SARAMAGO, AGOSTINHO E VALTER: A ARTE FAZ-NOS VER MELHOR

Há obras de arte que são como potentes lentes: olhamos o mundo através delas e ficamos a ver melhor. Por vezes, o efeito não é imediato: provocam-nos tonturas como as lentes progressivas. Mas depois, aos poucos, o mundo vai ficando mais nítido e interrogamo-nos como é possível termos alguma vez achado antes que éramos capazes de ver. 


Quando assumiu a curadoria da exposição Ver Cegueira Adentro – 100 anos de José Saramago, Valter Hugo Mãe prestou serviços de optometria. É que não é fácil entrar no mundo de Agostinho – só se formos incautos é que lá penetramos sem cartilha. Agostinho tem uma imaginação descontrolada, que se torna quase violenta, tomando de assalto todos os suportes que o pintor encontra, para além das óbvias telas: caixas, caixinhas, papéis, papelinhos, estruturas em madeira – e até bancos. Coube a Valter, por isso, disciplinar. As mais de cem obras expostas nas Galerias da Casa Comum foram sujeitas a severo escrutínio, categorizadas, presas à parede como às grades de uma prisão. E quem lá encontramos? As personagens de Saramago.


A exposição resulta de uma promessa que Agostinho fez a Saramago quando este o visitou no atelier: espelhar nas telas as suas leituras da obra do Nobel português. Acredito que Agostinho não tivesse previsto o excesso a que se estava a entregar. Confidenciou-me que começou pelo princípio “uma tela, um livro”, tendo-se, contudo, depois sentido compelido a pôr os livros em diálogo. Mas, ao conhecerem-se, as personagens mostraram assombro. Surpresa. Terror pela convivência forçada.


A narrativa curatorial de Valter Hugo Mãe mostra a arte de Agostinho Santos como um ato de predação: um pintor que se alimenta dos despojos de Saramago. Ao mesmo tempo, contudo, sublinha a profunda humanidade de Agostinho: ao contrário do leão que se refestela e dorme depois de comida a presa, Agostinho digere e regurgita as personagens saramaguianas para sublinhar os seus conflitos e complexidades. Para evidenciar como o mundo seria insuportável se a intensidade das suas agitações fosse justaposta. Para nos alertar. Para nos fazer ver.


Parece, de facto, paradoxal, mas é assim que Valter Hugo Mãe nos faz sair da exposição de Agostinho Santos: vendo na inquietude do pintor um apelo à paz.

Fátima Vieira
Vice-Reitora para a Cultura, Museus e Editora

Casa Comum Fest despede-se com Abril no ventre

A última semana do festival traz à Reitoria exposições, lançamento de livros, cinema, teatro, dança, debates, entre outros eventos com entrada livre.

Jardim Botânico do Porto

A 1.ª edição dos Vasos  Comunicantes, um conjunto de encontros sobre personagens da Academia com  uma atividade política e social de destaque, será dedicada a Óscar Lopes. Foto: DR

Um mês e quase uma centena de eventos depois, o Casa Comum Fest está a chegar ao fim. Mas não sem antes nos presentear com mais uma semana “a romper estereótipos”, desígnio maior deste Festival que, tendo como “centro” a Casa Comum da Universidade do Porto (à Reitoria), quis perceber, afinal, o que pode causar a cultura.  Surpresa, espanto, partilha, generosidade, emoção. Através do teatro,  da poesia, da música, das artes visuais, da conversa… Partilharam-se  ideias, convicções, histórias, conhecimento, cruzamos territórios.  Criaram-se novas experiências. Abandonaram-se zonas de conforto. Vamos  conhecer o programa da última semana?


Por ser uma semana especial, o convite também começa num dia invulgar: no domingo, dia 24 de abril, logo após o almoço. Às 15h00, será lançado, na Casa Comum, o mais recente livro da U.Porto Press que é um exercício de imaginação (possível) face a uma pergunta: E se,  em novembro de 1807, a família real portuguesa não tivesse conseguido embarcar para o Brasil, horas antes de entrarem em Lisboa as tropas francesas? O que teria acontecido? Talvez o Brasil se tivesse dissolvido em repúblicas, como aconteceu na América Hispânica. A história do que poderia ter acontecido constrói o primeiro romance do filósofo e antigo Ministro da Educação do Brasil Renato Janine Ribeiro: A Neve Quente dos Trópicos. O Brasil sem a Família Real.


