E TODOS VIMOS FORMAR-SE-LHE UM PENSAMENTO
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Sempre que posso, vou ao Batalha. Desde que reabriu, em dezembro de 2022, tem vindo a afirmar-se como um farol que irradia pensamento. Não perco, em especial, as sessões com realizadores, atores e críticos. Foi assim que, numa palestra com Jan Baetens, antes da projeção de La Jetée, entendi como nasceu e foi disseminada a cine-fotonovela; numa sessão de visualização de Rehab, com a presença dos realizadores Bêka & Lemoine, percebi, a partir do exemplo do hospital de reabilitação desenhado por Herzog & de Meuron, como a arquitetura pode ajudar a criar espaços de cuidado para os mais vulneráveis; e no sábado passado, na sessão que precedeu a projeção de The Thoughts that Once We Had, de Thom Andersen, com a participação de José Gil e Nuno Crespo, compreendi melhor o quadro em que se desenvolveu o pensamento de Gilles Deleuze. Na apresentação de José Gil, Nuno Crespo salientara o conhecimento profundo que o filósofo português tem de Deleuze, tendo assistido aos cursos que o filósofo francês deu em Vincennes (atual Université Paris 8) nos anos 70 e 80. Ao longo da sua intervenção, José Gil sublinhou o contributo importantíssimo que Deleuze deu à Filosofia, defendendo que o seu pensamento está ainda por descobrir em muitos fóruns académicos: “Há diversos grupos de investigação dedicados ao estudo de Michel Foucault, Jacques Derrida e Roland Barthes, mas poucos inteiramente votados a Gilles Deleuze”, esclareceu. “Paris fervilhava, nessas duas décadas extraordinárias pós-Maio de 68, com as ideias destes filósofos, que ofereciam cursos e seminários em diferentes universidades. Havia uma espécie de rivalidade entre eles. Sentiam-se na obrigação de, todas as semanas, apresentar ideias novas. E aí, Deleuze distinguia-se. Não trazia um pensamento feito para oferecer”.
“Deleuze não entrou para a história da filosofia”, afirmou José Gil, “porque não queria ser nela inserido. Entrar para a história é congelar, e há mobilidade nos conceitos que propunha. A novidade dos cursos de Deleuze residia na surpreendente experimentação de novos conceitos. Partindo de uma crítica à psicanálise, à linguística, à filosofia, Deleuze aproveitava tudo para pensar a vida e a sociedade – e todos viam o seu pensamento a ser construído à medida que a sessão decorria”.
“Falava calmamente, fazia pausas, raciocinava”, explicou o filósofo. “Acolhia as intervenções do público e integrava-as no seu raciocínio. Fazia comentários repletos de humor – em relação a tudo. Não apresentava, nas sessões do curso, obra construída, mas o próprio movimento de construção da obra. Os conceitos que trazia eram irrigados pela vida – não eram abstratos, mas móveis – e tornava visíveis as relações internas que os ligavam a outros conceitos. Deleuze mostrou que havia uma nova forma de pensar. A sua pedagogia era extraordinária: mostrava como a vida irriga os conceitos – a sua inventividade era infinita”.
Nuno Crespo interrompeu José Gil, nesse momento, para lhe dizer que, enquanto aluno do filósofo português na Universidade Nova, tinha sido testemunha de uma pedagogia semelhante. José Gil, que, em toda a sessão, recusara falar de si, alegando que a sessão pretendia ser uma homenagem a Deleuze, desviou a conversa. No final da sessão (uma verdadeira Lição), confirmámos o fundamento do comentário de Crespo. Perante uma pergunta vinda do público sobre a utilidade dos conceitos de Deleuze para compreendermos a formação dos movimentos neofascistas, José Gil começou: “Na Alemanha...” – e depois de algumas frases, fez uma pausa. “Por outro lado...” – e mais algumas frases. Breve silêncio. “Mas, pensando bem....” – e todos, na plateia, vimos formar-se-lhe um pensamento.
