UMA MÁQUINA DE COSTURA

​​EU University & Culture Summit / Day 1, Afternoon

Estávamos no átrio da Biblioteca da Faculdade de Letras e Pacheco Pereira apontava para um cartaz amarelado com a imagem de uma máquina de costura.


Viéramos de uma interessante palestra de Carlos Gonçalves, docente recém-jubilado do Departamento de Sociologia, sobre as Representações do Trabalho. Gonçalves apresentara-nos os resultados de um inquérito europeu cobrindo três décadas (de 1990 a 2020), prestando especial atenção às estatísticas relativas ao nosso país. “Há sociólogos que defendem que estamos a afastar-nos da ‘sociedade de trabalho’, mas os números não o mostram”, explicara. “Mesmo no mundo atomizado em que vivemos, apesar da precariedade dos empregos e do discurso tecnocêntrico dominante, o trabalho continua a constituir-se como o segundo valor mais importante, logo a seguir à família. A diferença”, continuara, “é que os jovens procuram hoje, no trabalho, não apenas um meio de sustento (aspirando a um salário que lhes assegure bem-estar, qualidade de vida e fruição da vida social), mas também algo que seja estimulante, que pressuponha iniciativa e a atribuição de responsabilidades”.


Entre outros aspetos, os números que Carlos Gonçalves nos oferecera relativamente à situação portuguesa confirmavam duas teses conhecidas: em primeiro lugar, que os estudos superiores são um passaporte para salários mais elevados, embora se verifiquem diferenças entre a remuneração de profissionais consoante as áreas científicas; em segundo lugar, que uma percentagem elevadíssima – 70% – dos trabalhos menos qualificados e sem salário são realizados por mulheres. Ao entrar na Biblioteca da FLUP para a inauguração da exposição Representações do Trabalho, realizada a partir da EPHEMERA (biblioteca e arquivo de José Pacheco Pereira), trazia ainda na memória esta última chocante percentagem. E agora que Pacheco Pereira apontava para o cartaz com a máquina de costura, esse número ganhava ainda mais significado.


O cartaz anunciava um “Grande Sorteio de Beneficência” da “Casa do Ribatejo”, que teria como 6.º Prémio “uma máquina de costura, no valor de 4 contos”. A marca era “Oliva”, que nos anos 50 destronara a Singer, líder de mercado, impondo-se através de uma campanha publicitária que cobria o país inteiro, anunciando a oferta de cursos de costura e de bordados a quem adquirisse uma máquina. “A máquina de costura”, explicou Pacheco Pereira, “era o objeto mais desejado pelas mulheres nos anos 50 e 60 e contribuiu para a sua emancipação”.


Chegada a casa, procurei informação sobre o assunto. Descobri, para meu espanto, que a máquina de costura teve, de facto, forte impacto no reposicionamento das mulheres na sociedade. Muitas mulheres que sabiam costurar encontraram emprego em fábricas. Mais importante ainda: entre as que se conservaram em casa, a criar os filhos, as que dominavam com mestria a máquina de costura e os moldes conseguiam um bom rendimento como modistas, sendo visitadas em casa por clientes da burguesia e granjeando, assim, algum reconhecimento social. E mesmo aquelas que sabiam apenas fazer alguns arranjos de costura vendiam trabalho a vizinhos, adquirindo, desta forma, uma relativa independência económica. A máquina de costura contribuiu também para a democratização do vestuário: em casa, as mulheres costuravam vestidos de chita, seguindo as últimas tendências da moda (quem não se lembra dos moldes da revista Burda, que permitia copiar modelos das revistas de alta-costura?).


Lembrei-me de todas as máquinas de costura que vi, ao longo da vida, e que sempre associei a trabalho pouco qualificado e símbolo da mulher submissa. Afinal, historicamente, foi um meio de emancipação e um elevador social. Só por causa do que aprendi sobre o papel da máquina de costura na mobilidade social e independência económica da mulher valeu a visita à exposição da FLUP, mas há muitas mais histórias à espera de serem descobertas nesta exposição da EPHEMERA, co-organizada com o Departamento de Sociologia e o Instituto de Sociologia, até ao dia 31 de maio.



