AULA DO VISÍVEL: ÚNICA E IRREPETÍVEL

​​EU University & Culture Summit / Day 1, Afternoon

Foi o Eng.º Ilídio Pinho quem me chamou a atenção para o assunto. Quando lhe perguntei qual dos quadros da exposição Aula do Visível é o seu preferido, não hesitou: “É a Maternidade, de Almada Negreiros. Tenho-o em casa, intencionalmente em frente da porta de entrada. Quando, ao final de cada dia, regresso a casa, encontro sempre nesse quadro coisas diferentes, e nunca deixo de me espantar com a beleza da mulher grávida”.


Quis ver o quadro. É uma das muitas declinações que Almada Negreiros ensaiou sobre o tema da maternidade, que o obcecou ao ponto de, num só dia, produzir 26 desenhos. O quadro da Fundação Ilídio Pinho é bem posterior ao de 1935 que integra a coleção da Fundação Calouste Gulbenkian. Realizado em 1948, o óleo sobre madeira (101 x 78 cm) é uma composição cubista e abstrata, que apresenta mãe e filho, em figuras estilizadas, com as coxas grossas da mãe em primeiro plano. Não sei se é isso que as outras pessoas veem inscrito nas formas geométricas dos corpos, mas o que mais me impressionou, quando observei o quadro pela primeira vez, foi a ideia de anulação do tempo: o filho encontra-se simultaneamente a sair do ventre materno (ainda com cordão umbilical) e no alto, erguido pela sua mãe, que tem os braços esticados, como se a ligação íntima que une mãe e filho, no período de gestação, continuasse para lá do parto. No dia seguinte, de novo de visita à sala onde se encontra o quadro, apercebi-me de outros pormenores: o sol tão amarelo que quase nos encandeia, simbolizando talvez a proteção divina da maternidade; os tons de castanho, bege e verde que evocam a terra, a fertilidade e a ligação entre a maternidade e a natureza; e a forma como mãe e filho são apresentados num jogo de figuras interdependentes. Numa outra visita mais tarde, nesse dia, encontrei paz, no quadro: depois da inquietude de compreender as formas, a representação perfeita da minha alegria de ser mãe. Foi com essa imagem que vim para casa.


Fiquei a pensar: é isto que nos fazem as grandes obras de arte. Apresentam-se como mistérios que somos convidados a explorar. Cada observação é um novo encontro entre a obra e a nossa perceção, que evolui constantemente. Quando temos inscrita, na nossa vida, a observação diária de uma pintura como a Maternidade, a nossa relação com a obra ganha uma profundidade emocional e até mesmo filosófica – em cada dia, a obra dá-nos uma lição sobre nós mesmos. Julgo que é isso que acontece com o Eng. Ilídio Pinho sempre que regressa a casa e a obra o interpela: “O que fizeste hoje?”


A Maternidade é apenas um dos 120 quadros que se encontram em exposição no Edifício Abel Salazar (frente ao edifício histórico do Hospital de Santo António) à espera de serem visitados, interpelados e re-significados pelas nossas vidas. Com magnífica curadoria de Miguel von Hafe Pérez, a partir da coleção de arte portuguesa da Fundação Ilídio Pinho, é a maior exposição que a Unidade de Cultura da Reitoria organizou. É, também, irrepetível, já que se apresenta num edifício requalificado (o “antigo ICBAS”, que foi também, no passado, a casa das faculdades de Medicina, Letras e Ciências), num momento que medeia a conclusão das obras e a chegada do equipamento e dos serviços que ocuparão o local.


Quando nos vier visitar, venha preparado para se demorar: uma aula visual sobre a história da produção artística nacional, moderna e contemporânea, exige tempo. Na verdade, são as próprias obras que assim o demandam – e não é apenas a pintura de Almada Negreiros, exposta na primeira sala, no primeiro piso da exposição. Assim que entramos na sala imediatamente a seguir, onde se encontram expostos dez quadros de Maria Helena Vieira da Silva, sentimo-nos devedores da pintora – e a única forma que temos de lhe pagar é dedicando-nos a inscrever a nossa vida em cada um dos seus trabalhos.