Ouvindo-o, refleti: os melhores professores que tive não foram os que tinham as respostas prontas, mas os que construíam um pensamento a partir das perguntas que lhes colocávamos. José Gil tem razão: essa é uma pedagogia extraordinária.
Fátima Vieira Vice-Reitora para a Cultura e Museus
Nota: Felizmente, os Cursos de Gilles Deleuze foram gravados e transcritos, encontrando-se disponíveis aqui.
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O IndieJúnior traz o melhor Cinema Infantil e Juvenil à U.Porto
A Universidade do Porto vai ser um dos palcos da 9.ª edição do Festival Internacional de Cinema Infantil e Juvenil do Porto. No dia 31 de janeiro, a Casa Comum (à Reitoria) vai exibir e debater três “Filmes Feitos em Comunidade”. Foto: DR
Oferecer diferentes perspetivas sobre a ideia de comunidade é o principal objetivo da 9.ª edição do IndieJúnior – Festival Internacional de Cinema Infantil e Juvenil do Porto, a decorrer entre os dias 27 de janeiro e 2 de fevereiro. À semelhança de edições anteriores, o festival deste ano vai passar por diversos espaços da Universidade do Porto, que volta a apoiar o certame através da atribuição do Prémio Impacto. Espelhando os mais diversos contextos, tais como migrações, guerras e agressões contra crianças em várias partes do globo, os filmes selecionados, mais de 50, pretendem criar espaços de reflexão sobre como robustecer o espírito da construção coletiva, da empatia e da vida em comunidade.
Os filmes vão entrar com competição, nomeadamente na disputa do Prémio Impacto, oferecido pela Reitoria da U.Porto e que pretende distinguir um filme pela importância temática, cuidado estético e criatividade. O júri será constituído por elementos da universidade e jovens estudantes do ensino secundário
Vamos ao programa?
Dia 30 de janeiro, às 11h00, terá lugar um filme-debate na Casa Comum. Após a exibição de Regras do Jogo, de Christian Zetterberg, haverá espaço para uma conversa sobre adolescência, identidade, regras e convenções. Quem dita as leis? Até que ponto importa a forma como os outros nos veem? Que impacto têm essas opiniões? A conversa contará com a colaboração do Plano Nacional das Artes (PNA). No dia seguinte, 31 de janeiro, às 18h00, a Casa Comum será espaço de encontro com “Filmes Feitos em Comunidade”. Serão apresentados três projetos cinematográficos desenvolvidos em contextos de comunidade – Percebes (Alexandra Ramires e Laura Goncalves), As Cores do Oceano (Associação de Ludotecas do Porto e alunos da EB de São João de Deus) e Conseguimos Fazer um Filme (Tota Alves). Logo após a exibição haverá um espaço de partilha de experiências com o público.
Na rubrica O Meu Primeiro Filme, que se dedica a mostrar clássicos de cinema, a Vice-Reitora para a Cultura e Museus da U.Porto escolheu O Feiticeiro de Oz, de Victor Fleming. Será no dia 1 de fevereiro, às 15h45, no Centro Cinema Batalha, que Fátima Vieira vai partilhar as memórias e a importância que este filme teve na sua vida de “palmo e meio”.
O Feiticeiro de Oz é a escolha da Vice-Reitora Fátima Vieira (na foto) para O meu Primeiro Filme. Passa dia 1 de fevereiro, às 15h45, no Batalha Centro Cinema.
No total, o programa da 9.ª edição do IndieJúnior inclui a exibição de 57 filmes em vários espaços da cidade do Porto (Batalha Centro de Cinema, Biblioteca Municipal Almeida Garrett, Coliseu Porto Ageas, Maus Hábitos e Casa Comum). Dos filmes a concurso, 44 são curtas metragens e 10 são portugueses. Todas as informações sobre o Festival podem ser consultadas em www.indiejunior.com.
Cinema com Ciência na Galeria da Biodiversidade
Também no âmbito da 9.ª edição do IndieJúnior , e a pensar nos grupos escolares e nas famílias, o Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto (MHNC-UP) preparou uma seleção de oficinas a decorrer na Galeria da Biodiversidade – Centro Ciência Viva. A primeira oficina, intitulada Ligações Vivas: A Comunidade Biótica, vai acontecer dias 28 de janeiro (das 10h00 às 11h00 e das 11h30 às 12h30) e 2 de fevereiro (das 10h00 às 11h00 e das 11h30 às 12h30).