Fátima Vieira
Vice-Reitora para a Cultura e Museus

Entre a Irlanda e o Brasil, a música com epicentro na Casa Comum

Nos dias 14 e 15 de março, a Casa Comum recebe  um concerto de homenagem a Chiquinha Gonzaga e um espetáculo dos Díada  & Amigos. Entrada livre.

Maria Teresa Madeira vai interpretar algumas das principais obras de Chiquinha Gonzaga na noite de 14 de março. Foto: DR

São noites de grande amplitude sonora as que prometem ser vividas na Casa Comum (à Reitoria) da Universidade do Porto. Na primeira, a 14 de março, presta-se homenagem à música popular brasileira. No dia seguinte, muda-se o tom para se celebrar a música tradicional irlandesa. São dois concertos a não perder, a partir das 21h30 e com entrada livre.


Dia 14 de março, a pianista brasileira Maria Teresa Madeira, acompanhada pelo músico e pesquisador Rodrigo Alzuguir,  apresenta um concerto em tributo a Chiquinha Gonzaga, figura pioneira da música popular brasileira.


No dia seguinte, 15 de março, o grupo Díada & Amigos protagoniza um espetáculo dedicado à música tradicional da Irlanda,  antecipando as celebrações do Dia de São Patrício. Vamos aos detalhes…

Chiquinha Gonzaga: 90 anos de saudade

A primeira noite de concertos, a 14 de março, sexta-feira, assinala os 90 anos da morte de Chiquinha Gonzaga (1847-1935), compositora, maestrina e pianista que marcou a história da música brasileira.


Maria Teresa Madeira, uma das mais destacadas intérpretes do seu repertório, traz à Casa Comum um espetáculo que percorre a obra da autora de Ó Abre Alas e tantas outras composições que ajudaram a definir os rumos da música popular brasileira, em especial do choro, um dos primeiros géneros musicais urbanos do Brasil, caracterizado pela improvisação e um ritmo  sincopado que combina influências europeias e africanas, e do maxixe, considerado um dos precursores do samba.


Maria Teresa Madeira é uma referência na música brasileira. Tem mais de 30 álbuns gravados, já apresentou concertos em diversos países e é reconhecida pela sua interpretação expressiva do repertório popular e erudito do Brasil. A seu lado estará Rodrigo Alzuguir, ator, músico, dramaturgo e pesquisador da obra de Chiquinha Gonzaga. Além da sua atuação na música, Alzuguir escreveu a biografia da compositora e é especialista na sua trajetória.

A energia da música irlandesa com Díada & Amigos

No dia seguinte, 15 de março, sábado, a celebração musical continua com o concerto São Patrício nos Idos de Março, que traz à Casa Comum a vibração sonora da música tradicional irlandesa.


Díada é um duo formado por Colm Larkin e Sandro Bueno,  músicos que partilham uma paixão pela música folk europeia e que se  dedicam à interpretação da tradição instrumental da Irlanda e de outras  culturas musicais do Continente.


Colm Larkin, natural de Cork, na Irlanda, estudou música no  University College Cork e tem uma vasta experiência na cena folk,  participando em diversos projetos musicais que exploram tanto a tradição  irlandesa quanto fusões com outros estilos. Já Sandro Bueno, multi-instrumentista brasileiro, especializou-se em  música tradicional europeia e toca instrumentos como tin whistle, flauta  transversal e gaita de foles. A sua trajetória inclui passagens por  grupos de música celta e galega, onde aprofundou o estudo das melodias e  ritmos que caracterizam essas tradições.

