PASSEI O FIM-DE-SEMANA COM O ENSEMBLE
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Passei o fim-de-semana com o Ensemble. Literalmente. Quinta, sexta e sábado, a Casa Comum festejou o Dia Mundial do Teatro (27 de março) com o Ensemble – Sociedade de Actores: três dias, três filmes feitos a partir de três peças, três conversas no final da projeção. Estes dias mostraram como, no Teatro, as fronteiras entre as disciplinas se têm vindo cada vez mais a diluir. Mesmo nos espectáculos concebidos a partir de peças canónicas, já não é apenas a dramaturgia, a encenação, a cenografia e o guarda-roupa que contam histórias, (re)situando as peças em diferentes contextos e épocas: a música, o design de som, a luz e o vídeo vão ganhando cada vez mais relevo, emancipando-se do seu papel de suporte da narrativa principal para contarem as suas próprias histórias. Esta forma de fazer Teatro celebra, antes, de mais, o acto de criação de todas essas disciplinas e apresenta o espectáculo teatral como um momento para o qual conflui toda a energia dessas áreas. Triedo + Actores, o filme que passou no sábado a partir da peça homónima que o Ensemble levou à cena em 2023, é um bom exemplo desta concepção do que deve ser um espectáculo dramático. Sentei-me para ver o filme com a memória ainda fresca da peça a que assistira no Novo Ático do Coliseu do Porto. Confesso que não gosto muito de ver teatro num ecrã da forma como ele é habitualmente apresentado: uma mera filmagem da interação entre os atores no palco. Mas sabia que a realizadora do filme teria um olhar fértil a emprestar ao espectáculo – trata-se, afinal, de Sofia Faria Fernandes, cantora, atriz e (agora também) realizadora. Sabia, também, que o espectáculo resultara de uma residência artística de uma semana de três músicos e quatro atores na Casa de Mateus e que Sofia Faria Fernandes registara esses momentos. Deixei-me, por isso, conduzir sem resistência pela lente da câmara, surpreender pela forma como o seu olhar se deteve em pormenores em que eu antes não atentara e fruir das imagens colhidas nas propriedades de Mateus – a natureza verde, as camadas de tempo a assentarem na estatuária, nas fontes, na casa onde músicos e atores trabalhavam para fazer nascer o espetáculo.
O fascínio que Triedo + Actores me causou, quer quando vi o espectáculo em cena, quer quando visionei o filme, prende-se com o facto de músicos, atores e encenador não se preocuparem em contar uma história propriamente dita, mas antes em celebrar o ato criativo. A peça até começa por ter um enredo, mas ele dilui-se à medida que o espectáculo avança, chegando mesmo a perder-se por completo. No início, o ator João Paulo Costa, em palco, ensaia as falas de Jocasta, papel que, diz, irá desempenhar numa peça. Já aí, as vezes que repete e modula, de forma diversa, uma das falas que Jocasta dirige a Édipo – “Absolve-te a ti mesmo dos atos de que falas” – revela o ato criativo subentendido em todo o desempenho de um papel de teatro, ideia que é repetida quando Jorge Pinto (ator, encenador) entra em palco e conversam sobre a peça, e, mais ainda, quando celebram a obra de Pirandello com um momento da mais pura comicidade. As muitas cenas que se seguem são episódios em que excelente música improvisada e palavras catalisadoras começam por se intercalar para depois se juntarem, em pleno pé de igualdade. O dueto magnífico entre Frederic Cardoso, no clarinete, e António Parra, na voz, lendo um incrível texto de Álvaro Garcia de Zúñiga (25’), é um dos vários pontos altos que evidenciam que, embora tomando caminhos diferentes, a vida dos artistas pressupõe uma existência indagante de novas formas de expressão do que, de outra forma, seria indizível. A peça do Ensemble, desenvolvida num ambiente onírico, fantástico e fantasmagórico (sim, há mesmo um fantasma, embora pouco convencional), começa por caminhar para depois cavalgar nessa autêntica perseguição que se traduz, para o espectador, numa esplêndida experiência sensorial.
