LI QINGSHAO

​​EU University & Culture Summit / Day 1, Afternoon

Vim de Pequim para Xangai (em trabalho!) a ler O peso do outono sobre o coração, a primeira coletânea da poetisa chinesa Li Qingshao (1084-aprox.1155) traduzida para português. Em cada uma das 100 páginas do livro sente-se o trabalho de anos: elas são o testemunho da erudição de Zerbo Freire – professor, investigador e tradutor cabo-verdiano – e da sua extraordinária capacidade para criar um espaço de entendimento poético entre sistemas de escrita tão distintos (o chinês clássico é composto por 10.000 caracteres!), com lógicas de representação tão flagrantemente diversas. Só para dar um exemplo da subtileza dos ideogramas chineses, cito a explicação que Freire oferece a propósito do título da primeira das duas coleções de poesia lírica que Li Qingshao assinou: Shu Yu Ji – representado em chinês clássico por três caracteres que não consigo aqui reproduzir – significa “água límpida (de fonte natural) a respingar e marulhar no jade”, ruído muito diferente “do som mais comum da queda de uma corrente de água sobre a pedra ordinária, de basalto”. Já viram a sofisticação e apuro exigidos ao ofício de tradutor?


Mas se a tradução de Zerbo Freire traz a poesia de Li Qingshao até aos nossos dias, a sua imprescindível introdução ao livro faz-nos mergulhar nessa distância em que viveu a poetisa: a era da Dinastia Song (960-1279). Foi esta uma das épocas culturais mais brilhantes da China, marcada por uma renovação sem precedentes da literatura e das artes decorativas. Li Qingshao, contudo, cresceu, dentro dessa dinastia, no período em que neo-confucionismo atingiu o seu apogeu máximo, impondo de forma severa os valores do confucionismo tradicional. Nesse ambiente altamente conservador, a alfabetização das mulheres era apenas possível no meio doméstico, quando tinham a sorte – como foi o caso de Li Qingshao – de nascer numa família de letrados. Igualmente importante foi o encorajamento constante que encontrou no marido, com quem construiu uma relação de grande cumplicidade literária.


Ler poemas de uma mulher que viveu tão lá no fundo do tempo é um exercício exigente. Tendemos a interrogar a obra do ponto de vista hodierno, tendo dificuldade em ver as marcas de uma identidade feminina forte e insurgente em poemas aparentemente pueris sobre a natureza ou as saudades que sente do seu amado. Teremos, no entanto, de compreender que a voz de resistência de Li Qingshao se faz ouvir não nos temas, mas no próprio atrevimento de escrever poesia. E fê-lo mostrando (subversivamente) erudição, laborando a forma do poema, explorando ao limite o poder imagético do caractere chinês, inovando na criação de efeitos sonoros e rítmicos – ao ponto de o conservador Zhu Xi, seu contemporâneo, a ter reconhecido como uma das (apenas!) duas mulheres que, na época, sabiam escrever poesia.


Na antologia, encontrei imagens que me retiveram na sua releitura. Aconteceu-me quando li “A flor da pereira inclina-se, resignada. / Ela sabe: a queda não poderá ser evitada” (não é sublime e verdadeiro?); ou ainda: “O cabelo tem preguiça de ser penteado, / Nesta primavera ferida”. E quando li “Beleza sem fim”, sem dúvida o meu poema preferido, senti-me ali, bem perto de Li Qingshao, apesar da diversidade do tempo:
 
Sobre o lago, sopra o vento; no horizonte, ondas vastas;
outono findo: pouca fragância, flores escassas.
O reflexo do monte beija-me lento
Quando sobre a água vem a mim.
Indescritível, esta beleza sem fim.


Bernardo Soares, heterónimo de Pessoa, tinha razão ao afirmar, no seu Livro do Desassossego que “os críticos da casa pequena soem apontar que tal poema, longamente ritmado, não quer, afinal, dizer senão que o dia está bom. Mas dizer que o dia está bom é difícil, e o dia bom, ele mesmo, passa.”


Estou muito grata a Zerbo Freire por ter trazido até mim as palavras de Li Qingshao. Elas descrevem, na perfeição, essa sensação única que sinto quando, na praia de Odeceixe, banha os meus pés, de mansinho, o reflexo da altaneira Ponta Branca.