De forma a compreendermos melhor as relações entre os seres vivos que fazem parte de uma comunidade biótica, partir-se-á da curta-metragem A Carpa e a Criança, de Arnaud Demuynck e Morgane Simon, para construir uma Teia Alimentar, que permitirá aos participantes explorar as interações entre diferentes espécies que coexistem num determinado habitat, neste caso um lago. Nesta teia alimentar, vamos identificar e representar os seres vivos que surgem no filme e descobrir como se relacionam entre si. Quem é o predador? Quem é a presa? Esta atividade ajuda-nos a perceber como os ecossistemas funcionam e a importância de cada ser vivo no seu conjunto. Vamos perceber que as comunidades bióticas são sistemas complexos e interligados.
Um Mundo Como o Nosso é o título de uma das oficinas que vai decorrer na Galeria da Biodiversidade – Centro Ciência Viva. (Foto: DR)
Um Mundo Dentro de Outro: Explorar os Ecossistemas é o título da atividade que vai decorrer dia 29 de janeiro, das 10h00 às 11h30. No nosso planeta existe uma incrível diversidade de formas de vida, organizadas em comunidades biológicas que interagem entre si e com o ambiente – os chamados ecossistemas. Cada ecossistema é único, mas todos têm uma coisa em comum: a interdependência. Nesta atividade, a missão será explorar esses sistemas e perceber o papel de cada elemento que deles faz parte. Ainda no dia 2 de fevereiro, das 15h00 às 16h00, Num Planeta como o Nosso é o nome da oficina destinada a famílias com crianças a partir dos 5 anos. Todos vão tentar descobrir o que está a pôr em perigo o planeta e o que podemos fazer para o ajudar.
A participação nestas oficinas é gratuita, mediante inscrição prévia (com vagas limitadas) e obrigatória para o e-mail s.educativo@mhnc.up.pt
Fonte: Notícias U.Porto
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Prescrição Cultural: nova unidade curricular chega no segundo semestre
A "Prescrição Cultural" é uma das unidades curriculares "Cultura, Arte e Património" que vão arrancar em fevereiro. Inscrições abertas. A sessão de apresentação da nova unidade curricular decorreu no âmbito do I Encontro Nacional sobre Prescrição Cultura, realizado na Reitoria da U.Porto. (Foto: DR)
Partindo do princípio de que as artes desempenham um papel importante na promoção da saúde, poderá um profissional de saúde utilizar a cultura como terapêutica? E estarão os profissionais da cultura preparados para desenvolver abordagens que ajudem a manter um equilíbrio existencial, promovendo o bem-estar? É a este desafio que a nova unidade curricular de Prescrição Cultural da Universidade do Porto pretende responder já a partir de fevereiro, Sediada na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação (FPCEUP), esta nova Unidade Curricular Cultura, Arte e Património dirige-se a todos os estudantes que estejam inscritos no 2.º ou 3.º ciclos de estudo de Psicologia, Saúde, Artes Plásticas, Museologia, História da Arte ou Ciências da Educação, ou no 4.º ou 5.º ano de um curso de mestrado integrado em medicina da U.Porto.
A primeira edição da unidade curricular acontece já no 2.º semestre do ano letivo de 2024/25 e pode ser frequentada como disciplina opcional nos cursos que prevejam opções CTT/U.Porto nos seus planos de estudo, ou então como formação complementar.
À semelhança das restantes unidades curriculares Cultura, Arte e Património, a “Prescrição Cultural” tem como ponto forte a sua multidisciplinariedade. “As sessões vão ser ora experimentais, ora reflexivas, ora mais teóricas e expositivas, e vão ser dadas em diferentes espaços da cidade do Porto”, apresenta Joana Manarte, investigadora no Centro de Investigação e Intervenção Educativas (CIIE) da FPCEUP, artista e uma das responsáveis pela unidade.