Triedo + Actores é um ensaio poético sobre o processo de criação. Defende a criatividade como capacidade humana e afirma a sua transversalidade a todas as disciplinas. Mostra o efeito sublime da junção de diferentes linguagens e evidencia por que razão o Ensemble continua a ser incontornável na cena teatral portuguesa, e do Porto, em particular. Não consigo pensar em melhor forma de, na Casa Comum, celebrarmos o (futuro do) Teatro em Portugal.
Fátima Vieira Vice-Reitora para a Cultura e Museus
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U.Porto celebra Agustina Bessa-Luís com cinema e debates
A Casa Comum apresenta, nos dias 3 e 4 de abril, um ciclo de documentários em tributo à escritora Agustina Bessa-Luís. Entrada gratuita. São dois dias na companhia do universo de Agustina Bessa-Luís, declinado para o cinema. O evento, que decorre a 3 e 4 de abril, na Casa Comum, ao edifício da Reitoria da Universidade do Porto, contará com a exibição de filmes, seguidos de debates com especialistas. Este ciclo dedicado ao cinema e à literatura arranca no dia 3 de abril, às 18h30, com Estações da Vida, Vento da Desordem, filme dirigido por Tomás Baltazar em 2018. Ficamos a conhecer Samuel, um jovem jornalista alemão, que decide visitar Alma Bentes, uma escritora portuguesa de renome. À medida que a conversa entre os dois se desenvolve, Samuel embarca também numa jornada pessoal, captando imagens das estações ferroviárias portuguesas e refletindo sobre a relação entre memória, tempo e identidade. O realizador Tomás Baltazar estará presente para comentar a obra.
Em seguida, será apresentado Fanny e a Melancolia, de Adriano Nazareth Jr., também de 2018. O documentário transporta o espectador para o Porto e para a região do Douro no século XIX, onde se desenrola a intensa e trágica história de Fanny Owen. Esta mulher delicada e enigmática foi protagonista de um dos mais complexos triângulos amorosos da literatura portuguesa, envolvendo Camilo Castelo Branco e José Augusto Pinto de Magalhães.
A narrativa é conduzida pelas reflexões de Agustina Bessa-Luís, que, através da sua escrita, dá novas dimensões à figura de Fanny, interpretando-a à luz da sociedade e dos valores da época. A adaptação cinematográfica de Manoel de Oliveira, Francisca, também bebe da mesma fonte. A sessão contará com comentários da escritora Minês Castanheira, que analisará a abordagem literária e cinematográfica da história.
No dia 4 de abril, às 21h30, será exibido Ema e o Prato de Figos, também de Adriano Nazareth Jr. O filme estabelece um jogo entre realidade e ficção, cruzando três personagens femininas ligadas ao universo de Agustina: a Ema de Flaubert, a Ema Paiva de Vale Abraão e Claudine, uma mulher que habitava o imaginário da escritora e serviu de inspiração para a sua obra.
Esta incursão por universos femininos trará à tona uma reflexão sobre o papel das mulheres na literatura e na sociedade. A análise dos percursos destas personagens revela diferentes facetas da condição feminina e dos arquétipos que marcaram a escrita de Agustina. Ana Paula Coutinho, docente da Faculdade de Letras da U.Porto (FLUP), comentará o filme, aprofundando as referências literárias e simbólicas presentes na obra.
O filme As Sibilas do Passo será exibido dia 4 de abril na Casa Comum.
A última sessão da noite traz As Sibilas do Passo, também de Adriano Nazareth Jr. Será a partir da infância que o realizador explora as raízes da escrita de Agustina Bessa-Luís. Através de imagens da casa onde nasceu, em Vila Meã, o filme percorre as memórias da autora e as influências que a moldaram, revelando como a paisagem, a cultura e a oralidade da região marcaram a forma de contar histórias. O documentário aborda ainda o destino desta casa, questionando o modo como o património e a memória literária são preservados. O jornalista Carlos Magno comentará a sessão, refletindo sobre o impacto da obra de Agustina na literatura e na identidade portuguesas.