Fátima Vieira
Vice-Reitora para a Cultura e Museus

A música brasileira está de regresso à Universidade do Porto

A Casa Comum recebe a segunda edição de "Quintas  Brasileiras" com concertos-falados de Rodrigo Alzuguir, entre 8 de maio e  12 de junho, às 18h30. Entrada livre.

De Carmen Miranda a Clara Nunes, passando por Cyro Monteiro, Ary Barroso e Nelson Cavaquinho, as Quintas Brasileiras cruzam música ao vivo com projeções de arquivo e toda uma contextualização histórica da canção brasileira. Com Rodrigo Alzuguir ao leme destas viagens com história, as sessões acontecem na Casa Comum, no edifício da Reitoria da U.Porto, com entrada livre.


O ciclo começa a 8 de maio com “Assis Valente,  Dorival Caymmi e Josué de Barros: os baianos de Carmen Miranda”, uma  incursão pelas raízes musicais da artista que se tornou um dos maiores símbolos do Brasil no mundo. Através destes três compositores,  descobre-se como se moldou a sonoridade da chamada “Pequena Notável”.


No dia 15 de maio, “Cyro Monteiro e a turma do Café  Nice” centra-se no nascimento do “samba de telecoteco” — um samba leve,  bem-humorado e irreverente que dominou o cenário carioca dos anos 1930 e  1940. Rodrigo Alzuguir vai falar-nos do ambiente boémio e criativo que se vivia durante este período no Café Nice, no Rio de Janeiro.


A 22 de maio, “Aracy de Almeida: o samba em pessoa” é  o título da sessão que prestará homenagem à maior intérprete de Noel Rosa. Com a sua singular voz (de lamento) e atitude desafiadora, Aracy quebrou convenções e deu nova vida às canções do poeta da Vila.  Proveniente do subúrbio do Encantado e criada entre rodas de samba e cultos evangélicos e alheia aos modismos da elite, a artista tornou-se  um dos pilares da canção brasileira.


No dia 29 de maio, “Aquarelas de Ary Barroso: do  teatro de revista ao Brasil-exaltação” destacará a obra de um dos mais emblemáticos compositores brasileiros, responsável por transformar temas  como “Aquarela do Brasil” em verdadeiros hinos nacionais, exaltando o imaginário tropicalista. A palestra explora a trajetória enquanto  compositor, radialista e figura central na construção de uma imagem sonora do país dos anos 1940 em diante.

Os concertos-falados de Rodrigo Alzuguir estão de volta à Casa Comum. (Foto: Casa Comum)

A sessão de 5 de junho, “Nelson Cavaquinho: luz  negra – o samba trágico”, mergulha na poética intensa e melancólica de  um dos maiores cronistas da dor e da existência no samba carioca. Poeta  da dor e da finitude, Nelson Cavaquinho criou um samba sombrio,  profundamente humano e existencial. Embalados por melodias simples, voz  rouca e violão, ser-nos-ão servidos temas como a morte, o tempo e o sofrimento, transformando samba em lamento.


Finalmente, a 12 de junho, “Clara Nunes: A voz de um  Brasil mestiço” fecha o ciclo com a celebração da artista que resgatou, através da sua voz e repertório, a força das raízes afro-brasileiras e indígenas, revolucionando o papel feminino no samba, tornando-se um símbolo de religiosidade, força feminina e identidade mestiça nacional. A  sessão de dia 12 de junho irá celebrar a importância de Clara Nunes na revalorização do samba, do candomblé e das vozes esquecidas da cultura popular brasileira


Especialista em música popular brasileira, Rodrigo Alzuguir é  escritor, músico e produtor cultural, tendo sido distinguido com o  Prémio Jabuti pela biografia do compositor / sambista Wilson Baptista –  O samba foi sua glória e o Prémio da Música Brasileira (categoria  Projeto Especial) pela produção de um álbum dedicado ao artista. Cada  sessão conjuga interpretações ao vivo, projeções de imagens históricas e comentários que contextualizam historicamente a música que partilha.


Estendendo-se de 8 de maio a 12 de junho de 2025, as Quintas Brasileiras realizam-se às 18h30 na Casa Comum. Entrada livre, sujeita à lotação da sala. 