Fátima Vieira
Vice-Reitora para a Cultura e Museus


Nota: A entrada na exposição, que estará patente até ao final de maio, é livre, como tudo, na Casa Comum. Única e irrepetível até ao final de maio.

Banco Português de Cérebros celebra 10 anos na Casa Comum

A exposição Histórias para Salvar - 10 Anos do Banco Português de Cérebros ficará patente ao público de 26 de  fevereiro a 3 de maio. Entrada livre.

Encéfalo / Corte Frontal (ICBAS) (Foto: U.Porto)

São três salas de uma experiência educativa, reflexiva e artística sobre doenças neurológicas. Nelas, contam-se Histórias para Salvar – 10 Anos do Banco Português de Cérebros (BPC), exposição que ficará patente ao público de 26 de fevereiro a 3 de maio, nas Galerias da Casa Comum (à Reitoria) da Universidade do Porto.


Que doenças afetam o cérebro?  Como se manifestam? De que forma tem  vindo a ciência a dar resposta a estes desafios? Esta exposição é um convite para fazer um percurso possível pelo universo do cérebro humano e pelas patologias que podem afetar este órgão tão complexo. E é,  precisamente, por aqui que começamos. A Doença de Alzheimer, a  Epilepsia, a Doença de Parkinson, o Acidente Vascular Cerebral (AVC), a Doença de Machado-Joseph… Desde os primeiros casos documentados até aos  avanços científicos mais recentes, a primeira sala aborda doenças que  afetam o cérebro.


Qual a importância das doações de tecido cerebral para o avanço da investigação? Ao entrar na segunda sala vai ver instrumentos de  dissecação utilizados no processo de recolha e preparação de tecidos  para estudos científicos e perceber, um pouco melhor, como funciona uma  das mais importantes fontes de tecidos cerebrais para a investigação científica. Será exibido um vídeo, da autoria do artista Rui Manuel  Vieira, que documenta o método científico do processo, mas também  reflete sobre o lado humano e real de quem lida com o estudo e a  preservação do cérebro.

Hemisfério cerebral esquerdo / Corte sagital (ICBAS) (Foto: U.Porto)

O foco nas pessoas

Que o foco estivesse nas pessoas” foi o “fio de prumo” que norteou a exposição, explica Ricardo Taipa,  diretor do BPC.  Para além da questão científica, quis-se “conferir uma  dimensão humana, mais pessoal e interpretativa, sobre o funcionamento  do cérebro e o impacto das doenças”. É, de resto, de forma “relativamente despida” que se apresenta o trabalho desenvolvido no BPC, “tentando ser fiel a quem nos visita e, em particular, aos doentes e  famílias que doaram o cérebro à ciência”.


A terceira sala é dedicada à arte contemporânea. Através de  instalações imersivas, Maria Beatitude explora o cérebro e a memória,  enquanto Cristina Mateus combina imagens de diferentes origens,  abordando a complexidade do cérebro e suas doenças.


Recorrendo a uma “linguagem diferente da que estamos habituados na  área científica”, é convicção de Ricardo Taipa que a dimensão artística  da exposição também reflete “a dimensão humana” do trabalho do BPC, aproximando “a sociedade civil da ciência e da cultura, tendo o cérebro  como tema unificador”.


Histórias para Salvar – 10 Anos do Banco Português de Cérebros vai estar patente nas Galerias I e II da Casa Comum,  entre o dia 26 de fevereiro (inauguração às 18h00) e o dia 3 de maio  (encerramento). A exposição pode ser visitada de segunda a sexta-feira,  entre as 10h00 e as 13h00 e das 14h00 às 17h30, e aos sábados, das 15h00  às 18h00.


A entrada é livre.

Um recurso para a Investigação

Criado em 2014, o Banco Português de Cérebros tem por missão  desenvolver o conhecimento neurológico através da recolha de cérebros e  informação clínica associada. Após o diagnóstico neuropatológico,  disponibiliza tecidos para investigação em neurociências a grupos  nacionais e internacionais.