A nova UC aposta ainda numa “equipa docente constituída por profissionais com as mais diversificadas experiências”, daí resultando um programa onde cabem áreas tão diversas como a a psicologia, filosofia, história da arte, medicina, teatro, música, poesia, dança ou museologia.
. “Tudo isto vai proporcionar uma experiência muito gratificante e integradora daquilo que é a relação entre cultura, arte e saúde“, esclarece Joana Manarte. Aulas fora da academia
Resultado de uma colaboração entre a U.Porto e o Teatro Nacional São João, o Museu Nacional de Soares dos Reis e a Casa da Música, as unidades curriculares de Cultura, Arte e Património estão disponíveis para todos os estudantes interessados em abrir as perspetivas de estudo e aprendizagem para além da formação clássica de base. A inscrição nestas unidades curriculares como disciplinas opcionais do 2.º semestre implica a substituição de uma unidade curricular em que o estudante se tenha inscrito no início do ano letivo. Os estudantes interessados devem contactar os serviços académicos da sua faculdade.
A Volta ao Palco em 80 horas: o Teatro como espaço de aprendizagem é a proposta que vai levar os estudantes à descoberta de tudo o que se passa “por trás do pano” do Teatro Nacional de São João (TNSJ). Como funciona um teatro? Que profissões pode abarcar? Como “encarnar” o ato de representar uma personagem ou um texto? A docente responsável pela unidade é Maria Luísa Malato, da Faculdade de Letras da U.Porto (FLUP).
Música e Sociedade é o programa que vai revelar o que se passa nos bastidores do palco. Os estudantes vão conhecer e acompanhar músicos, compositores, maestros e programadores e ter acesso a “ferramentas” que permitirão uma melhor “fruição musical”. Gilberto Bernardes é o docente da Faculdade de Engenharia da U.Porto que coordena a disciplina. Os estudantes podem inscrever-se até 2 de fevereiro de 2025.
Fica a faltar a aventura pelos corredores e pelas reservas de um museu. Como se faz a comunicação de um museu? Como trabalham os profissionais do restauro? Como se pensa, prepara e desenvolve a curadoria de uma exposição? As respostas ficarão a cargo da unidade curricular O Museu como Lugar de Fruição, resultado da parceria da U.Porto com o Museu Nacional de Soares dos Reis.
Os estudantes interessados devem integrar estas unidades curriculares – que valem 3 ECTS – na componente opcional do curso de licenciatura ou mestrado, ou como complemento de formação, independentemente da área de estudos.
As unidades curriculares Cultura, Arte e Património destinam-se unicamente a estudantes inscritos na Universidade do Porto, têm a duração de um semestre e a respetiva frequência é gratuita.
Para inscrições e mais informações, consultar a página do programa.
Fonte: Notícias U.Porto
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Janeiro na U.Porto
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Para conhecer o programa da Casa Comum e outras iniciativas, consulte a Agenda Casa Comum ou clique nas imagens abaixo.
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O nome igual nos dois? Um receituário para a Liberdade na coleção Manuel Brito
Entrada Livre. Mais informações aqui
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O Nome Igual Nos Dois? | Visitas guiadas à exposição
Até 25 JAN'25 | Quartas e Sextas-feiras às 15h00 Visita Guiada | Casa Comum Entrada Livre. Mais informações aqui
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Pedra, Papel, Guerra — Arqueologia da Litografia em Portugal
Exposição | Reitoria da U.Porto Entrada Livre. Mais informações e inscrição aqui
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7 contos esculturas | Exposição
Entrada Livre. Mais informações aqui
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Colectivo de Poesia - Poetas a várias vozes na Casa Comum | Al Berto
Entrada Livre. Mais informações aqui
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IndieJúnior Porto | Filme Debate – Identidade, Regras e Convenções
Cinema, conversa | Casa Comum Entrada Livre. Mais informações aqui
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IndieJúnior Porto | Encontro – Filmes Feitos em Comunidade
Entrada Livre. Mais informações aqui
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Gemas, Cristais e Minerais
Exposição | Museu de História Natural e da Ciência U.Porto Entrada Livre. Mais informações aqui
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Ensaios | Exposição
Entrada Livre. Mais informações aqui
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PAISAGENS CONSTRUÍDAS
Exposição | Fundação Marques da Silva
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Corredor Cultural
Condições especiais de acesso a museus, monumentos, teatros e salas de espetáculos, mediante a apresentação do Cartão U.Porto.