Todas as sessões têm entrada livre. Através da linguagem cinematográfica, este é então um convite para revisitar os temas e as atmosferas que tornaram Agustina Bessa-Luís uma das figuras mais marcantes da literatura portuguesa contemporânea. Uma oportunidade única para aprofundar o conhecimento sobre as personagens e os cenários que marcaram a obra da escritora e Doutora Honoris Causa da U.Porto.
Sobre Agustina Bessa-Luís
Nascida em Vila Meã a 15 de outubro de 1922, Agustina Bessa-Luís foi pela primeira vez publicada em 1948, iniciando então uma carreira literária que foi desde cedo reconhecida pelos seus pares e que culminou na obtenção de diversos prémios literários. Venceu, entre outros, o Prémio Eça de Queirós (1954), o Prémio Nacional de Novelística (1967), o Prémio D. Diniz (1981), o Grande Prémio Romance e Novela (1983 e 2001) e o Prémio Camões (2004). Aclamada como uma das maiores escritoras nacionais, autora de romances seminais como A Sibila ou Vale Abraão, foi também homenageada pela República Portuguesa com a atribuição da Ordem de Santiago da Espada (1980) e pelo governo francês com o título de Officier de l’Ordre des Arts e des Lettres (1989).
Para sempre ligada ao Porto e ao Douro, tanto na sua obra como na sua vida pessoal, Agustina Bessa-Luís foi distinguida pela Universidade do Porto com o título de Doutora Honoris Causa a 22 de março de 2005, numa homenagem repartida com o poeta Eugénio de Andrade.
Agustina à Boca de Cena é o nome dado a um conjunto de podcasts que a Casa Comum dedica à celebre escritora portuguesa.
Fonte: Notícias U.Porto
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Abril na U.Porto
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Para conhecer o programa da Casa Comum e outras iniciativas, consulte a Agenda Casa Comum ou clique nas imagens abaixo.
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Aula do Visível | Exposição de Obras da Coleção da Fundação Ilídio Pinho
Exposição | Edifício Abel Salazar Entrada livre. Mais informações aqui
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Histórias para Salvar – 10 Anos do Banco Português de Cérebros
Entrada Livre. Mais informações aqui
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Aula do Visível – Obras da Coleção da Fundação Ilídio Pinho | Programa de Laboratórios Artísticos
Laboratórios artísticos | Edifício Abel Salazar Entrada Livre. Mais informações e inscrições aqui
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Aula do Visível – Obras da Coleção da Fundação Ilídio Pinho | Programa de Visitas Orientadas
Visitas orientadas | Edifício Abel Salazar Entrada Livre. Mais informações e inscrições aqui
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Haiku: o sentir da poesia do Japão difundido no mundo
Entrada Livre. Mais informações aqui
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Políticas Culturais no Ensino Superior no Brasil
Conversa | Auditório Ruy Luís Gomes (Reitoria da U.Porto) Entrada Livre. Mais informações aqui
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Territórios, Brasil e Portugal | Ciclo de Cinema
Entrada Livre. Mais informações aqui
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CIDAAD – II Ciclo de Cinema Alemão
11, 15 ABR e 02 MAI'25 | 18h00 Entrada Livre. Mais informações aqui
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Club di Lettura Italiano 2025 | Clube de Leitura Italiano 2025
02 ABR, 12 JUN, 17 SET, 29 OUT e 11 DEZ'25 | 19h00 Literatura | Casa Comum e ASCIPDA Entrada Livre. Mais informações e inscrição aqui
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Fim-de-semana com Agustina Bessa-Luís
Cinema, conversa | Casa Comum Entrada Livre. Mais informações aqui
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Cidades inteligentes e a "rota da seda digital" – um futuro cada vez mais presente
Conferências | Casa Comum Entrada Livre. Mais informações aqui
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Porque ninguém me pediu isso: romance de parede
Exposição | Instituto de Pernambuco Entrada Livre. Mais informações aqui
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PAISAGENS CONSTRUÍDAS
Exposição | Fundação Marques da Silva
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Ciclo de Conversas à volta de Paisagens Construídas: Barragem e Complexo de Picote, com Fátima Fernandes / moderação de Valdemar Cruz
Conversa | Fundação Marques da Silva Entrada Livre. Mais informações aqui
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Heróicas | Coral de Letras da U.Porto
Concerto | Casa da Música Mais informações e bilhetes aqui
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SEIOS, 300 DESENHOS
Exposição | Galeria da Biodiversidade – Centro Ciência Viva, Museu de História Natural Entrada Livre. Mais informações aqui
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Gemas, Cristais e Minerais
Exposição | Museu de História Natural e da Ciência U.Porto Entrada Livre. Mais informações aqui
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Corredor Cultural
Condições especiais de acesso a museus, monumentos, teatros e salas de espetáculos, mediante a apresentação do Cartão U.Porto.