Desde a sua fundação, o BPC já recebeu 140 doações de indivíduos com  diferentes doenças neurológicas. Para além da formação pré e  pós-graduada em várias disciplinas ligadas às neurociências, também  desempenha um papel na promoção da saúde junto da sociedade civil,  colaborando com vários grupos de investigação em neurociências, tanto em  Portugal como no estrangeiro.  O trabalho desenvolvido contribui,  assim, para o avanço do conhecimento sobre doenças neurológicas,  ajudando ao desenvolvimento de melhores formas de diagnóstico e  tratamento.


O BPC encontra-se sediado no Serviço de Neuropatologia do Centro  Hospitalar Universitário de Santo António, no Porto, e conta com a  colaboração do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), da  Universidade do Porto e do Instituto de Ciências da Vida e da Saúde,  da Universidade do Minho. 


Fonte: Notícias U.Porto

U.Porto exibe "Aula" de arte portuguesa "única e irrepetível"

A exposição Aula do Visível – Obras da  Coleção da Fundação Ilídio Pinho está patente até 31 de maio, no  renovado Edifício Abel Salazar.

E se a história da arte portuguesa dos últimos 100 anos pudesse ser  contada em pouco mais de uma centena de obras? O resultado desse  exercício não estaria longe do que é apresentado na Aula do Visível – Obras da Coleção da Fundação Ilídio Pinho,  título da exposição de arte moderna e contemporânea portuguesa que está  patente, desde o passado dia 11 de fevereiro, no renovado Edifício Abel Salazar da Universidade do Porto (Largo do Prof. Abel Salazar).


Entre pintura, desenho, escultura e fotografia, a Aula do Visível expõe um importante núcleo da Coleção de Arte Moderna e Contemporânea da Fundação Ilídio Pinho, uma das mais revelantes do país. Recorrendo  a propostas que tanto abarcam as maiores figuras da nossa cultura  visual, como nomes menos reconhecidos publicamente, mas que determinaram  o contexto nacional, a exposição apresenta mais de 120 trabalhos,  incluindo dez de Vieira da Silva e cinco de Amadeo de Souza-Cardoso.


“É uma exposição que tem uma função de dizer que a arte portuguesa  merece ser vista em permanência. Há poucos museus que mostram a arte  portuguesa na sua amplitude, quer na modernidade, quer na  contemporaneidade, portanto é uma oportunidade única para perceber  aquilo que é a arte portuguesa durante aquilo que foi o século XX e o  século XX”, apresenta Miguel von Hafe Pérez, curador da exposição.


Esta é a terceira vez (depois da exposição Discentes e por ocasião da homenagem a Ilídio Pinho),  desde 2023, que a U.Porto acolhe e mostra ao público as obras da  Coleção da Fundação Ilídio Pinho. “Para nós, é importante este acesso  democrático à cultura que estamos a promover. É um trabalho que temos  vindo a fazer ao longo dos últimos anos e este é um marco”, refere Fátima Vieira, Vice-Reitora para a Cultura e Museus da U.Porto, sobre o que classifica como “uma exposição única e irrepetível”. 


Veja em baixo a galeria de fotos.

Com entrada livre, A Aula do Visível – Obras da Coleção da Fundação Ilídio Pinho vai ficar patente ao público até ao próximo dia 31 de maio e pode ser visitada de segunda-feira a sábado, das 10h00 às 17h30. 


À margem da exposição, será dinamizado um programa alargado de visitas guiadas, laboratórios de escrita, de artes plásticas, de performance,  entre outras iniciativas. “Tudo a partir dos objetos expostos e tentando  tirar deles uma ligação”, convida Fátima Vieira.


Para outros vídeos, visite o canal oficial da Universidade do Porto no Youtube. 


Fonte: Notícias U.Porto

Fevereiro na U.Porto

Para conhecer o programa da Casa Comum e outras iniciativas, consulte a Agenda Casa Comum ou clique nas imagens abaixo.