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Vencedores do concurso de Escrita Criativa da FEUP no próximo número da Revista PÁ POESIA & OUTRAS ARTES
As obras que resultaram deste Concurso de Escrita Criativa, dentro dos géneros literários prosa e poesia, vão ser publicadas na Revista PÁ No âmbito das celebrações dos 50 Anos do 25 de Abril, a comunidade da FEUP foi convidada a refletir sobre o tema da “Liberdade”. Sobre que fizemos e o que fazemos com ela. As obras inéditas que resultaram deste Concurso de Escrita Criativa obedecem aos géneros literários da prosa, poesia e banda desenhada. Com a exceção da banda desenhada, estes trabalhos serão publicados no próximo número (dois) da Revista PÁ POESIA & OUTRAS ARTES. Na categoria da Prosa, o primeiro prémio foi atribuído a Um lugar Comum. Neste texto, Abel Dantas fala-nos de um lugar cercado por muralhas de medo e solidão para nos lembrar que são sombras, o que tantas vezes julgamos ser real. Que é preciso que acreditemos na energia de quem nos rodeia para ressignificarmos a porta de saída da muralha. "O homem que esteve aqui mostrou-nos que tudo o que precisamos já está aqui, mas recusamos ver isso. Eu fui procurá-lo, para compreender melhor. Entretanto, partilhem o que têm e talvez encontrem mais do que aquilo que perderam."
Ainda na Prosa,
Afonso José Pereira Couto apresentou Fogo que Arde sem se Ver com o qual, obteve uma Menção Honrosa. Diz ser uma homenagem à obra Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago, fazendo ainda, claro está, uma direta alusão a um dos mais famosos poemas, escrito em língua portuguesa, pela mão de Luís Vaz de Camões. Antes de nos convidar a "arder no fogo", Afonso Pereira reflete, connosco, sobre o facto de os livros serem "objetos unidimensionais". Isto no sentido em que um "texto flui num sentido apenas, uma corrente da qual escapar é fútil, pois nada mais existe no mundo narrativo a não ser a corrente. É um rio tirano que tudo leva". Ora, para nos dar a opção de contrariar o fluxo desse rio, o autor oferece opções que nos permitem "lutar contra essa tirania". Como? Criado hiperligações: "basta um clique na escolha a ser feita, e as personagens obedecer-lhe-ão". Desta forma o leitor pode "vivenciar", ou contornar a corrente do texto.
Outra Menção Honrosa foi para E se as Luas de Saturno Fossem Jaulas Metálicas? Nesta prosa, José Nuno Barbosa Quintas acelera as cordas do relógio e faz a transposição para um cenário futurista. Estamos perante um documento confidencial "retirado dos Arquivos Públicos do Império da Terra" com acesso limitado à "permissão de um membro do Absoluto Governo da Terra com autoridade A-3 ou superior". Transgredindo as instruções, abrimos as páginas do diário do ano de 2230 de Daniela Silva. Esta cidadã do Império da Terra trabalhou num centro de operações de "Extração de Trítio", a orbitar o planeta de Saturno. Prescindindo de fontes renováveis ou alternativas para produzir energia na Terra, passou a ser Saturno a fornecer o material necessário aos Reatores de Fusão Nuclear (recentemente descoberta). O certo é que todas as pessoas mencionadas no documento desaparecem. O que terá acontecido?
Na Poesia, o primeiro prémio foi para Simão Pedro de Sousa Macedo, pelo trilho de pétalas de cravo que seguiu, para mostrar a difícil conquista da Liberdade (título do poema). Foram ainda atribuídas duas Menções Honrosas, uma delas a Inês da Assunção Aparício Pereira por A Palavra que, embora "fugitiva", acaba por cair "dentro de um texto". Isto porque é preciso "Treinar a Liberdade". A outra Menção Honrosa foi para Memória, de Beatriz Mateus, que nos deixa com uma pergunta: "Como lembrar o que não se viveu?"