Fonte: Notícias U.Porto

U.Porto oferece espetáculo inédito de marionetas japonesas e portuguesas

Princesa Yaegaki funde tradições do bunraku  japonês e do teatro de marionetas português com música eletrónica ao vivo. Entrada livre

O Salão Nobre da Reitoria da Universidade do Porto é o palco escolhido para a estreia mundial de Princesa Yaegaki,  um espetáculo que une as tradições do bunraku japonês e do teatro de marionetas português, uma colaboração entre a companhia japonesa Otome Bunraku e o Teatro de Marionetas do Porto. A estreia está agendada para o próximo dia 10 de maio, às 21h30, com entrada livre (limitada à lotação da sala).


Princesa Yaegaki
promete ser uma experiência única não só  porque representa uma fusão cultural inédita, ou porque combina  marionetas tradicionais, música ao vivo e elementos de som eletrónico. O espetáculo será interpretado exclusivamente por marionetistas  femininas, o que constitui uma inovação no contexto do bunraku.


O espetáculo conta com a participação de marionetistas como Naomi  Kameno (Hitomi-Za) e Vítor Gomes. A componente musical será interpretada  por Miho Sakuma (flauta), Eriko Nagayama (violino), Aki Kitajima  (violoncelo) e Teresa Barros Pereira Romão (harpa).


A direção musical está a cargo de Hibiki Mukai, compositor japonês  nascido em 1993 em Shizuoka, Japão. Mukai é reconhecido  internacionalmente por integrar elementos tradicionais e contemporâneos  nas suas composições. Estudou na Toho Gakuen School of Music em Tóquio e  completou o mestrado em Sonologia no Royal Conservatoire of The Hague, na Holanda.


Atualmente, reside no Porto, onde prossegue o doutoramento em Media Digitais na Universidade do Porto, com apoio da Agência para os Assuntos Culturais do Governo do Japão. Entre os seus prémios destacam-se o 1.º  lugar na 6th Matan Givol International Composers Competition (Tel Aviv),  o prémio da 3rd International Composition Competition “Prof. Marin  Goleminov” (Sofia) e o 1.º prémio na 84th Music Competition of Japan.

O espetáculo será acompanhado de música ao vivo. Foto: DR

Bunraku

São bonecos feitos de madeira que têm entre 1,30 e 1,50 metros e  podem chegar a pesar 20 kg. São manuseados pela cabeça e mão direita por  um/uma marionetista principal (vestido/a de negro) que conta com a ajuda  de um auxiliar, e pelos pés através de um segundo assistente. Todas as  cabeças de boneco (ou Kashiras) são feitas à mão e representam uma figura específica da história.


Também conhecido como Ningyō Jōruri (人形浄瑠璃), este teatro de fantoches conta histórias, lendas e mitos de um Japão muito antigo, abordando e estabelecendo uma junção entre forças aparentemente antagónicas, tais como as obrigações sociais e as questões emocionais que também estruturam a humanidade. Sendo uma das quatro expressões cénicas da arte tradicional japonesa, encontra-se reconhecida pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade.

Teatro de Marionetas do Porto

Nascido nos finais da década de 1980, o Teatro de Marionetas do Porto tem pautado as suas apresentações por uma visão não convencional  da marioneta. Exit (estreada em 1998) foi a primeira peça de um ciclo  que procurou refletir sobre a condição humana pós-moderna, e no qual o teatro de marionetas é contaminado por outras linguagens artísticas como  a música, o vídeo, a dança e as artes plásticas, assumindo uma dimensão  mais performativa e marcando definitivamente o assumir de um caminho de risco.


A segunda metade dos anos noventa regista a consolidação do projeto  artístico da companhia. O TMP adquire definitivamente uma projeção  internacional que o leva a apresentar-se regularmente na Europa e em diversos países do mundo (Espanha, França, Irlanda, Bélgica, Holanda,  Áustria, Suíça, Itália, Israel, Brasil, Polónia, Cabo Verde, Inglaterra,  Marrocos, China, República Checa, Canadá e Alemanha). E cria uma rede  de parceiros de programação em Portugal que faz com que, atualmente, cerca de 30% da atividade se desenvolva em itinerância.