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Ciclo de Jazz Upbeat traz Chet Nuneta à FMUP
Concerto do quinteto Chet Nuneta terá lugar no dia 3 de abril, às 18h00, no Auditório da Faculdade de Medicina. Entrada gratuita. Criado em 2006, o quinteto Chet Nuneta é composto por artistas de diversas nacionalidades. Foto: J. Huerta de Prada
O Ciclo de Jazz Upbeat irá regressar com um Concerto de Chet Nuneta, no dia 3 de abril, às 18h00, no Auditório do Centro de Investigação Médica da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). Criado em 2006 e composto por artistas de diversas nacionalidades, o quinteto Chet Nuneta apresenta uma forma singular de abordagem à “nova música tradicional do mundo”, explorando as fronteiras das expressões da dança e do corpo. Nas vozes e percussão estarão Beatriz Salmerón Martín, Emanuela Perrupato e Emma Spiesser, às quais se juntarão Frédérique Faure e Fouad Achkir, na percussão.
Maita Chen (em que Maita significa “madrecita” e Chén, “tierra”) é o seu quarto álbum (2022), uma produção de Mélodinote que incorpora ritmos da “mãe terra”, num convite à reconciliação com a natureza e evocação do feminino, das mulheres guerreiras e incógnitas que escrevem a nossa história.
Este será o terceiro Concerto de Jazz do Ciclo Upbeat, que abriu, no passado dia 11 de dezembro, com o trio MAU. O segundo concerto, realizado no dia 5 de março, teve como protagonista Mariana Vergueiro.
Abertos à comunidade, estes espectáculos pretendem “facilitar encontros informais e proporcionar inspiração através de estilos musicais que incluem jazz e músicas do mundo”, como afirma Willem van Meurs, professor da FMUP e responsável pela programação.
Integrada no programa das celebrações do Bicentenário da FMUP, esta iniciativa cultural é de entrada gratuita, mediante inscrição no formulário.
Fonte: Notícias U.Porto
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Alumni da U.Porto fazem do Bolhão um "palco" para a poesia da cidade
O projeto Bozes Boadoras no Bolhão (BBB) pretende dar voz a "poetas pouco conhecidos do público". A primeira sessão acontece a 12 de abril, no Mercado do Bolhão. As sessões do Bozes Boadoras no Bolhão vão decorrer ao segundo sábado de cada mês, até final de 2025, no Mercado do Bolhão. Foto: DR
A ideia é dar a poetas pouco conhecidos do público a oportunidade de se apresentarem num dos espaços mais icónicos da cidade do Porto. E a primeira demonstração terá lugar já no próximo dia 12 de abril, data marcada para a primeira sessão do projeto Bozes Boadoras no Bolhão (BBB), uma iniciativa literária inovadora, liderada por antigos estudantes da Universidade do Porto. “O objetivo é dar visibilidade a poetas cujas obras permanecem à margem dos circuitos tradicionais de divulgação literária”, explica a coordenação do projeto que, até final do ano, e sempre ao segundo sábado de cada mês, se propõe a levar a poesia do Porto ao Bolhão. Por ali vão passar “poetas pouco conhecidos do público, mesmo que já tenham publicado livros individuais ou cuja obra circule em antologias coletivas, plataformas digitais e similares”.
