Agenda Casa Comum ou clique nas imagens abaixo.
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Noites no Pátio do Museu
De 30 JUN a 31 JUL'23 | 21h30 Música, Poesia, Cinema, Conversa ...| Pátio do Museu de História Natural e da Ciência U.Porto Entrada Livre. Programa completo aqui
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Conversa para pensar… a Cidade
Conversa | Pátio do Museu de História Natural e da Ciência U.Porto Entrada Livre. Mais informações aqui
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Queijos franceses; pão e vinhos portugueses, com Hélio Loureiro
Gastronomia | Pátio do Museu de História Natural e da Ciência U.Porto Entrada Livre. Mais informações e inscrição aqui
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Silly Boy Blue + The Last Marquis
Música | Pátio do Museu de História Natural e da Ciência U.Porto Entrada Livre. Mais informações aqui
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ESPANTO - A Coleção Norlinda e José Lima em Diálogo com o Museu de História Natural e da Ciência da U.Porto
Entrada Livre. Mais informações aqui
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Sombras Que Não quero Ver #3
Entrada Livre. Mais informações aqui
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Gemas, Cristais e Minerais
Exposição | Museu de História Natural e da Ciência U.Porto Entrada Livre. Mais informações aqui
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CORREDOR CULTURAL DO PORTO Condições especiais de acesso a museus, monumentos, teatros e salas de espetáculos, mediante a apresentação do Cartão U.Porto.
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Quando é que 'Rei Lear' não é 'Rei Lear'? é a nova proposta da U.Porto Press
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Publicada pela Editora da U.Porto e pelo CETAPS, a obra debruça-se, em especial, sobre as adaptações da icónica tragédia de William Shakespeare. 'Rei Lear' não é 'Rei Lear'? é o título inaugural da coleção "New Perspectives|Novas Perspetivas", da U.Porto Press. Foto: U.Porto Press
Quando é que Rei Lear não é Rei Lear? Eis a questão misteriosa com que o autor, Peter Holland, desperta a curiosidade dos leitores, ao escolhê-la como título desta obra. Embora, provavelmente, não menos misteriosos, como defende o também docente da Universidade de Notre Dame, “Adaptando e não adaptando O Rei Lear para o cinema” ou “Quando é que uma adaptação de Rei Lear não é uma adaptação de Rei Lear” poderiam ter servido de subtítulo a este ensaio, que explora as adaptações da icónica tragédia de William Shakespeare.
Recentemente publicada pela U.Porto Press e pelo CETAPS – Centro de Estudos Ingleses, de Tradução e Anglo-Portugueses, esta é a obra inaugural da Coleção New Perspectives|Novas Perspetivas da Editora da Universidade do Porto (U.Porto).
Shakespeare e as culturas da adaptação
Peter Holland é visto como um dos maiores especialistas contemporâneos na obra de William Shakespeare por Rui Carvalho Homem, docente e Diretor do Departamento de Estudos Anglo-Americanos da Faculdade de Letras da U.Porto (FLUP), que organizou a publicação. Na introdução que assina para este ensaio, Carvalho Homem defende que, nele, o autor “aborda a consequência imaginativa do dramaturgo inglês da perspetiva das suas ‘adaptações’”, concentrando “a sua atenção nas adaptações de que foi objeto, em anos recentes, uma tragédia de Shakespeare em particular: O Rei Lear”.
Carvalho Homem clarifica o sentido de “adaptações” para Peter Holland: “as muitas instâncias de apropriação e recriação, maioritariamente por escritores e artistas do nosso tempo, de obras em regra canónicas – ou seja, de autores com lugares consagrados na história da literatura, do teatro ou de outras artes”.
Este ensaio debruça-se sobre os estudos de adaptação das peças de William Shakespeare, em especial O Rei Lear. (Foto: U.Porto Press)
O docente da FLUP destaca, também, fatores da modernidade que entende estarem presentes em O Rei Lear, quer pela construção das personagens, “marcadas por uma densidade psicológica correspondente a um entendimento do humano que tenderíamos a descrever como ‘moderno’”, quer pela “perceção e representação da velhice de Lear”. “A dramatização n’O Rei Lear da velhice e da loucura, como temas de notável candência nas sociedades do nosso tempo, é, então, um dos fatores de atração desta tragédia para os públicos que hoje encontra – como para os criadores que dela se apropriam para a adaptarem”, assinala Rui Carvalho Homem.
O também investigador do CETAPS refere, ainda, o facto de esta ser “uma das peças do cânone shakespeariano que de modo mais evidente nos confrontam com as incertezas textuais desse cânone”. Alude, assim, a edições divergentes e a um elevado número de variantes textuais que, contudo, “têm beneficiado do favor concedido pelo nosso tempo cultural e intelectual a objetos marcados pela incompletude ou truncamento”, dado serem perspetivados como “imaginativa e criticamente mais produtivos” do que se de textos “plenamente ‘acabados’, unos e íntegros” se tratasse.