O TMP pauta a sua ação por uma procura de “novas formas de conceção das marionetas, no limite objetos cinéticos, e novas possibilidades de  explorar a gramática desta linguagem teatral, no que diz respeito à  interpretação e à relação transversal com outras áreas de expressão,  como a dança, as artes plásticas, a música e a imagem”. A abertura  oficial do museu (em 2013) assinalou os 25 anos da companhia. 


Fonte: Notícias U.Porto

Uma viagem pelo asfalto. O rock no Porto nos anos oitenta. Entrevista com os Jafumega

Nesta conversa, José Nogueira, Mário Barreiros e Luís Portugal recordam os primeiros concertos, o processo de criação e as influências que marcaram o percurso de uma banda que ficou na história do rock português.


Esta "revolução cultural" pode ser revivida na exposição Uma viagem pelo asfalto. O rock no Porto nos anos oitenta, patente na Casa Comum. A entrada é  livre!

Maio na U.Porto

Para conhecer o programa da Casa Comum e outras iniciativas, consulte a Agenda Casa Comum ou clique nas imagens abaixo.

Uma viagem pelo asfalto. O rock no Porto nos anos oitenta

Até 20 SET'25 
Exposição | Casa Comum
Entrada livre. Mais informações aqui 

Aula do Visível | Exposição de Obras da Coleção da Fundação Ilídio Pinho

Até 31 MAI'25
Exposição | Edifício Abel Salazar
 Entrada livre. Mais informações aqui 

Aula do Visível – Obras da Coleção da Fundação Ilídio Pinho | Programa de Laboratórios Artísticos

Até 31 MAI'25
Laboratórios artísticos | Edifício Abel Salazar
Entrada Livre. Mais informações e inscrições aqui

Aula do Visível – Obras da Coleção da Fundação Ilídio Pinho | Programa de Visitas Orientadas

Até 31 MAI'25
Visitas orientadas | Edifício Abel Salazar
Entrada Livre. Mais informações e inscrições aqui

A cooperação internacional na visão de Joon-Kon Chung | Conferência 

05 MAI'25 | 10h00
Palestra | Casa Comum 
Entrada Livre. Mais informações aqui 

Quintas Brasileiras 2

08, 15, 22, 29 MAI e 5, 12 JUN'25 | 18h30
Entrada Livre. Mais informações aqui 

"Princesa Yaegaki", de Hibiki Mukai

10 MAI'25 | 21h30
Marionetas tradicionais japonesas e portuguesas | Reitoria da U.Porto
Entrada Livre. Mais informações aqui 

Alfred Hitchcok: In the beginning | II Ciclo de cinema britânico

16, 23, 30 MAI e 6 JUN'25 | 18h30
Cinema | Casa Comum 
Entrada Livre. Mais informações aqui 

Club di Lettura Italiano 2025 | Clube de Leitura Italiano 2025

12 JUN, 17 SET, 29 OUT e 11 DEZ'25 | 19h00
Literatura | Casa Comum e ASCIPDA
Entrada Livre. Mais informações e inscrição aqui 

Gemas, Cristais e Minerais

01 MAR a 30 ABR'25
Exposição | Museu de História Natural e da Ciência U.Porto
Entrada Livre. Mais informações aqui 

Corredor Cultural

Condições especiais de acesso a museus, monumentos, teatros e salas de espetáculos, mediante a apresentação do Cartão U.Porto.
Mais informações aqui

Artistas representados na exposição Aula do Visível – Obras da Coleção da Fundação Ilídio Pinho

Dordio Gomes

Dordio Gomes  (Arraiolos 1890 – Porto 1976)

Estudou na Escola de Belas-Artes de Lisboa onde foi discípulo, entre outros, dos pintores Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929) e José Maria Veloso Salgado (1864-1945).


Entre 1910-1919 foi bolseiro do Estado em Paris. Voltou à capital francesa nos anos 20 (1921-1926), altura em que foi influenciado por Cézanne (1839-1906).


O regresso ao país de origem foi marcado por pinturas alentejanas, em especial por uma série compositiva de cavalos que se pode associar à obra do expressionista alemão Franz Marc (1880-1916).


Nos anos 30 a vontade inovadora da juventude esmoreceu. O artista fixou-se no Porto, onde produziu obras representativas do Alentejo e do Douro, sobretudo das pontes durienses. Nesta cidade lecionou pintura (1933-1960) na Escola de Belas-Artes (atual Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto), contribuindo enormemente para a renovação do ensino académico, e ajudou ainda a introduzir a pintura mural a fresco (1944).