A submissão de propostas para o número dois da Revista PÁ POESIA & OUTRAS ARTES decorre até ao próximo dia 28 de janeiro. Mais informações aqui: U,Porto dedica segundo número da Revista PÁ ao Bem-Estar.
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Há novos podcasts no espaço virtual da Casa Comum |
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136. A Nuvem e a Montanha, José Tolentino de Mendonça
“A Nuvem e a Montanha”, de José Tolentino de Mendonça, in Introdução à pintura rupestre, outubro de 2021,
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92. La raposa i la ciguonha
“Quien apouca ls outros, puode acabar apoucado pula própia sperteza.” * “La raposa i la ciguonha”, de las fábulas d’Eizopo. De las * “Fábulas de la Fontaine”, ua ediçon de Teófilo Braga, la mesmo cuonta, mas an berso, traduzida i adaptada pa l pertués por Curvo Semedo. Traduçon pa l mirandés de Alcides Meirinhos.
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U.Porto Press publica primeiro Referencial Lexical para Português Língua Estrangeira
RefLex PLE pretende colmatar uma lacuna identificada no ensino e investigação relacionada com o Português Língua Estrangeira e destina-se a professores, investigadores e estudantes. A obra foi recentemente publicada pela U.Porto Press, na coleção Uma Língua com Vista para o Mar. Estudos de Língua Portuguesa, com o apoio do Núcleo de Promoção da Língua Portuguesa da Reitoria da U.Porto. / FOTO: U.Porto Press
O que é um referencial lexical? É “um instrumento ou um recurso que visa organizar e padronizar o uso de vocabulário em determinados contextos”. A quem se destina? A professores, investigadores, estudantes (não nativos), mas também a autores de manuais, de programas de ensino, responsáveis por plataformas online ou jogos didáticos.
RefLex PLE — Referencial lexical para o português língua estrangeira: um recurso para professores e investigadores de PLE/L2 nasceu por iniciativa de Jorge Pinto, Nélia Alexandre e Ana Espírito Santo, docentes e investigadores na área da Linguística.
É o primeiro referencial lexical para o ensino de português como língua estrangeira (PLE) e foi recentemente publicado pela U.Porto Press, na coleção Uma Língua com Vista para o Mar. Estudos de Língua Portuguesa, com o apoio do Núcleo de Promoção da Língua Portuguesa da Reitoria da Universidade do Porto (U.Porto).
Reflex ple: origem, objetivos e utilidade
Os referenciais lexicais revestem-se de particular utilidade se atendermos ao facto de o estudo de uma língua envolver, também, o conhecimento de “vocabulário essencial que permita aos aprendentes (falantes não nativos) serem capazes de interagir de forma eficaz em diferentes contextos sociais, académicos e culturais”. Por outro lado, Jorge Pinto, Nélia Alexandre e Ana Espírito Santo defendem que “o estabelecimento de um vocabulário comum para cada nível de proficiência linguística”, definido pelo Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (QERC) e pelo Common European Framework of Reference for Languages (CEFR), “é fundamental para garantir que, em cada etapa de ensino ou de aprendizagem do PLE, o léxico que está na base das unidades de ensino é introduzido, contribuindo para a uniformização de práticas e permitindo aos aprendentes (…) estudarem em diferentes níveis e em locais e momentos distintos sem serem penalizados por isso”.
RefLex PLE — Referencial lexical para o português língua estrangeira: um recurso para professores e investigadores de PLE/L2 surgiu para “colmatar uma lacuna identificada no ensino e investigação relacionada com o PLE”, atendendo a que não existia, “até à data, um recurso acessível aos profissionais que ensinam PLE, nem aos autores de manuais e investigadores”, que identificasse “palavras e colocações esperadas nos diferentes níveis de proficiência linguística”.