Os Díada & Amigos sobem ao palco da Casa Comum na noite de 15 de março. (Foto: DR)

Para este concerto especial, o Díada junta-se a dois músicos convidados. Miguel Quitério, um dos mais reconhecidos intérpretes portugueses do uilleann pipes, a tradicional gaita de foles irlandesa,  confere ao repertório uma sonoridade autêntica e envolvente. João Valente, violinista com vasta experiência na música folk, traz para o  palco a energia dançante dos jigs, reels e hornpipes, géneros que  caracterizam a sonoridade celta.


Juntos, os quatro músicos proporcionarão uma noite única, transportando o público para a atmosfera dos pubs irlandeses e dos festivais tradicionais que celebram a cultura celta.


Este é um convite para mergulhar, antecipadamente, no espírito festivo do Dia de São Patrício,  celebrado mundialmente a 17 de março. Recordaremos assim, no Porto, o  santo padroeiro da Irlanda, que (diz a lenda…) usou o trevo para  explicar aos irlandeses a Santíssima Trindade, assim tornando esta planta o símbolo do país.


Os dois espetáculos terão entrada gratuita, ainda que limitada à lotação da sala.


A Casa Comum reforça assim  o seu compromisso de oferecer uma programação diversificada e  acessível, aproximando o público da riqueza musical de diferentes  culturas. 


Fonte: Notícias U.Porto

Março na U.Porto

Para conhecer o programa da Casa Comum e outras iniciativas, consulte a Agenda Casa Comum ou clique nas imagens abaixo.

Aula do Visível | Exposição de Obras da Coleção da Fundação Ilídio Pinho

Até 31 MAI'25
Exposição | Edifício Abel Salazar
 Entrada livre. Mais informações aqui 

Histórias para Salvar – 10 Anos do Banco Português de Cérebros

27 FEV a 03 MAI'25 
Exposição | Casa Comum
Entrada Livre. Mais informações aqui 

7 contos esculturas | Exposição

Até 29 MAR'25  
Exposição |Casa Comum
Entrada Livre. Mais informações aqui

Territórios, Brasil e Portugal | Ciclo de Cinema

14, 24, 28  MAR e 04 ABR'25 | 18h30
Cinema | Casa Comum
Entrada Livre. Mais informações aqui 

Representações contemporâneas da Ásia em Portugal: literatura, políticas editoriais, programas culturais, com Fátima Vieira

10 MAR'25 | 18h00
Conferência | Casa Comum
Entrada Livre. Mais informações aqui 

Chiquinha Gonzaga – 90 anos de saudades | Concerto de Maria Teresa Madeira, com Rodrigo Alzuguir

14 MAR'25 | 21h30
Música | Casa Comum
Entrada Livre. Mais informações aqui

S. Patrício nos Idos de Março | Concerto dos Díada & Amigos

15 MAR'25 | 21h30
Música | Casa Comum
Entrada Livre. Mais informações aqui

[CON]TEXTUALIDADES | Encontros de Poetas

15 MAR'25 | 16h00
Literatura, poesia | Casa Comum 
Entrada Livre. Mais informações aqui

[CON]TEXTUALIDADES | Encontros de Poetas

29 MAR'25 | 21h00
Literatura, poesia | Casa Comum 
Entrada Livre. Mais informações aqui

Fim-de-semana com o Ensemble

27, 28 e 29 MAR'25
Cinema, teatro | Casa Comum 
Entrada Livre. Mais informações aqui 

Club di Lettura Italiano 2025 | Clube de Leitura Italiano 2025

20 FEV, 02 ABR, 12 JUN, 17 SET, 29 OUT e 11 DEZ'25 | 19h00
Literatura | Casa Comum e ASCIPDA
Entrada Livre. Mais informações e inscrição aqui 

SEIOS, 300 DESENHOS

01 MAR a 30 ABR'25
Exposição | Galeria da Biodiversidade – Centro Ciência Viva, Museu de História Natural
Entrada Livre. Mais informações aqui 