Dordio Gomes expôs individualmente em 1932, 1956 e 1965 e participou nos Salões anuais da Sociedade Nacional de Belas-Artes (1913–1930), em Exposições de Arte Moderna do SPN/SNI(1935–1951) e na  exposição 5 Independentes (1923), da qual foi coorganizador.

Cavalos, óleo sobre tela de Dordio Gomes, datado de 1929, em exibição na sala 3 da exposição “Aula do Visível” patente no renovado edifício Abel Salazar.


MNAC: Dordio Gomes


Fundação Ilídio Pinho


Fernando Pessoa e a Filosofia em Portugal publicado pela U.Porto Press

O livro reflete sobre as relações entre a obra  pessoana e o pensamento filosófico português, através do contributo de  filósofos portugueses.

Fernando Pessoa e a  Filosofia em Portugal foi coordenado pelos docentes Maria Celeste Natário e Paulo Borges e pelo investigador Nuno Ribeiro, resultando de uma parceria entre a U.Porto Press e o Instituto de Filosofia. / FOTO:  U.Porto Press

Fernando Pessoa, nome incontornável da poesia e do panorama literário em Portugal, foi, também, um “poeta animado pela  filosofia”. São palavras do próprio, inscritas num documento de cariz  biográfico (“I was a poet animated by philosophy, not a philosopher with poetic faculties“), parte integrante do arquivo público do autor.


Fernando Pessoa e a Filosofia em Portugal, publicação conjunta da U.Porto Press e do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto (IFUP), reflete sobre as relações entre a obra pessoana e o pensamento  filosófico português. “Ao longo da escrita poético-literária de Fernando  Pessoa encontramos múltiplas referências a autores e conceitos da  tradição filosófica”, defendem Maria Celeste Natário, Paulo Borges e  Nuno Ribeiro, coordenadores da publicação, o que originou “inúmeras reflexões” de pensadores portugueses “acerca do alcance filosófico da escrita de Pessoa”.


Assim, este novo volume da U.Porto Press e do IFUP aborda a  existência “de uma obra filosófica pessoana, indo além das suas produções poético-literárias”, reunindo um conjunto de ensaios relativos  às leituras de filósofos portugueses sobre o universo literário de  Fernando Pessoa.

Esta publicação lança um olhar sobre a obra  filosófica de Fernando Pessoa, para além das suas produções  poético-literárias. / (Foto: U.Porto Press)

São vários os indícios que levam os coordenadores da publicação a incluir os escritos de Pessoa no âmbito da Filosofia em Portugal. No  espólio do poeta e ensaísta português encontram-se “inúmeros escritos  filosóficos – assinados por múltiplas personalidades literárias”,  inéditos à data da sua morte. Destacam, também, textos de cariz  filosófico que publicou, sendo exemplo disso “O que é a metafísica?”, de  1924, assinado pelo heterónimo Álvaro de Campos.


Por outro lado, a obra de Fernando Pessoa é reveladora do diálogo com autores da tradição filosófico-literária portuguesa, entre os quais Francisco Sanches, Antero de Quental, Sampaio Bruno, Leonardo Coimbra,  Teixeira de Pascoaes e Raul Leal.


A leitura deste livro põe em foco o valor filosófico da obra  pessoana, configurando-se “como um palco de diálogo que permite mostrar  as múltiplas e multifacetadas relações entre Pessoa e o pensamento filosófico português”, afirmam os coordenadores.


Fernando Pessoa e a Filosofia em Portugal
está disponível na loja online da U.Porto Press, com um desconto de 10%.

 Sobre os coordenadores

Maria Celeste Natário é Professora Associada no  Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde se doutorou. Tem dedicado grande parte da docência e  investigação aos estudos que compreendem a filosofia e a cultura no seu sentido mais radical: a filosofia como amor ao saber e a cultura como  cuidado regular do pensamento, reflexivo e ativo. Tem procurado a construção de pontes entre a literatura e o pensamento filosófico  português.