“RefLex PLE” é o primeiro referencial lexical para o ensino de PLE e dirige-se, em especial, a professores, investigadores e estudantes. (Foto: U.Porto Press)
Para além da definição de um referencial lexical, nas suas notas introdutórias a esta obra os autores especificam a utilidade do RefLex PLE: “visa funcionar como um referencial lexical para o PLE, estando baseado no QECR (2001) e no CEFR – Companion Volume (2020), alinhado com o Referencial Camões PLE (2017) e inspirado na abordagem comunicativa de ensino de línguas (Canale & Swain, 1980)”. Partindo do princípio de que a língua está “em constante evolução”, apresentam-no como “uma ferramenta dinâmica, flexível e adaptável a diferentes abordagens metodológicas do ensino de PLE, auxiliando na construção de um repertório lexical que deve favorecer a compreensão e a expressão oral e escrita em português”.
Segundo Isabel Margarida Duarte, Professora Catedrática da Faculdade de Letras da U.Porto, que também se dedica às áreas de linguística e PLE/Português Língua Não Materna, este é um documento “cientificamente bem pensado, prático e simples”, que inspira confiança, e ao qual vaticina “uma vida longa, viagens por todos os cantos do mundo, os mais variados utilizadores, das mais desvairadas línguas maternas”.
RefLex PLE está disponível na loja online da U.Porto Press, com um desconto de 10%.
Sobre os autores
Jorge Pinto é Professor Associado do Departamento de Linguística Geral e Românica da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), onde leciona e desenvolve a sua investigação na área da linguística educacional, nomeadamente do ensino/aprendizagem de português língua estrangeira/língua segunda (PLE/L2) em diferentes contextos, e da aquisição de português como L3/Ln. É investigador integrado do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa (CLUL), nas mesmas áreas, e coordenador pedagógico de cursos de PLE/L2 no Instituto de Cultura e Língua Portuguesa (ICLP). Nélia Alexandre é Professora Associada do Departamento de Linguística Geral e Românica da FLUL, onde leciona e desenvolve investigação na área da linguística comparada, língua cabo-verdiana, português em contacto (em África) e aquisição de L2. É investigadora integrada do CLUL e diretora do Centro de Avaliação e Certificação do Português Língua Estrangeira (CAPLE), integrando o grupo de trabalho do Plano Estratégico para a Aprendizagem da Língua Portuguesa (Agência para a Integração, Migrações e Asilo – AIMA).
Ana Espírito Santo é subdiretora do CAPLE e Professora Adjunta Convidada na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Lisboa. Doutorada em Linguística, na área da aquisição da sintaxe do português como língua não materna (L2), desenvolve trabalho de investigação no CLUL. As suas áreas de interesse incluem a aquisição de português como língua estrangeira/ L2, a aquisição de português como língua de herança e a avaliação e certificação de português como língua estrangeira.
Fonte: U.Porto Press
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Alunos Ilustres da U.Porto
António Soares dos Reis
Considerado um dos maiores escultores portugueses do séc. XIX, António Manuel Soares dos Reis nasceu a 14 de outubro de 1847, na freguesia de S. Cristóvão de Mafamude, Vila Nova de Gaia. Era filho de Manuel Soares Júnior, proprietário de uma tenda de mercearia a retalho, e de sua mulher, Rita do Nascimento de Jesus. Educado em rígida disciplina familiar, Soares dos Reis frequentou as aulas de instrução primária na Escola do Matos, no Cabeçudo, ao mesmo tempo que auxiliava o pai na tenda como marçano. Desde cedo se fizeram notar os seus dotes artísticos. Às escondidas do pai, talhava pequenos bonecos em madeira e modelava santinhos de barro que expunha ao Sol, no quintal. Essas figuras foram notadas pelo vizinho Diogo de Macedo e pelo pintor Resende que convenceram o pai de Soares dos Reis a enviá-lo para a Escola de Belas Artes. Foi assim que, em 1861, com apenas 14 anos, se matriculou na Academia Portuense de Belas Artes. Durante a frequência do curso colheu prémios e louvores.