Nas palavras de Rui Carvalho Homem, Peter Holland explora, neste ensaio, algumas adaptações e, particularmente, os seus atrativos, problematizando, em simultâneo, os seus limites. Debate, também, “os termos em que pode (…) imputar-se um nexo de derivação e consequência entre dois objetos – especificamente, entre uma peça de Shakespeare e um artefacto definido pelas condições plurimediais próprias do cinema”.
Salienta a “valia cultural e criativa de uma adaptação, autonomamente considerada face ao objeto que lhe está na origem”, considerando que os estudos de adaptação “ganham o seu lugar entre as áreas que produzem saberes na contemporaneidade”, já não sendo sujeitas a “juízos de menoridade”, tradicionalmente associados a “criações vistas como ‘derivativas’ e, portanto, supostamente desprovidas de ‘originalidade’”.
Em suma, “o estudo de adaptações é também fonte de uma compreensão mais profunda daquilo que foi objeto de adaptação; estudar adaptações de Shakespeare é também e fundamentalmente estudar Shakespeare em condições que maximizam, diversificam e (portanto) transformam a sua obra”, defende Rui Carvalho Homem.
Quando é que Rei Lear não é Rei Lear? está disponível na loja online da U.Porto Press, com um desconto de 10%.
Fonte: U.Porto Press
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Há novos podcasts no espaço virtual da Casa Comum |
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115. O Longo Silêncio do Anjo, Maria João Cantinho O Longo Silêncio do Anjo, de Maria João Cantinho, in O Silêncio dos Meninos Mortos (poemas portugueses contra o massacre do povo palestiniano), Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, col. Explicação das Árvores, dezembro de 2003
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83. Manuol Bandarra, pintor mirandés Manuol Bandarra ye l pseudónimo de Manuel Ferreira, pintor mirandés de Sendin que naciu nua família que, zde mui cedo, s’apuso a fazer muitas “cousas que nun sírben para nada”, a nun ser pul gusto i la proua que dá an fazé-las. Durante l lhargo camino, fazírun cumpanha uns als outros, para nun s’anfadáren a meio, cunta el. Amadeu i Carlos screbien suobre la sue pintura, el para se çforrar, pintaba suobre la scrita deilhes. Mas isso, son cuontas doutro rosairo, cun ouraçones mui cumplicadas de rezar i antender. La sue bida nada mais nun fui a nun ser esto: “cachicos de lhuç arramados an papelicos, que nun sírben para nada…” La sue arte maior ye la pintura de augarielhas que de cierta maneira lo lhebórun a ser galardonado l passado die 10, die de la Cidade de Miranda. Home de poucas palabras, nós fumos a falar cun el nua cumbersa que eiqui deixamos. Bien hábas Manuol por tanta i tan buona arte que mos pon prouistos anquanto mirandeses i mormente tous amigos. Antrebista de Alcides Meirinhos i Suzana Ruano (ALCM).
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Alunos Ilustres da U.Porto
António Ferreira de Azevedo
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António Ferreira de Azevedo nasceu a 11 de dezembro de 1889 na rua Marquês Sá da Bandeira, em Mafamude, Vila Nova de Gaia. Filho de Abílio Pereira de Azevedo, industrial, e de Francisca Ferreira Alves, doméstica, ficou órfão de pai com apenas um ano de idade. Depois de frequentar a Escola Primária das Estafinhas, realizou o exame de instrução primária do 2.º grau no Liceu Central do Porto (1900). Seguidamente matriculou-se na Escola Industrial do Infante D. Henrique, no Porto. No ano letivo de 1901-1902 completou os estudos técnicos e em outubro de 1902 matriculou-se, como aluno ordinário, no 1.º ano de Desenho Histórico da Escola de Belas Artes do Porto (antecedente da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto). Concluiu o 4.º ano em 1906 e o 3.º de Arquitetura e de Anatomia Artística e seguiu Escultura. Em outubro de 1910 inscreveu-se no 5.º ano de Escultura, tendo sido condiscípulo, entre outros, de José Sousa Caldas (1894-1965), Diogo de Macedo (1889-1959), Henrique Moreira (1890-1979) e Zeferino Couto (1890-1982). Em 1911 terminou o curso de Desenho Histórico e de Escultura, encontrando-se já habilitado com o 5.º ano do curso de Arquitetura Civil.
Enquanto estudante de Belas Artes no Porto fez parte do grupo que, em 1909, publicou a brochura solidária Miséria (1909) a favor dos pobres do Douro. Foram ilustradores Joaquim Lopes, Maria Ribeiro, José Maria Soares Lopes, Rodrigues Júnior, Henrique Moreira, Diogo de Macedo, J. Araújo Correia, Matos Lopes e Manuel Martins. Os textos são da autoria de Manuel Laranjeira, Alfredo Pimenta, Oldemiro César, Leonardo Coimbra, Pedro Vitorino, Emanuel Ribeiro, Simões de Castro, João Gonçalves e Vaz Passos.
Em 1910 concebeu uma maqueta em gesso para o concurso do Monumento à Guerra Peninsular do Porto. Contudo, acabou por não integrar o rol de concorrentes devido ao facto de a peça se ter partido durante o transporte de Vila Nova de Gaia para o Porto.