Também no dia 24, mas às 17h00, será lançado o livro Um Certo Porto, com a perspetiva do Cônsul Honorário da República Francesa no Porto, Manuel Cabral. A  apresentação contará com intervenções do autor, da Vice-Reitora da  U.Porto para a área da Cultura, Fátima Vieira, de Joel Cleto, João  Pinho, Alvaro Negrello e Filipa Leal. No final do evento haverá um Porto  de Honra.


Dia 25 de abril, a partir das 16h00, o Casa Comum Fest sai à rua. E cabe à Seiva Trupe a tarefa de chamar o povo. Maria Teresa Horta será apenas o pretexto  para uma reflexão sobre a necessidade de agir e lutar contra as desigualdades e as injustiças, não só sobre a atual situação da mulher,  mas sobre todos os  grupos estigmatizados. Convocam-se os ventres das mulheres de Portugal é o mote que nos vai levar todos à Praça Gomes Teixeira, no Dia da Liberdade.

Jardim Botânico do Porto

Encenado pelo dramaturgo Tó Maia (ao centro), o espetáculo Convocam-se os ventres das mulheres de Portugal sobe ao palco da Casa Comum na  tarde de 25 de abril. (Foto: Seiva Trupe)

À noite, há cinema na Casa Comum. Em exibição estará a Revolução de Maio (1937), de António Lopes Ribeiro, um filme de propaganda produzido pelo Estado Novo e que marca também o arranque do ciclo Memória, Cidadania e Liberdade. O filme será comentado por Joana Canas Marques e Pedro Alves.


Na quarta-feira, dia 27 de abril, a partir das  18h30, a proposta inclui uma viagem pela história da música, do  Contemporâneo ao Barroco, o que, neste caso, significa de 2015 a 1720. A  liderá-la estará o duo formado por Tiago Costa, ao violino, e Olga  Vasilyeva, ao piano, que interpretarão obras de Colomina i Bosch,  Messiaen, Prokofiev, Schumann, Mozart e Bach (ver programa).

Recordar Óscar Lopes

Era filho de um compositor e de uma violoncelista. Em colaboração com o historiador António José Saraiva (1917-1993) escreveu a História da Literatura Portuguesa. Foi ativista nas ações da oposição democrática antifascista. Militante (1944) e dirigente do Partido Comunista  Português, passou pela prisão (1955-1956) e foi impedido de sair do país  para participar em reuniões científicas no estrangeiro. Após o 25 de  abril, colaborou no Comité do PCP e foi deputado à Assembleia da  República Portuguesa pelo PCP. Membro ativo da Sociedade Portuguesa de Escritores, encerrada pelo Estado Novo, fez parte da comissão promotora da constituição da Associação Portuguesa de Escritores, de que foi presidente.


A instauração do regime democrático no país permitiu-lhe lecionar na Faculdade de Letras da U.Porto, onde foi nomeado professor catedrático. Jubilou-se em 1987.  Foi diretor da FLUP entre 1974 e 1976 e responsável  pela criação do Centro de Linguística da U.Porto. De quem falamos? De Óscar Lopes, claro. É a ele que se dedica a primeira edição dos Vasos Comunicantes,  encontros sobre personagens que se cruzam na Academia do Porto (Universidade e Escolas antecedentes) e nas principais instituições da  cidade do Porto. Marcada para o dia 28 de abril, pelas 18h00, a conferência contará com a presença de João Veloso, Pró-reitor da  U.Porto, com responsabilidade dos pelouros da Promoção da Língua  Portuguesa e da Inovação Pedagógica, e do jornalista e escritor César  Príncipe.

Voltamos à música?