Aula do Visível | Exposição de Obras da Coleção da Fundação Ilídio Pinho

Até 31 MAI'25
Exposição | Edifício Abel Salazar
 Entrada livre. Mais informações aqui 

AC/BC: Ciclo de cinema húngaro (antes e depois do Covid )

21 e 28 FEV'25 | 18h00
Cinema | Casa Comum
Entrada Livre. Mais informações aqui 

Pedra, Papel, Guerra — Arqueologia da Litografia em Portugal

Até 21 FEV'25
Exposição | Reitoria da U.Porto
Entrada Livre. Mais informações e inscrição aqui 

7 contos esculturas | Exposição

Até 22 FEV'25  
Exposição |Casa Comum
Entrada Livre. Mais informações aqui

Colectivo de Poesia - Poetas a várias vozes na Casa Comum | Ruy Belo

18 FEV'25 | 21h30
Poesia | Casa Comum
Entrada Livre. Mais informações aqui 

Club di Lettura Italiano 2025 | Clube de Leitura Italiano 2025

20 FEV, 02 ABR, 12 JUN, 17 SET, 29 OUT e 11 DEZ'25 | 19h00
Literatura | Casa Comum
Entrada Livre. Mais informações e inscrição aqui 

PAISAGENS CONSTRUÍDAS

Até 25 MAR'25
Exposição | Fundação Marques da Silva
Mais informações aqui 

Arquipélago-Centro de Artes Contemporâneas

22 FEV'25 | 16h00
Conversa | Fundação Marques da Silva
Entrada Livre. Mais informações aqui

Ensaios | Exposição

De 19 NOV'24 a 21 MAR'25
Exposição | FCUP
Entrada Livre. Mais informações aqui

Gemas, Cristais e Minerais

Exposição | Museu de História Natural e da Ciência U.Porto
Entrada Livre. Mais informações aqui

Corredor Cultural

Condições especiais de acesso a museus, monumentos, teatros e salas de espetáculos, mediante a apresentação do Cartão U.Porto.
Mais informações aqui

Reitor da U.Porto dá aula aberta sobre imagens sagradas indo-portuguesas

António de Sousa Pereira será um dos  protagonistas da sessão inaugural do ciclo "Ásia e Europa - Um Futuro  Partilhado", marcada para 24 de fevereiro. Entrada livre.

Foto: DR

O que tem o Reitor da Universidade do Porto a dizer sobre imagens indo-portuguesas? Na verdade, muito, ou não fosse António de Sousa Pereira um colecionador e conhecedor deste tipo de estatuária, como terá a oportunidade de demonstrar, no próximo dia 24 de fevereiro, a partir das 17h00, no Salão Nobre da Reitoria da U.Porto, durante a sessão inaugural de Ásia e Europa – Um Futuro Partilhado, título do ciclo de conferências/aulas abertas sobre cultura, sociedade e política que irá prolongar-se até ao próximo mês de julho.


A arte do encontro – imagens sagradas indo-portuguesas será o título desta “aula”, que terá como protagonista o também  professor catedrático do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar  (ICBAS), médico e investigador, desviando daquelas que são as suas habituais áreas de atuação e cruzando expressão artística com anatomia. Para compor o cenário, serão expostas peças de estatuária, pertencentes ao futuro Museu das Convergências.


Mas há muito mais a ouvir e a aprender no final de tarde desta segunda-feira. Kang Youn-Ok,  professor da Universidade Myongji, em Seul, na República da Coreia, irá  dar uma aula em coreano, com tradução simultânea para português, sobre Asia cultural community and Chinese character exchange. Já o Vice-Reitor da Universidade de Coimbra para as Relações Externas e Alumni, João Nuno Calvão da Silva, irá falar sobre Democracia liberal e globalização – algumas reflexões.


História e cultura são os pilares fundamentais deste “curso”  promovido pela Fundação Eurasia que pretende chamar a atenção para o  papel que as nações asiáticas têm desempenhado, desde a esfera cultural à  económica, na formação das paisagens globais históricas e contemporâneas.


Ásia e Europa – Um Futuro Partilhado 
tem, assim, por objetivo proporcionar uma perspetiva mais abrangente sobre as relações  históricas e contemporâneas entre a Ásia e a Europa em diferentes  dimensões, como a política, o ensino superior e a sociologia, ilustrando,  em simultâneo, como as culturas asiáticas, enraizadas em tradições  antigas, influenciam o mundo moderno e globalizado. No fundo, são encontros que visam cultivar uma compreensão mais aprofundado dos  elementos que separam, mas que também unem o Oriente e o Ocidente.