PAISAGENS CONSTRUÍDAS

Até 25 MAR'25
Exposição | Fundação Marques da Silva
Mais informações aqui 

Gemas, Cristais e Minerais

Exposição | Museu de História Natural e da Ciência U.Porto
Entrada Livre. Mais informações aqui

Ensaios | Exposição

De 19 NOV'24 a 21 MAR'25
Exposição | FCUP
Entrada Livre. Mais informações aqui

Corredor Cultural

Condições especiais de acesso a museus, monumentos, teatros e salas de espetáculos, mediante a apresentação do Cartão U.Porto.
Mais informações aqui

Casa Museu Abel Salazar inaugura exposição e lança novo website

A exposição Cadernos de Viagem de Abel Salazar pode ser visitada a partir de 15 de março, na Secção Norte da  Ordem dos Médicos. O evento que terá programação paralela.

Cadernos de Viagem de Abel  Salazar apresenta alguns diários gráficos com desenhos, mas também  objetos pessoais do histórico médico e professor da U.Porto. Foto: DR

Vai encontrar quadros, livros, apontamentos e objetos pessoais de uma das maiores figuras da Universidade do Porto. A exposição Cadernos de Viagem de Abel Salazar estará patente na Secção Norte da Ordem dos Médicos de 15 de março a 26 de abril e será acompanhada de uma programação paralela. Toda a informação estará disponível no novo website da Casa-Museu Abel Salazar (CMAS).


São fragmentos de quem esteve atento à viagem. Agora expostos, são um convite a que façamos, através da nossa perspetiva, parte da viagem, ou viagens deste médico que foi também artista, professor, investigador e um pensador do seu tempo. Dão corpo a Cadernos de Viagem de Abel Salazar alguns diários gráficos com desenhos, mas também objetos pessoais como blocos de apontamentos, passaportes, o bilhete de identidade e uma mala de madeira com materiais de pintura.


Fátima Outeirinho, cocomissária da exposição,  explica que, apesar de Abel Salazar ser já amplamente reconhecido pelos  seus livros de viagem, como Digressões em Portugal, ou Paris em 1934,  há ainda muito por descobrir sobre os seus cadernos de viagem, que  “procuram dar a conhecer um lado mais pessoal e intimista de um criador e  homem instigante”.


Esta exposição busca, portanto, apresentar um lado menos conhecido, destacando a importância das viagens tanto em Portugal quanto no estrangeiro, e como estas influenciaram a produção artística e  intelectual de Abel Salazar.


Para visitar a exposição Cadernos de Viagem de Abel Salazar, basta contactar a CMAS através do telefone (969 872 425) ou via e-mail (cmuseu@reit.up.pt).  A exposição, patente na Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos  (Rua Delfim Maia nº 405, ao Jardim de Arca D’Água), encerra às 16h00 do dia 26 de abril com um painel de convidados surpresa. Até ao limite da disponibilidade,  os visitantes poderão estacionar o carro no interior da Ordem dos  Médicos.

Programação Paralela

Dia 29 de março, às 15h00, na Secção Norte da Ordem  dos Médicos, irá decorrer uma Conversa sobre literatura de viagem com Dora Gago, vencedora do Grande Prémio de Literatura de Viagens 2024, e  João Catarino, professor de desenho e autor do Caderno de Viagem EN2. A conversa será precedida de uma visita ao Hospital Militar. Ponto de Encontro: Escadaria frontal do Hospital Militar, às 14h45. Inscrição e mais informações aqui.


No jardim da Cordoaria, mas a 5 de abril, pelas 15h00, vai dar-se início a uma oficina intitulada Desenhando os passos de Abel Salazar, conduzida pela arquiteta Sónia Teles, onde os participantes poderão explorar a cidade de Abel Salazar através do desenho. Inscrição e mais informações aqui.