Paulo Borges 
(Lisboa, 1959) é Professor no Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e investigador do Centro de Filosofia da mesma Universidade. É  cofundador e Presidente do Círculo do Entre-Ser, associação filosófica e  ética, e da MYMA, associação para a cultura contemplativa. É autor e  organizador de 65 livros de ensaio filosófico, aforismos, poesia, ficção  e teatro e Doutor Honoris Causa pela Universidade Tibiscus de Timisoara (Roménia).


Nuno Ribeiro,
investigador auxiliar contratado do  Instituto de Estudos de Literatura e Tradição (Universidade Nova de  Lisboa – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas), doutorou-se em  Filosofia com uma tese sobre o espólio filosófico de Fernando Pessoa, intitulada Tradição e Pluralismo nos Escritos Filosóficos de Fernando Pessoa. É autor de mais de 20 edições sobre a obra de Fernando Pessoa publicadas na Europa, no Brasil e nos Estados Unidos. 


Fonte: U.Porto Press

Há novos podcasts no espaço virtual da Casa Comum

151. Ousadia, Teresa Almeida Subtil

“Ousadia”, de Teresa Almeida Subtil, in Rio de infinitos / Riu d’anfenitos, março de 2017.

9. Iara Rodrigues

No Alumni Mundus desta semana temos connosco a nutricionista Iara Rodrigues, alumna da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do  Porto (FCNAUP). Apaixonada pela promoção de uma alimentação saudável e  equilibrada, Iara tem focado o seu trabalho no bem-estar, oferecendo uma  abordagem personalizada e sustentável para cada paciente. Acredita no  equilíbrio entre corpo e mente, e a clínica que fundou – Clínica Iara  Rodrigues – reflete essa filosofia, oferecendo um atendimento holístico  que integra nutrição, saúde emocional e estética personalizada.  Participa em programas de televisão e colabora regularmente em várias publicações, é autora de três livros, incluindo Emagreça Sem Fome (ed. Clube do Autor), que vai já na 6.ª edição. É também embaixadora e  consultora de nutrição para várias marcas nacionais e internacionais e  ainda desenvolve o projeto Iara Kitchen, onde promove o bem-estar  através de propostas de alimentação saudável e eventos educativos.


Mais podcasts AQUI


Alunos Ilustres da U.Porto

Augusto Nobre

Retrato de Augusto Nobre datado de 1947, da autoria de Heitor Cramez, que se exibe na Galeria de Retratos do Salão Nobre do edifício histórico da Universidade do Porto.      

Augusto Pereira Nobre, filho de José Pereira Nobre, nasceu na Rua de Santa Catarina, no Porto, a 25 de junho de 1865.


O seu interesse pela Zoologia e dedicação ao estudo dos animais marinhos adveio, segundo contava, das temporadas passadas com a família na praia de Leça da Palmeira. Realizou as primeiras experiências em estudos zoológicos no Museu Municipal do Porto organizado por João Allen e sito na Rua da Restauração, onde havia uma coleção malacológica. E foi na Biblioteca Municipal do Porto que fez as primeiras leituras sobre este tema.


Augusto Pereira Nobre frequentou os estudos liceais num colégio e numa escola pública e com 18 anos escreveu o trabalho "Ensaio sobre os Moluscos testáceos marinhos observados entre Espinho e Póvoa", publicado no 1.º volume da revista A Mocidade de Hoje (1882).


Em 1884 ingressou na Faculdade de Filosofia da Universidade de Coimbra, onde estudou Botânica e Zoologia. Nesta cidade estabeleceu contactos duradouros com Júlio Henriques, professor de Botânica, e com Albino Giraldes e Paulino de Oliveira, professores de Zoologia. Realizou excursões zoológicas e cursou as disciplinas de Ciências Naturais.


Da Universidade de Coimbra mudou-se para a Academia Politécnica do Porto, onde frequentou os preparatórios de Medicina. Rapidamente, porém, procurou no estrangeiro um ensino da Zoologia de pendor menos teórico. Em Paris, trabalhou sob a direção do Professor Edmond Perrier (1844-1921), diretor do Museu de História Natural, frequentou diversas disciplinas na Universidade da Sorbonne e os Trabalhos Práticos de Zoologia na École Pratique des Hautes Études. O seu mestre sugeriu-lhe uma passagem pela Estação Zoológica de Sète, anexa à Faculdade de Montpellier.