Dia 29 de abril, sexta-feira, a partir das 21h30, a Casa Comum tem dois projetos musicais para apresentar, ambos acarinhados pelo Comissariado Cultural da FEUP: o Grupo Vocal e o Grupo de Jazz.


O Grupo Vocal da FEUP, liderado por Fátima Serro, vai trazer nada mais, nada menos do que 17 cantores. Aberto a toda a  comunidade da universidade do Porto, o GVF é, acima de tudo um grupo de  pessoas que têm em comum um grande prazer em juntar as suas vozes para  fazer música. Pode contar com um reportório eclético, incluindo temas  gospel, chorinho, samba, pop e blues.


O Grupo de Jazz da FEUP, liderado por Paulo Gomes, é  um projeto promovido pelo Comissariado Cultural da FEUP aberto à  participação de membros da comunidade académica (estudantes, técnicos,  docentes), visando a fruição e divulgação da música de jazz na FEUP e  outras faculdades da Universidade do Porto. Apresenta standards do repertório jazz, com uma secção de metais com uma aproximação à sonoridade de uma big band. O programa completo pode ser consultado aqui.

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Grupo de Jazz da FEUP. (Foto: DR)

Para sábado, dia 30 de abril, são duas as sugestões. Começamos com cinema. O Ciclo Memória, Cidadania e Liberdade traz uma adaptação do romance de Carlos de Oliveira. Uma abelha na Chuva (1971), de Fernando Lopes, faz um retrato de um ambiente social rígido, com três classes bem demarcadas, que formavam o meio rural português da época: o  povo, a aristocracia e a burguesia. Passa na Casa Comum às 21h00, com  comentários de Clara Sottomayor e Jorge Gato.


E para fechar o festival, haveria melhor forma do que irmos todos dançar? Passa por aí a proposta do grande baile que o Núcleo de  Etnografia e Folclore da U.Porto (NEFUP) vai levar, a partir das 21h30, à Praça Gomes Teixeira. A acompanhar os bailarinos estarão a orquestra do NEFUP e outros músicos convidados.

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O Casa Comum Fest vai encerrar ao ritmo das danças do NEFUP. (Foto: Egidio Santos/U.Porto)

“Um projeto de intervenção social”

Política, ambiente, a luta contra a discriminação e a desigualdade, a militância pela inclusão pela tolerância foram temas transversais ao  Casa Comum Fest… que promoveu o diálogo entre várias instituições da U.Porto, diversos artistas e parceiros da cidade e tentou envolver toda a sociedade civil. Mais do que um evento cultural, foi “um projeto de intervenção social”, refere a Vice-Reitora da U.Porto para a área da  Cultura, Fátima Vieira.


“A Universidade não é só local de formação especializada dos estudantes, é também um momento para a formação das consciências e  preparação para a cidadania. Ao longo de todo o mês pudemos oferecer à  cidade teatro, música, poesia, exposições, imensos debates, saraus  científicos. E sabemos que temos de falar sobre todas estas questões se  queremos preparar um futuro onde haja mais igualdade”, acrescenta a  responsável. Fátima Vieira nota ainda que “a iniciativa Casa Comum é um local de saberes, voltado não só para a comunidade académica, mas também para a cidade, com o objetivo de promover atividades culturais diversas na lógica da democratização do acesso à cultura e ao conhecimento e da promoção de um espírito crítico, criativo, e solidário”. 


Fonte: Notícias U.Porto

Memória, Cidadania e Liberdade inspiram ciclo de cinema na U.Porto

Ciclo de seis filmes com entrada gratuita vai  decorrer de 25 de abril a 27 de maio, no Auditório da Casa Comum  (Reitoria). Entrada livre,

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Bom Povo Português (1975), de Rui Simões, passa dia 20 de maio. Foto: DR

São seis filmes para ver nestes dias/noites em que  se festeja a Revolução dos Cravos, a liberdade e o pleno exercício de  uma cidadania democrática.  Juntos, perfazem o ciclo de cinema Memória, Cidadania e Liberdade que vai decorrer nos meses de abril e maio, na Casa Comum da Universidade do Porto (à Reitoria).