O programa paralelo à exposição também propõe uma pequena viagem pela cidade. Dia 12 de abril, às 15h00, dar-se-á  a conhecer O Porto académico de Abel Salazar, uma experiência orientada por Carlos Vasconcelos e Susana Barros, que convida a explorar  os espaços de trabalho de Abel Salazar, incluindo o Centro Hospitalar Universitário de Santo António e o Museu do Centro Hospitalar do Porto. Inscrição e mais informações aqui.

Caderno de Viagem de Abel Salazar. (Foto: DR)

Novo portal da CMAS

Toda a informação sobre a exposição pode ser encontrada no novo website da Casa-Museu Abel Salazar.


Com uma navegação mais  intuitiva e um design renovado, a nova plataforma permitirá um acesso  rápido aos principais destaques, notícias e outras novidades, garantindo  uma maior fluidez durante a navegação. O portal contará com novos recursos interativos e uma estrutura otimizada para diferentes  dispositivos, tornando a informação mais acessível.


Desenvolvida pela UPdigital, esta atualização representa um passo significativo na modernização da presença digital da CMAS, consolidando a importância da Casa na preservação do legado de Abel Salazar, médico, artista e pensador.


Note-se que a exposição permanente da Casa-Museu Abel Salazar se encontra temporariamente indisponível, na sequência da realização de obras de renovação das instalações. O trabalho de requalificação visa melhorar as condições do espaço de forma a proporcionar ao público uma experiência mais enriquecedora. 


Fonte: Notícias U.Porto

Artistas representados na exposição Aula do Visível – Obras da Coleção da Fundação Ilídio Pinho

Columbano

Autorretrato de Columbano Bordalo Pinheiro (Cacilhas, 1857 – Lisboa, 1929), datado de 1904. Óleo sobre madeira. Inv. 634, Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado.  

A formação artística de Columbano foi realizada, sobretudo, na esfera familiar, com o pai, o pintor Manuel Maria Bordalo Pinheiro (1815-1880), que lhe legou o gosto pelo pequeno formato e as cenas de costumes, da pintura holandesa e flamenga, e com o irmão mais velho, Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905), que lhe possibilitou o contacto com o Realismo. Na Academia de Belas Artes de Lisboa cursou pintura, com pouco esmero e aproveitamento, apesar de ter sido aluno de reputados pintores românticos como Tomás da Anunciação (1818-1879) ou Miguel Ângelo Lupi (1826-1883).


Em 1874 expôs pela primeira vez, no Salão da Sociedade Promotora das Belas Artes, pinturas de costumes populares. Em 1879 e 1880 concorreu, sem sucesso, ao pensionato estatal em Paris para estudar Pintura de Paisagem e Pintura de História, respetivamente.


Nesse último ano  a sua obra transformara-se, apresentando sobretudo pinturas de género e cenas da vida urbana da pequena burguesia, nomeadamente na Sociedade Promotora das Belas Artes e numa exposição com António Ramalho, num realismo perspicaz de refinada crítica social. O cronista da vida moderna produziu inovadoras pinturas, de subtis traços fisionómicos dispostos em superfícies conducentes à abstratização do espaço.       


Columbano conseguiu, através da Condessa de Edla (1836-1929), uma bolsa de D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha (1816-1885), para estudar em Paris. Na capital francesa pensou frequentar o ateliê de Carolus-Duran (1837-1917), onde fez amizade com o pintor John Singer Sargent (1856-1925), que o tentou levar para a Academia de Belas Artes, mas o Museu do Louvre foi a sua verdadeira escola. Nesse tempo produziu pinturas que marcam uma viragem na sua obra, caraterizadas pelo uso de um espectro mais restrito e fluído de ocres em fundos escurecidos, e pela estreia do claro-escuro, estratégias que privilegiam o instantâneo. Esta viragem encontra-se bem representada pelo Concerto de Amadores exibido no Salon de Paris, de 1882.