De regresso ao Porto, em 1890, foi convidado por Amândio Gonçalves, professor de Botânica na Academia Politécnica do Porto, para ser seu assistente nos trabalhos práticos. No ano seguinte foi nomeado ajudante prático do professor Aarão de Lacerda na disciplina de Zoologia, assim dando início a uma longa colaboração com este cientista e encetando o processo de modernização do ensino da Zoologia em Portugal.


Augusto Nobre foi nomeado, em 1901, pelo decreto de 5 de dezembro, naturalista-adjunto de Zoologia da Academia Politécnica do Porto. Depois de concluído o bacharelato em Ciências Histórico-Naturais (1912), concorreu a um lugar de docente na recém-instituída Faculdade de Ciências do Porto, conseguindo, por mérito e sem se submeter a concurso, ocupar a vaga de professor extraordinário do 2.º Grupo, 3.ª Secção. Foi nomeado pelo ministro Duarte Leite a 7 de dezembro de 1912. A 21 de agosto de 1915 tomou posse como professor ordinário e pelo decreto de 31 de março de 1921 passou a dirigir o Instituto de Zoologia. Em 1918 foi-lhe conferido o grau de doutor em Ciências Histórico-naturais pela FCUP.


Augusto Nobre jubilou-se em 1935, quando atingiu o limite de idade. Pouco depois o seu nome foi atribuído ao Instituto de Zoologia e Estação de Zoologia Marítima, situado na Avenida de Montevideu, na Foz do Douro, que criara em 1914.


Ao longo da sua carreira desempenhou outras funções de relevo. Foi vogal da Comissão Permanente de Piscicultura, membro do Conselho Florestal do Ministério de Agricultura, vogal Naturalista da Comissão Central de Pescarias, vogal do Conselho de Estudos de Oceanografia e Pescas, relator do Orçamento e chefe do Gabinete do Ministério da Instrução, 3.º Reitor da Universidade do Porto (1919-1926) e Ministro da Instrução (1920-1922), função que lhe permitiu criar a Faculdade Técnica, o Observatório Astronómico anexo à Faculdade de Ciências e transformar a Escola de Farmácia em Faculdade.


Este reputado cientista e político foi autor de mais de uma centena de trabalhos que se debruçaram em particular sobre a fauna marinha e os moluscos portugueses e foi o fundador da revista Annaes de Sciências Naturaes (1894-1907). Postumamente foi dada à estampa uma edição que preparara com poemas de António Nobre, seu irmão, e que tinha reunido na obra Despedidas (1902), prefaciada por Sampaio Bruno. Coordenou várias edições do livro de poemas Só e compilou memórias, cartas e depoimentos sobre o irmão no livro Leça do Balio – recordações, e estudos de há sessenta anos.


Uma das suas maiores realizações foi, sem dúvida, o Museu de Zoologia (sala integrada atualmente no Museu de História Natural da FCUP, que tem a sua sede no edifício histórico da Universidade do Porto), onde contou com a colaboração do seu filho Augusto Ferreira Nobre, até 1930, ano em que este faleceu. Dirigiu o museu - que abriu as suas portas ao público em 1916 - a partir de 1892. Foi, também, diretor do Laboratório de Zoologia.


Augusto Nobre também esteve ligado à fundação da Estação Aquícola do Rio Ave, instituída em 1886 por despacho de Bernardino Machado, a qual veio a dirigir. Foi sócio académico da Academia das Ciências de Lisboa (eleito a 23 de setembro de 1893) e do Instituto de Coimbra.


Morreu na sua casa da Foz, na madrugada de 13 de setembro de 1946.


U.Porto - Antigos Estudantes Ilustres da Universidade do Porto: Augusto Nobre


U.Porto - Galeria de Retratos do Salão Nobre da Universidade do Porto - Índice

Copyright © *2020* *Casa Comum*, All rights reserved.
Os dados fornecidos serão utilizados apenas pela Unidade de Cultura da Universidade do Porto para o envio da newsletter da Casa Comum, bem como para divulgação futura de iniciativas culturais. Se pretender cancelar a recepção das nossas comunicações, poderá fazê-lo a qualquer momento para o e-mail cultura@reit.up.pt, ou clicar em Remover, após o que o seu contacto será prontamente eliminado da nossa base de dados.
Quaisquer questões sobre Proteção de Dados poderão ser endereçadas a dpo@reit.up.pt.