O ciclo de conferências/aulas abertas irá prolongar-se até julho de 2025. 


Fonte: Notícias U.Porto

Artistas representados na exposição Aula do Visível – Obras da Coleção da Fundação Ilídio Pinho

Amadeo de Souza-Cardoso

Amadeo de Souza-Cardoso (Manhufe, Amarante, 1887 – Espinho, 1918)

Amadeo de Souza-Cardoso nasce na povoação de Manhufe, em Mancelos, Amarante, a 14 de novembro de 1887, no seio de uma família de ricos proprietários rurais. A sua infância foi passada entre a aldeia natal e a praia de Espinho, onde conheceu e fez amizade com o médico e poeta Manuel Laranjeira (1877-1912), que o incentivou a cultivar o desenho, prática que veio a desenvolver em Lisboa nos preparatórios de Arquitetura na Academia de Belas-Artes (1905).  


Em 1906, com 19 anos, partiu para Paris, com o apoio financeiro familiar e na companhia do pintor Francisco Smith (1881-1961), para continuar os estudos de Arquitetura, fixando-se no Boulevard Montparnasse. Contudo, acabou por enveredar pelo desenho e caricatura e pela pintura em detrimento da arquitetura, por influência do meio artístico da capital francesa.


No início da sua estada parisiense conviveu com outros artistas portugueses como Manuel Bentes (1885-1961), Eduardo Viana (1881-1967), Emmerico Nunes (1888-1968), Domingos Rebelo (1891-1975) e o já citado Smith, no estúdio que alugara no número 14, Cité Falguière.  


Entre 1908 e 1909 conheceu Lucia Pecetto (1890-1989), com quem viria a casar em 1914, passando a frequentar a Académie Vitti, onde foi aluno do pintor catalão Anglada-Camarasa (1871-1959).


Nesta época transferiu-se para Rue des Fleurus, rompendo social e plasticamente com o círculo de artistas portugueses, dedicando-se então à investigação sobre o modernismo internacional que em Paris se desenvolvia. Neste novo contexto interessou-se pelos “primitivos flamengos" e fez amizade com o pintor Amadeo Modigliani (1884-1920).


Em 1911 mudou-se para a Rue du Colonel Combes, nas proximidades do Quai d’Orsay, onde, em outubro desse, ano expôs com Modigliani, depois de se ter estreado a expor no Salon des Indépendants, alguns meses antes.  O seu trabalho voltaria a ser exibido no Salon d’Automne (1912 e 1914).


Por esta altura entrou em contacto com outros artistas internacionais como Umberto Boccioni (1882-1916), Gino Severini (1883-1966), Walter Pach (1883-1958) Juan Gris (1887-1927), Max Jacob (1876-1944), Sonia (1885-1979) e Robert Delaunay (1885-1941), Brancusi (1876-1957), Archipenko (1887-1964), Umberto Brunelleschi (1879-1947) e Diego Rivera (1886-1957) e aprofundou o seu interesse pelo desenho, através da preparação da obra ilustrada da Légende de Saint Julien l’Hospitalier de Gustav Flaubert (1821-1880), e da edição do álbum XX Dessins, prefaciado pelo escritor e jornalista Jérôme Doucet (1865-1957) e favoravelmente apreciado pelo crítico Louis Vauxcelles (1870-1943).


Os contactos estabelecidos permitiram-lhe também expor fora de Paris na Exposição Internacional de Arte Moderna de 1913, conhecida como Armory Show, que apresentava nos EUA a arte europeia. Aí mostrou oito obras, três das quais foram adquiridas por Arthur J. Eddy, colecionador de Chicago que, ao publicar Cubist and Post-Impressionism (1914) viria a referir alguns dos seus trabalhos. Amadeo mudou-se então para a Rue Ernest Cresson, para ver a sua obra representada, em setembro de 1913, no I Herbstsalon de Berlim, da Galeria Der Sturm com a qual já havia trabalhado em novembro de 1912. Em 1914 terá ainda participado em exposições em Colónia e Hamburgo, enviando, em abril desse ano, três trabalhos para a Royal Academy de Londres, para figurarem numa exposição que viria a ser cancelada com o início da I Guerra Mundial.