No regresso a Portugal, Columbano associou-se às exposições do Grupo do Leão, formado em torno de Silva Porto (1850-1893), que, com Marques de Oliveira (1853-1927), introduzira no nosso país a pintura de ar livre. O grupo devia o seu nome à cervejaria lisboeta “Leão de Ouro”, sita na Rua do Príncipe (atual 1.º de dezembro), onde artistas costumavam marcar encontro. Não integrou a I exposição de Pintura Moderna do grupo, mas a partir da segunda mostra participou com pinturas mais antigas. Na terceira exposição, inaugurada no final de 1883, altura em que retornou a Paris, exibiu uma nova paleta, que substituía fundos escuros e o claro-escuro do período parisiense por fundos claros, onde inscrevia figuras mais escuras. Esta estratégia, que evocava a memória de Manet (1832-1883), não agradou à crítica, de uma forma geral. Em 1885 produziu um grande retrato coletivo do referido Grupo do Leão que hoje integra a coleção do Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado.


No final dos anos 80 de oitocentos, a sua pintura voltou a mudar, na sequência de uma viagem a Madrid, onde teve oportunidade de fruir a obra de Velázquez (1599-1660) e dos tenebristas, e a Paris, onde admirou o Simbolismo. Ressurgiram os fundos obscuros de onde emergiam os retratados que, numa representação de tinta diluída, pareciam espectros, como atesta o Retrato de Antero de Quental, de 1889.     


No final do século, Columbano executou, além dos retratos de cariz simbolista de figuras da cultura portuguesa, outros retratos onde o naturalismo era intersetado por diferentes referenciais, experimentando o retrato elegante moderno em personalidades da vida nacional, e as naturezas-mortas espanholas e os interiores lúgubres flamengos, produzindo obras ao sabor da burguesia triunfante com a sua mestria de artista.        

Louça de barro, 1888. Óleo sobre madeira. Obra de Columbano Bordalo Pinheiro na Sala 1 da exposição, no segundo piso do renovado edifício Abel Salazar.


Fundação Ilídio Pinho


http://www.museuartecontemporanea.gov.pt/pt/programacao/Columbano-Bordalo-Pinheiro

MNAC: Auto-retrato


http://www.museuartecontemporanea.gov.pt/pt/artistas/ver/14/artists


MNAC: O Grupo do Leão

Há novos podcasts no espaço virtual da Casa Comum

143. Primeiro poema do que podia ter sido, Paulo José Borges

“Primeiro poema do que podia ter sido”, de Paulo José Borges, in Um ócio todo estendido, dezembro de 2019.

 5. Luís Maia

Luís Maia, uma carreira diversificada – economista, empreendedor, consultor, comunicador nato e criativo
Esta semana estivemos com Luís Maia no Alumni Mundus, que se licenciou na Faculdade de Economia da Universidade do Porto há quase 30  anos. Concluiu o mestrado na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro quase 20 anos depois. E pelo caminho concluiu várias pós-graduações em  áreas como Ciência e Teoria Política, estratégia e segurança ou marketing, e foi professor no Politécnico do Porto e na Porto Business School.
Na primeira década da sua carreira, trabalhou na área da cooperação internacional universitária e institucional, sobretudo na Universidade do  Porto, mas também para entidades como a Comissão Europeia (de que ainda  hoje é avaliador), o Ministério da Educação da Roménia ou ONGs dos Balcãs. A partir de 2006 enveredou pela área empresarial, primeiro como  consultor, focado no sector cultural, criativo e das TIC (tecnologias de  informação e comunicação). Em 2010 arrancou com a sua primeira empresa  em consultoria especializada na área dos fundos comunitários e internacionais, em que é especialista, mas também com uma unidade de marketing,  comunicação e imagem, onde criou marcas para grupos de renome nacional e  internacional. Com mais três sócios criou uma empresa especializada em  apoiar startups com um sistema de work for equity, um  projeto que foi abandonado e retomado em 2022 e onde Luís Maia se divide  entre ser ele mesmo empreendedor e apoiar projetos de terceiros. No  final de 2024 ganhou o prémio de melhor Start Up Pitch do programa de  ignição da SRS Legal, um dos maiores escritórios de advogados do país, com um dos seus projetos atuais na área de aplicações da Inteligência  Artificial e assinou um acordo com a Start Up Portugal e o IAPMEI para a  dinamização de uma aceleradora de startups.