Organizado pela Reitoria da U.Porto e pelo CITCEM – Centro de  Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória, o ciclo arranca  a 25 de abril, pois claro, com a exibição de Revolução de Maio (1937),  de António Lopes Ribeiro. Esta longa metragem portuguesa, filme de propaganda ideológica do Estado Novo, será comentado por Joana Canas  Marques e Pedro Alves.


Considerado o mais emblemático filme de propaganda ideológica a favor da ditadura do Estado Novo, Revolução de Maio foi pensado e financiado pelo Secretariado de Propaganda Nacional dirigido  pelo grande ideólogo cultural do regime, António Ferro. O protagonista,  César Valente, é um jovem agitador de simpatias comunistas, vindo do  exílio, que quer sabotar o regime. Enquanto é vigiado pela polícia  política para apanhar todos os seus cúmplices, o jovem apaixona-se por  Maria Clara e com ela vai perceber as mudanças económicas e sociais que o  país teve desde 1933. Dá-se então uma espécie de “milagre” e César  acaba por renegar o comunismo e aderir entusiasticamente à causa  salazarista.


No dia 30 de abril, passa Uma Abelha na Chuva (1971),  de Fernando Lopes. Esta adaptação cinematográfica do romance homónimo  de Carlos Oliveira tem como protagonistas um casal, Maria dos Prazeres (Laura Soveral) e Álvaro Silvestre (João Guedes), que vivem num meio  rural e cujo casamento está longe de ser um modelo de felicidade e  apenas mantém uma unidade aparente, embora opressiva e complexa. O filme  será comentado por Clara Sottomayor e Jorge Gato.


No dia 6 de maio, vamos poder ver Cinco Dias, Cinco Noites (1996), de José Fonseca e Costa. A partir do romance homónimo de Álvaro  Cunhal, escrito sob o pseudónimo Manuel Tiago, Fonseca e Costa filma o drama dos opositores políticos ao regime salazarista durante os anos 40  que tentam clandestinamente passar a fronteira para o exílio. Rui Sá e  Gaspar Martins Pereira serão os “comentadores de serviço”.

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Cinco Dias, Cinco Noites (1996), de José Fonseca e Costa

Dia 13 de Maio, o ciclo apresenta O Meu Coração Ficará no Porto (2008), de Jorge Campos. Este documentário aborda a passagem de  Humberto Delgado pelo Porto, em Maio de 1958 durante a candidatura à  Presidência da República. Produzido pelo Instituto Politécnico do Porto,  o documentário mistura fotos e imagens da época com outras mais atuais e  conta com a participação da filha e do neto de Delgado, além de outros  protagonistas e testemunhas da época. Comentam o filme Adrião Cunha,  Pedro Bacelar de Vasconcelos e o próprio realizador.


Dia 20 de maio,  vamos ficar com Bom Povo Português (1975), de Rui Simões. Este documentário histórico descreve a agitada situação política e social entre o 25 de Abril de 1974 e o 25 de  Novembro de 1975, o período mais conhecido por PREC. É uma visão  comprometida com uma visão política, o que é assumido pelo realizador quando afirma que a equipa de realização «ao longo deste processo, foi ao mesmo tempo espectador, ator, participante, mas que, sobretudo, se encontrava totalmente comprometida com o processo revolucionário em  curso». Estamos a falar de um “cinema militante” ou de “intervenção” que  usa o cinema como uma arma. E, por isso, o debate plural que se segue  por parte de comentadores políticos de uma geração mais nova assume um enorme interesse. Os comentadores são Carlos Guimarães Pinto, José  Soeiro e Tiago Barbosa Ribeiro.


O ciclo encerra no dia 27 de maio, com a apresentação de S. Jorge (2016),  de Marco Martins. Trata-se de um filme sobre a tragédia social  provocada pela crise económica financeira em 2011, em Portugal.