Nesse ano, como habitualmente, passou o Verão em Portugal. Transferiu o seu ateliê para a Vila Louvat, no n.º 38 da Rue Boulard, espaço que não chegaria a usar, depois de uma visita a Barcelona onde conheceria Antoni Gaudí (1852-1926). No regresso a Manhufe, o deflagrar da Grande Guerra obstou o seu regresso a Paris.


Em Portugal, depois de em Paris ter explorado a abstração e o expressionismo, a sua pintura amadureceu e o autor experimentou a colagem. Em 1915, contactou com o casal Delaunay que, empurrado pela Guerra de 1914-18 se fixara em Vila do Conde. Nesse tempo e por este intermédio recuperou a sua relação com artistas nacionais como Eduardo Viana, relação essa que se que estendeu a Almada Negreiros (1893-1970), que o introduziu no grupo lisboeta dos “Futuristas”.


Em 1916 Amadeo deu uma entrevista ao periódico O Dia, na qual comentou os manifestos de Marinetti (1876-1944) e promoveu, em dezembro desse ano, primeiramente no Porto e depois em Lisboa, a exposição Abstraccionismo 114 pinturas.pinturas. A exposição foi mal recebida pelo público e pela crítica, pelo evidente desfasamento cultural e artístico do nosso país, mas defendida, isoladamente, por Almada Negreiros e Fernando Pessoa (1888-1935).


Esta singular figura da arte moderna portuguesa morreu em Espinho, em 1918, com 30 anos, vítima da epidemia de pneumónica.


Cinco obras de Amadeo de Souza-Cardoso na Sala 1 da exposição, no segundo piso do renovado edifício Abel Salazar: Poema oração, 1913. Aguarela sobre papel.; A rir. Cabeça, 1910. Óleo sobre cartão; O rapazito, 1916. Óleo sobre tela.; Centr.12, 1910. Óleo sobre cartão.; ZINC (Cristo com Espelho), 1917. Óleos e colagem sobre tela. 


Amadeo de Souza-Cardoso - Centro de Arte Moderna


MNAC: Amadeo de Souza-Cardoso


Museu Amadeo de Souza Cardoso


À Velocidade da Inquietação - Amadeo de Souza-Cardoso (rtp.pt)

Há novos podcasts no espaço virtual da Casa Comum

140. Horas melhoras agoras e demoras, Regina Guimarães

“Horas melhoras agoras e demoras”, de Regina Guimarães, in Levantamento, 29 de janeiro de 2024 – 29 de fevereiro de 2024.

94. Marroneta i Carriço ne l nabal

“… habie dous muntones de nabos, un an cada punta de la huorta i la  cuorda que ataba las béstias nun era cumprida bastante para que cada un  fura a alambazar-se an sou munton.”
 Ua cuonta para ninos de Suzana Ruano, cun rebison de Alcides Meirinhos.


 1. Origens e diáspora do povo cigano

O primeiro episódio do podcast “Dos Outros Ninguém Sabe” conta com a participação de Rui Soares, estudante cigano da licenciatura em  Sociologia da FLUP, que se junta a Francisco Mangas, investigador do  CITCEM e historiador especializado na história dos ciganos portugueses na Época Moderna. O episódio explora a longa diáspora cigana, desde a  Índia até à Europa, a sua chegada à Península Ibérica e a associação  difusa com o Egito. Reflete ainda sobre as dificuldades na datação da  sua presença em Portugal e a marginalização desta história nos espaços  escolares, académicos e mediáticos.

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Alunos Ilustres da U.Porto

Arlindo Rocha

Arlindo Gonçalves da Rocha (1921-1999)

Arlindo Gonçalves da Rocha nasceu na cidade do Porto em 1921.