O BBB é aberto a autores de qualquer nacionalidade, “desde que os poemas sejam apresentados em língua portuguesa ou em versão bilíngue. Todas as variantes do português dos países lusófonos são bem-vindas, para reforçar a diversidade e a riqueza da língua”. Como participar?
A participação no BBB é gratuita e aberta a todos os interessados. Para integrar a primeira sessão (12 de abril), os/as poetas devem submeter os seus textos até 4 de abril de 2025, enviando até quatro (4) poemas no formato .doc ou .txt para bozesboadoras@gmail.com. O tema é livre, mas será dada prioridade a textos que abordem o Porto. Os poemas podem ser inéditos ou já publicados.
A seleção será feita pela coordenação do projeto e vai privilegiar “poemas que unam acessibilidade e qualidade literária”.
Mais informações no blogue do BBB (https://bozesboadoras.blogspot.com/) ou através do e-mail bozesboadoras@gmail.com e/ou do Whatsapp (923 344 071).
Fonte: Notícias U.Porto
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Artistas representados na exposição Aula do Visível – Obras da Coleção da Fundação Ilídio Pinho
Júlio
Júlio (Vila do Conde, 1902 -1983)
Júlio Maria dos Reis Pereira nasceu em Vila do Conde a 1 de novembro de 1902. Foi o quarto filho de José Maria Pereira Sobrinho e de Maria da Conceição Reis. Entre 1919 e 1928 cursou Engenharia Civil na Faculdade Técnica e na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Frequentou também a Escola de Belas Artes do Porto entre 8 de outubro de 1920 e 6 de outubro de 1921 (Curso Preparatório – 1.º ano).
Entre 1931 e 1935 trabalhou na Câmara Municipal de Vila do Conde, tendo chegado a ser Diretor-delegado dos Serviços Municipalizados. Em 1936 iniciou funções na Direção Regional dos Monumentos Nacionais do Centro, sedeada em Coimbra, transferindo-se, no ano seguinte, para a Direção Regional dos Monumentos Nacionais do Sul, em Évora.
Em 1972 deixou o Alentejo e regressou à terra natal.
Reis Pereira teve uma vida artística intensa enquanto pintor, desenhador e poeta, e foi um compulsivo colecionador de barro popular, sobretudo alentejano.
Júlio, seu nome artístico, foi um pintor da segunda geração modernista, marcadamente antiacademista, apesar de ter passado pelo ensino das Belas Artes no Porto.
Na década de 20 do século XX pintou e fez ilustrações para as obras do irmão, José Régio (pseudónimo literário de José Maria dos Reis Pereira, 1901-1969), nomeadamente a capa do seu primeiro livro - Poemas de Deus e do Diabo (1926). Colaborou com a Presença – Folha de Arte
e Crítica - desde o primeiro ao último número (1927 e 1940).
Entre 1931 e 1934 publicou nas edições Presença os álbuns de desenho gravado intitulados Música (desenhos gravados em linóleo e palavras de José Régio) e Domingo (desenhos tirados a ozalid e palavras de Adolfo Casais Monteiro).
Em 1965 o cineasta Manoel de Oliveira apresentou As pinturas do meu Irmão Júlio, sobre a sua pintura a óleo produzida entre 1923 e 1935. A apresentação do filme é de José Régio e a música da autoria de Carlos Paredes (1925-2004).