Em poucos anos o curso estava concluído, obtendo o 1.º prémio nas cadeiras de desenho, arquitetura e escultura.
Aos 20 anos tornou-se pensionista do Estado no estrangeiro. Em 1867 partiu para Paris, onde frequentou o atelier de M. Jouffroy e a École Impériale et Spéciale des Beaux Arts. Também aqui Soares dos Reis alcançou a classificação de n.º 1 do curso, distinção que levou os seus colegas a batizá-lo com o epíteto de voleur des prix.
Mas a eclosão da guerra Franco-Prussiana obrigou-o a regressar ao país. Por instâncias dos seus professores da Academia Portuense foi enviado para Roma, a fim de completar o período de pensionato. Soares dos Reis chegou à Cidade Eterna em 1871 e foi aqui que executou uma das suas obras mais românticas e originais, o Desterrado.
Chegado a Portugal em 1872, Soares dos Reis foi recebido pelos seus conterrâneos com aplausos e admiração, sendo nomeado Académico de Mérito da Academia Portuense de Belas Artes. Até 1880, o escultor produziu, expôs e foi reconhecido por diversos trabalhos. Foi um dos fundadores do Centro Artístico Portuense, organismo que muito contribuiu para a difusão das artes plásticas no país. Em 1881 foi nomeado professor titular da Academia Portuense de Belas Artes, esforçando-se sempre por renovar e impulsionar o ensino da Escultura.
O Desterrado, de António Soares dos Reis (1847-1889). Escultura em mármore de Carrara, produzida em Roma, em 1872, da coleção do MNSR.
O nome e a fama do escultor iam criando sólidas raízes em todo o país e a sua presença era solicitada para executar vários trabalhos de vulto, entre os quais se destacam as estátuas de Afonso Henriques e de Brotero, bem como os bustos de diversas personalidades. Mas a par do reconhecimento veio a calúnia. Em 1881 participou na Exposição Geral de Belas Artes de Madrid com o Desterrado, recebendo o 1.º prémio e a condecoração por Afonso XII de Espanha com o grau de cavaleiro da Ordem de Carlos III. Foi então que o escultor foi acusado de não ser o verdadeiro autor da peça. O escândalo e a polémica desencadeados pela publicação de um artigo de jornal de Lisboa provocaram grande consternação no artista. Contudo, Soares dos Reis continuou a trabalhar e a sua credibilidade artística foi reposta. Mas, a partir daqui, o artista começou a apresentar sintomas de debilidade física. Sofria de perturbações cerebrais e de irritabilidade que o levaram frequentemente ao isolamento. Entretanto, em 1885, aos 38 anos, decidiu casar-se com Amélia Aguiar de Macedo. Deste casamento nasceram dois filhos, Raquel e Fernando. Porém, também na vida familiar o escultor foi infeliz. Os desentendimentos com a jovem esposa eram frequentes, devido às diferenças de carácter, de educação e, sobretudo, de idade.
Aos problemas familiares somaram-se ainda os trabalhos recusados e as calúnias de que fora alvo, que afetaram substancialmente o seu estado de saúde.
Sentindo-se incompreendido pelos que o rodeavam, Soares dos Reis decidiu pôr termo à vida. A 16 de Fevereiro de 1889 suicidou-se no seu atelier com dois tiros de revólver, deixando escrito numa das paredes, o seguinte: "Sou cristão, porém, nestas condições, a vida para mim é insuportável. Peço perdão a quem ofendi injustamente, mas não perdoo a quem me fez mal". Tinha 42 anos.
Não obstante a sua curta vida, é opinião unânime que Soares dos Reis ocupa um lugar fundamental na história da arte portuguesa, tendo contribuído com a sua obra para o desenvolvimento e enriquecimento do património artístico nacional.
Texto de Carla Sofia Trindade, FLUP, 2008
Sobre Soares dos Reis (up.pt)
https://mnsr.museusemonumentospt.pt/evocacao-dos-135-anos-da-morte-de-antonio-soares-dos-reis/
https://mnsr.museusemonumentospt.pt/colecao/o-desterrado-antonio-soares-dos-reis/
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