Frequentou a Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP, atual Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto) numa época de reforma, liderada, entre outros, pelos professores Carlos Ramos, Joaquim Lopes, Dordio Gomes e Barata Feyo.


Entre 1943 e 1950 participou nas Exposições Independentes que passaram por Porto, Lisboa, Coimbra, Leiria e Braga.


Em 1945 concluiu o curso de Escultura na ESBAP e realizou o estágio na Missão Estética de Férias.


Por esta altura, associou-se no Porto ao Grupo dos Independentes, no seio do qual surgiram as primeiras experiências da abstração geométrica, na pintura de Fernando Lanhas e na escultura de Arlindo Rocha.


Em 1948 exibiu Mulher e Árvore, um precursor bronze polido, introdutor de uma nova linguagem escultórica, totalmente abstrata, que viria a repetir nas obras Abstração I e Abstração II, apresentadas em 1949.

Abstração I, bronze de Arlindo Rocha da coleção do Museu Nacional Soares dos Reis.

Desde esse ano que integrou as Exposições de Arte Moderna do SPN/SNI, na capital. Na época, essas manifestações artísticas eram dominadas pelas propostas neorrealistas e surrealistas.


Em 1953 obteve uma bolsa do Instituto de Alta Cultura que lhe permitiu estagiar em Itália. No ano seguinte participou no I Salão de Arte Abstrata impulsionado pela Galeria de Março, em Lisboa, instituída por Fernando Lemos e José Augusto França, que foi um foco de importante atividade em prol da Arte nacional, entre 1952 e 1954. Nesse ano expôs individualmente em Lourenço Marques, atual cidade de Maputo, e na Beira, em Moçambique, para o que contou com o patrocínio do Ministério do Ultramar.


Em 1957 esteve presente na I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e participou no concurso para o "Monumento ao infante D. Henrique" a ser erguido em Sagres.


Em 1958 produziu Poesia e foi convidado a fazer parte da representação portuguesa à Exposição Internacional de Bruxelas, na qual receberia a medalha de prata.


Em 1959 exibiu Ritmo de Primavera, alcançou o Prémio de Arte Moderna, em Viana do Castelo, o Prémio de Escultura "Mestre Manuel Pereira", no Salão dos Novíssimos, e obteve uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian que lhe permitiu visitar o Egipto e a Grécia e os principais museus europeus.


Em 1961, na II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, apresentou Ciência (1956-1960), uma peça inovadora em metal branco e estanhado, que abriu caminho à abordagem geométrica da forma.


Nos anos seguintes, esteve presente em importantes certames artísticos como a I Exposição dos Artistas Premiados nos Salões dos Novíssimos, em Lisboa, a VIII Bienal de Arte de São Paulo (1965), a exposição "Levantamento da Arte do século XX no Porto", patente no Museu Nacional Soares dos Reis (1975), Porto, e a exposição "Aspectos da Arte Abstracta em Portugal", na SNBA, em Lisboa (1981).

Estátua de D. António Ferreira Gomes de autoria de Arlindo Rocha na cidade do Porto.

A par dos seus notáveis trabalhos originais, que lhe garantiram um lugar de destaque no panorama da Escultura nacional, desenvolveu também obras figurativas para responder a encomendas nas áreas da arte pública, da medalhística e da arte sacra.


A partir dos anos 80 aproximou-se do movimento Construtivista, produzindo obras que fundem escultura e arquitetura, nomeadamente as peças que mostrou na IV Bienal Internacional de Arte de Vila Nova de Cerveira, e peças que homenageiam grandes figuras da cultura nacional: Homenagem a Florbela Espanca e Homenagem a António Aleixo, de 1985, Colagem-homenagem a Fernando Lanhas, Memória ao meu tio arquitecto e Homenagem a Camilo, de 1987, exibidas na II Bienal das Caldas da Rainha.


Este artista pioneiro da escultura abstrata em Portugal está representado no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, no Museu Amadeo de Souza-Cardoso, em Amarante, e na Secretaria de Estado da Cultura.


Arlindo Rocha faleceu no Porto, em 1999


Sobre Arlindo Rocha (up.pt)


Abstração I - Museu Nacional Soares dos Reis

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