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Alunos Ilustres da U.Porto

Armando Basto

Autorretrato de Armando Basto do Centro e Arte Moderna Gulbenkian.

Armando Pereira Basto nasceu no Porto em 1889.


Nesta cidade viria a frequentar a Academia Portuense de Belas Artes (1903-10), onde foi aluno de José de Brito e de Marques de Oliveira. Durante este percurso académico obteve o Prémio Soares dos Reis, no quarto ano da licenciatura.


Armando Basto nutria especial admiração não só pelos caricaturistas Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) e Celso Hermínio (1871-1904), mas também pelos humoristas franceses e alemães.


No princípio do século XX participou nos grupos de "Humoristas", "Fantasistas" e "Modernistas", com caricaturas e outras composições, entre as quais adquiriu especial destaque O Lindo Gesto da Revolução, na qual representou um popular a guardar um banco no dia 5 de Outubro de 1910.


A sua primeira exposição individual, no Porto, compôs-se de figuras portuenses, temas políticos e observações acerca de diversos acontecimentos regionais.


Em 1910 viajou até Paris, para aprofundar os seus estudos. Na capital parisiense inscreveu-se em vários cursos (Arquitetura, Desenho e Escultura), sem, no entanto, os concluir. Inspirou-se na arte de mestres como Edouard Manet (1832-1883) e Amadeo Modigliani (1884-1920) e confraternizou com outros artistas portugueses residentes em Paris, sobretudo com Abel Manta, António Azevedo, José Bragança, Emmerico Nunes, Alberto Cardoso, Francisco Smith, Amadeo Sousa Cardoso e Diogo de Macedo.


Durante a sua estadia em Paris, e apesar de se ter debatido com dificuldades financeiras e com problemas de saúde (passou uma temporada no hospital, em 1914), frequentou a Cité Falguière e Montparnasse e manteve a sua forte ligação ao desenho humorístico. Com Aquilino Ribeiro e Leal da Câmara lançou a revista Génio Latino, na qual também participariam Manuel Jardim e Anjos Teixeira. Colaborou em folhetos franceses e expôs no Salon des Humoristes, no Palais de Glace. Neste período, muitos dos seus desenhos eram assinados com um "A" dentro de um quadrado ou com o pseudónimo Boulemiche.


Após o seu regresso a Portugal, em 1915, continuou a dedicar-se à pintura e aos trabalhos gráficos.


Em 1916 foi o animador do Salão dos Fantasistas do Porto, onde, no ano anterior, tentara fundar um grupo de Independentes. Dois anos depois voltou a expor no Porto e em Lisboa, cidade onde tentou, sem sucesso, triunfar, no ano de 1923.


Apesar da sua curta carreira artística teve tempo, ainda, para dirigir os jornais humorísticos Coruja, A Folia e Lúcifer afilhado e colaborar n' O Riso e n' O Monóculo, que ajudou a fundar, e, ainda, na Ilustração Portuguesa.


Foi autor da capa do livro Teoria da Indiferença, de António Ferro (1920), pintou quadros de cenários urbanos cheios de elementos visuais, como o Retrato do Dr. Pimentel, também chamado "O meu violão, que não tem cordas, só serve para isto", em 1918, e pintou paisagens. No final da vida, realizou alguns trabalhos de arquitetura.


Este ilustrador e grande caricaturista morreu tuberculoso, no Minho, em 1923.


U.Porto - Antigos Estudantes Ilustres da Universidade do Porto: Armando Basto


Armando Basto - Centro de Arte Moderna

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