No verão de 1911 prosseguiu os estudos em Paris, financiado pela família. Aí conheceu o pintor e gravador japonês Léonard Tsuguharu Foujita (1886-1968), o escultor francês Joseph Bernard (1866-1931) e o artista plástico italiano Amadeo Modigliani (1884-1920), e conviveu com o Padre Amadeu Cerqueira de Vasconcelos (1879-1952), o escritor Aquilino Ribeiro (1885-1963), os colegas e amigos Diogo de Macedo e Armando Basto, e ainda com os pintores brasileiros Wasth Rodrigues (1891-1957) e José de Andrada.
Em 1914, com a eclosão da I Guerra Mundial, regressou a Portugal, trazendo na bagageira o busto Crepúsculo. Instalou-se na casa materna, sita na rua 14 de outubro, em Vila Nova de Gaia, perto da qual montou atelier e produziu os primeiros trabalhos.
O artista participou em várias exposições modernistas como, por exemplo, na mostra do Grupo dos Humoristas que decorreu no Porto (Jardim Passos Manuel) em 1915, onde apresentou 16 desenhos; no Salão de Modernistas do Porto, de 1916 e de 1919; e no I Salão de Independentes na Sociedade Nacional de Belas Artes (Lisboa, 1930).
No Verão de 1919 viajou até Paris com Joaquim Lopes (1886-1956).
Em 1921 envolveu-se na renovação da Sociedade Nacional de Belas Artes, no Porto. Em 1925 apresentou a sua primeira exposição individual, no Salão Silva Porto, onde expôs 12 peças em mármore e bronze. Integrou a comissão técnica do Grupo de Amigos do Mosteiro da Serra do Pilar e encetou uma longa carreira de docência no ensino técnico na Escola Faria Guimarães (mudou-se, mais tarde, para a Escola Industrial Infante D. Henrique, também no Porto e, por fim, para a Escola Industrial Francisco de Holanda, em Guimarães, onde, além de lecionar, desempenhou assumiu o cargo de diretor).
Em 1931 fixou-se definitivamente em Guimarães, onde se casou com Maria Emília Verde Gomes Machado Falcão. Em 1932 integrou a Comissão Estética da Câmara de Guimarães (renomeada Comissão de Arte e Arqueologia em 1950) e a Comissão Central das Comemorações das Festas Centenárias de 1940. Inaugurou o monumento a Martins Sarmento, que é de sua autoria (1933), e a fonte decorativa Faunito ou Fonte do Sátiro (1934). Em 1935 homenageou o gravador Molarinho num monumento situado no Largo Condessa do Juncal. O projeto de arquitetura foi por si concebido; o medalhão brônzeo é da autoria de António Teixeira Lopes (1935).
Participou na preparação das Festas Milenárias comemorativas da fundação do burgo vimaranense por Mumadona Dias e da elevação de Guimarães a cidade (1953).
Foi delegado da Junta Nacional de Educação no concelho de Guimarães (nomeação de 1949) e também trabalhou como arquiteto e urbanista, tendo sido responsável, a título de exemplo, pela transformação do Jardim do Carmo, a recuperação do Recolhimento das Trinas e o arranjo dos largos dos Laranjais, de S. Francisco e do Toural.
Fora de Guimarães integrou a comissão presidida por Aarão de Lacerda destinada a inventariar os prédios de interesse público a classificar no Porto. Esteve representado no Pavilhão de Portugal da Exposição Internacional de Paris (1937).
António Ferreira de Azevedo aposentou-se em maio de 1959. Foi distinguido com o grau de Oficial da Ordem de Instrução Pública, em 1957, e homenageado na Assembleia Municipal de Guimarães em 1965.
Faleceu em Guimarães no dia 18 de abril de 1968 e foi sepultado no cemitério de Atouguia.
Deixou esculturas espalhadas por vários municípios do norte de Portugal, como em Vila Nova de Gaia, Guimarães, Braga, Vila Nova de Famalicão, Felgueiras, Baião e Vila Flor. Está representado no Museu de Alberto Sampaio e no Arquivo Municipal Alfredo Pimenta (Guimarães), no Museu Nacional Soares dos Reis (Porto), no Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso (Amarante), no Museu do Abade de Baçal (Bragança) e na Fundação Cupertino de Miranda (Vila Nova de Famalicão).
No centenário do seu nascimento, o Museu de Alberto Sampaio organizou uma exposição retrospetiva da sua obra, e Adelino Ângelo pintou o seu retrato.
No âmbito do Programa Constelações, da Guimarães 2012 - Capital Europeia da Cultura, a Assembleia Municipal de Guimarães e a associação Muralha desenvolveram um projeto de estudo e divulgação da vida e obra de António Ferreira de Azevedo Em 2013 foi inaugurado um monumento de granito no Largo Cónego José Maria Gomes, Guimarães, em homenagem ao escultor, da autoria de Vina Paredes.
Sobre António Ferreira de Azevedo (up.pt)
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