Nos anos mais recentes, Júlio expôs na Galeria de S. Mamede, Lisboa (1970, 1972, 1973, 1974, 1979 e 1983), na Galeira JN, Porto (1975), na Junta de Turismo da Costa do Sol (1977) e na Junta de Turismo da Costa do Estoril (1982). Participou, por escolha do crítico Rui Mário Gonçalves, na EXPO AICA SNBA 1972 e na Exposição do Cinquentenário da Presença (1927-1977, Coimbra, Lisboa, Madrid e Paris). Da série Poeta foram produzidas duas tapeçarias pela Manufatura de Tapeçarias de Portalegre (1980), confecionadas a partir de duas aguarelas, e editados 30 Desenhos pela Imprensa-Nacional Casa da Moeda (1983).
Durante a adolescência, Reis Pereira publicou poemas na imprensa vila-condense e, mais tarde, sob o pseudónimo de Saúl Dias, editou os livros de poesia …mais e mais… (1932, com desenhos seus), Tanto (1934, com colagens e desenhos seus), Ainda (1938, com desenhos da sua autoria), Sangue (1951, com ilustração do autor), Obra Poética de Saúl Dias (1962, coletânea dos quatro livros anteriormente publicados e do inédito Gérmen, da colecção Poetas de Hoje), Essência (1973, poesia e desenhos). Em 1980 foi lançada a segunda edição de Obra Poética de Saúl Dias (os seis livros anteriores e o inédito Vislumbre) que recebeu, ex aequo com António Ramos Rosa (1924-2013), o Prémio da Crítica.
Com a fixação de residência no Alentejo, nasceu uma nova paixão, a do colecionismo de barro popular de Portalegre e de Estremoz. A primeira peça foi um boneco de Estremoz, adquirido ao antiquário João Maria Espanca, pai da poetisa Florbela Espanca (1894-1930), em 1943.
Ao longo dos anos, Reis Pereira constituiu uma coleção com 375 peças, compradas em Évora, Estremoz, Borba, Vila Viçosa, Elvas, Lisboa e Porto. A sua coleção foi mostrada pela primeira vez ao público em 1962, na exposição Barristas do Alentejo (inaugurada a 24 de junho, no Palácio D. Manuel I, em Évora), e foi vendida em 1971 ao Museu Municipal de Estremoz e apresentada publicamente em 1976.
Em 1941 casou com a brasileira Augusta da Silva Ventura, em Vila do Conde. O único filho do casal, José Alberto, nasceu no ano seguinte.
Júlio Maria dos Reis Pereira faleceu em Vila do Conde a 17 de janeiro de 1983. Foi homenageado postumamente logo em 1983, pelo Círculo Católico de Operários de Vila do Conde, pelo Clube Cinquenta de Lisboa (mostra evocativa da sua obra), pela Escola Secundária de Vila do Conde (exposição retrospetiva) e pela Galeria S. Mamede (álbum Júlio: 30 Desenhos da Série “Poeta”).
Entre 2002 e 2003, as câmaras municipais de Vila do Conde, Estremoz e Portalegre promoveram exposições no centenário do seu nascimento entre outras atividades comemorativas. A Universidade Fernando Pessoa (Porto, 2002) dedicou-lhe o Colóquio Uma Palavra Para Todo O Sempre.
A 25 de novembro de 2016 foram inaugurados em Vila do Conde o Centro de Estudo Júlio/Saúl Dias e a Galeria Júlio, resultantes da institucionalização pela Câmara de Vila do Conde do legado do seu filho, o engenheiro José Alberto dos Reis Pereira. A coleção é composta por óleos, desenhos, aguarelas, guaches, peças de cerâmica do Redondo e do arquivo e biblioteca particulares de Júlio/Saúl Dias.
Foi nestes equipamentos culturais que, em 2017, teve lugar a exposição Mapas da Imaginação e da Memória: 2. Versos de José Régio e Desenhos de Júlio.
Para Bernardo Pinto de Almeida (1954-), professor, crítico de Arte e comissário desta mostra, Júlio foi um artista original e vanguardista, que começou a produzir uma ímpar obra expressionista durante os anos 20; foi o primeiro artista a introduzir o surrealismo em Portugal e a realizar pintura abstracionista nos anos 30; foi, nos anos 40, o pioneiro da aproximação da arte nacional ao neorrealismo.
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Há novos podcasts no espaço virtual da Casa Comum |
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146. Do Coletivo, 2, Odete Costa Ferreira
“Do Coletivo, 2”, de Odete Costa Ferreira, in Um Cibo de Nós, fevereiro de 2020
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96. Querida armana Lhéngua Pertuesa
Carta da la lhéngua mirandesa a su armana la lhéngua pertuesa. Un testo de Aníbal Fernandes cun traduçon de Alcides Meirinhos, ALCM.
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Novo livro da U.Porto Press explora o comportamento informacional humano
Explorar o comportamento informacional: uma introdução, tradução da obra original de Thomas Daniel Wilson, especialista em Ciência da Informação, destina-se a quem se inicia na investigação e a gestores de informação. Este novo título da U.Porto Press oferece dados sobre o comportamento informacional e explica como tem variado ao longo dos tempos. / FOTO: U.Porto Press
Exploring information behaviour an introduction, de Thomas Daniel Wilson, está finalmente traduzido para português! A nova publicação – Explorar o comportamento informacional: uma introdução – é da U.Porto Press e do INESC TEC – Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores,
Tecnologia e Ciência, oferece dados sobre o comportamento informacional e conta como tem variado ao longo dos tempos.
A tradução é assinada por Maria Joaquina Barrulas e Zita Pereira Correia, antigas docentes convidadas do mestrado em Gestão de Informação/Ciência da Informação da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).
Este livro é o resultado de uma vida dedicada à investigação. Como afirma o próprio Thomas D. Wilson, nele oferece “um relato muito pessoal, baseado em larga medida na minha própria investigação e nos meus próprios quadros teóricos”.
É, também, uma introdução a não perder para quem inicia investigação na área e para gestores de informação.
Segundo Thomas D. Wilson, será útil para os ajudar “a compreenderem as circunstâncias complexas subjacentes às necessidades de informação e ao comportamento informacional dos seus clientes”.
O ser humano como animal informacional
Mas o que esperar da leitura desta obra? Segundo Thomas D. Wilson, pelo menos três coisas: “em primeiro lugar, [perceber] o que se entende por comportamento informacional; em segundo lugar, quais as teorias e modelos que orientam a nossa abordagem à investigação; e, finalmente, uma sólida compreensão dos vários métodos de investigação empregues na investigação em comportamento informacional, e como os utilizar”.
O “comportamento informacional”, continua o autor, remete para as ações do ser humano perante a informação: “(…) como a procuramos ou a descobrimos, como a usamos, como a trocamos com outros, como podemos escolher ignorá-la e, por extensão, como aprendemos com ela e agimos sobre ela”.
A tradução para português é de Maria Joaquina Barrulas e Zita Pereira Correia, antigas docentes do mestrado em Gestão de Informação/Ciência da Informação da FEUP. / Foto: U.Porto Press
Já no ano 2000 Wilson definia o comportamento informacional como a interação humana com todas as fontes e canais de informação – ativa e passiva –, incluindo “comunicação com outros (oralmente ou por escrito), uso de qualquer tipo de recurso de informação e a receção passiva de informação, tal como ver anúncios de TV ou ler mensagens de e-mail não solicitadas”. As sociedades da informação também são alvo da atenção do autor, que defende a sua existência desde o aparecimento do homo sapiens, salientando que “em nenhum momento da nossa evolução estivemos sem informação”.
Para Wilson, “Organizar, planear a ação e contar histórias, tudo está dependente da habilidade de comunicar e, ao comunicar, transferimos informação. Logicamente, portanto, todas as sociedades são sociedades de informação e toda a organização é baseada em informação”.
A forma como nos relacionamos com a informação, essa sim, “mudou significativamente ao longo do tempo”, em resultado de fatores diversos, desde a invenção da escrita ou da imprensa mecânica, passando pela chegada do sistema postal, até ao surgimento do computador e da World Wide Web.
Do ponto de vista das tradutoras, o livro tem “um valor inestimável”, já que condensa “a vasta experiência de um investigador pioneiro no estudo do comportamento informacional e de um professor empenhado em transmitir aos investigadores principiantes noções sobre a natureza da informação, sobre a complexidade das questões relativas ao comportamento das pessoas em interação com a informação e com as fontes de informação e, ainda, sobre a relação entre modelos e teoria”.
Explorar o comportamento informacional: uma introdução está disponível na loja online da U.Porto Press, com um desconto de 10%.
Sobre o autor
Thomas Daniel Wilson, Doutor Honoris Causa pelas Universidades de Gotemburgo (Suécia), e Múrcia (Espanha), iniciou a sua atividade na Universidade de Sheffield em 1972, como investigador principal. A partir de 1973 lecionou no Mestrado em Estudos de Informação, então recém-criado, tendo assumido a direção do Departamento de Estudos de Informação (DEI) entre 1982 e 1997. Conhecido pela sua investigação em Ciência da Informação, em particular sobre o comportamento informacional, lecionou em diversas universidades da Europa, EUA, Canadá, Austrália, Brasil e Japão. Em Portugal, desenvolveu uma colaboração regular com universidades e outros organismos de I&D a partir dos anos oitenta. O importante contributo para o desenvolvimento do ensino e investigação na área da Ciência da Informação materializou-se ainda pelo seu apoio, no âmbito do protocolo estabelecido entre as Universidades do Porto e de Sheffield, à criação do Mestrado em Gestão de Informação/Ciência da Informação na FEUP, no qual lecionou durante 12 anos.
Fonte: U.Porto Press
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Alunos Ilustres da U.Porto
Arnaldo Madureira e Sousa
Retrato de Arnaldo Madureira no Salão Nobre do edifício histórico da U.Porto da autoria de A. Figueiredo, datado de 1973.
Arnaldo de Jesus Madureira e Sousa, filho de Arnaldo de Jesus Madureira, nasceu em Vilarouco, S. João da Pesqueira, a 22 de dezembro de 1898. Em 1921 licenciou-se em Ciências Matemáticas na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto com a classificação de 17 valores. Em 1924 concluiu o curso de Engenharia de Minas da Faculdade Técnica com 16 valores.
Foi assistente de Mineralogia entre 1921 e 1923, mais tarde nomeado assistente de Análise e Geometria. A partir de 1928 passou a reger a cadeira de Álgebra Superior.
Na sessão do Conselho Escolar da Faculdade de Ciências de 1 de julho de 1943 foi-lhe atribuído o grau de doutor em Ciências Matemáticas.
Em Janeiro de 1933 concluiu provas no concurso para professor catedrático de Matemática da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, juntamente com Augusto Hermenegildo Ribeiro Peixoto de Queirós e Fernão Couceiro da Costa, tendo sido aprovado por unanimidade. Na votação para avaliação do mérito relativo ficou em segundo lugar. Tomou posse do lugar de professor catedrático a 29 de abril de 1933 juntamente com Augusto Queirós. A cerimónia foi presidida pelo professor Mendes Correia. O trabalho apresentado nas provas do concurso intitulou-se Resoluções algébricas das equações (Porto, Imprensa Portuguesa, 1932).
Arnaldo Madureira e Sousa dirigiu a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto – foi o seu 9.º diretor entre 25 de março de 1957 (tomou posse a 9 de Abril) e 1967 (exonerado, a seu pedido, no dia 9 de agosto). Arnaldo Madureira e Sousa também foi bibliotecário da Faculdade de Ciências entre 5 de maio de 1955 e 8 de abril de 1957).
Faleceu em 1988.
Galeria de Retratos do Salão Nobre da Universidade do Porto - Índice (up.pt)
Antigos Estudantes Ilustres da Universidade do Porto: Arnaldo Madureira e Sousa (up.pt)
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