Jorge, o protagonista interpretado por Nuno Lopes (vencedor do prémio  de melhor ator do Festival Internacional de Veneza, em 2016) é um  jogador de boxe em decadência que se encontra sem trabalho, sem  dinheiro, cheio de dívidas e com um filho a seu cuidado. Vai aguentando  várias humilhações e encontra trabalho como cobrador de dívidas de quem,  como ele, se encontra também em situações desesperadas. Filme realizado  de forma crua, aborda sem condescendência ou sentimentalismos as  consequências sociais da crise e as inúmeras e variadas violências que  daí decorreram. Comentam o filme Manuel Pizarro e Sérgio Aires.

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S. Jorge (2016), de Marco Martins, é exibido no dia 27 de maio.

Revisitar Portugal a partir do cinema

O conjunto de filmes permite múltiplas declinações sobre a liberdade e  a cidadania, partindo da recuperação da memória e do imaginário do  Estado Novo para o olhar de cineastas contemporâneos sobre temas como a  luta pela liberdade, a clandestinidade, o papel da mulher na família e o  seu estatuto na sociedade, o processo revolucionário e a desigualdade social. Mas falar-se-á sobretudo de Cinema e da sua capacidade  inigualável para ler e dar a ver os sinais do tempo e revela-se o papel  do Arquivo Nacional das Imagens em Movimento (ANIM) da Cinemateca Portuguesa.


Todas as sessões de cinema serão seguidas de debate e contam com a  presença de convidados com uma visão plural sobre as temáticas  abordadas. O objetivo é partir da memória cinematográfica para analisar o Portugal dos séculos XX e XXI.


A curadoria do ciclo pertence a Jorge Campos (ESMAE) e Maria João Castro (ESMAE; CITCEM).


Todas as sessões têm início às 21h00. A entrada é livre. 


Fonte: Notícias U.Porto

ABRIL NA U.PORTO

O Casa Comum Fest é um novo festival cultural que promove o diálogo entre várias instituições da Universidade do Porto, diversos artistas e toda a cidade. Em abril, assista a exposições e concertos, participe nas conversas e oficinas e emocione-se com peças de teatro e documentários. O Casa Comum Fest causa cultura em toda a cidade. Descubra tudo o que lhe vai causar a si.

 

Consulte o programa do Casa Comum Fest na agenda do site da Casa Comum.


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Neste 25 de Abril: Convocam-se os ventres das mulheres de Portugal

Espetáculo da Seiva Trupe sobe ao palco da  Reitoria da U.Porto na tarde de 25 de abril, para encerrar o festival TRANSEUROPA. Entrada livre.

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Começamos com uma convocatória invulgar, mas o espetáculo também promete ser pouco convencional: Convocam-se os ventres das mulheres de Portugal. É assim que a Seiva Trupe chama a população para a rua, ou, neste caso, para a Praça Gomes Teixeira, ponto de encontro para o espetáculo que vai à cena na Reitoria da Universidade do Porto a partir das 16h00 do próximo dia 25 de abril.


Ao pensar o espetáculo, o dramaturgo e encenador Tó Maia não pôde esquecer o polémico caso das “três Marias” e a publicação, em 1972, das Novas Cartas Portuguesas que  “criticam e denunciam diferentes situações de violência dentro do  regime do Estado Novo”, nomeadamente “as discriminações exercidas sobre  as mulheres”.


Houve ainda outro momento que fez questão de lembrar: aquele que se viveu a 13 de janeiro de 1975, no Parque Eduardo VII, com a Manifestação  do Movimento de Libertação das Mulheres. Episódios que inspiraram a  criação de um espetáculo único, que nos pretende levar a refletir não só  sobre a atual situação da mulher, mas também sobre outros grupos  estigmatizados.


“O percurso da luta das mulheres e de outros grupos historicamente  discriminados pela conquista dos seus direitos já vai longo, mas longe  está ainda o seu término” afirma Tó Maia.


A partir de excertos literários, artigos de jornais e poemas, vão-se desfiando factos e ficções, que pretendem “estimular a reflexão e a  ação no combate a todas e quaisquer formas de preconceito e  discriminação de género, raça, orientação sexual, ou outras… ” É chegada  a hora de se conjugar, e com caracter de “urgência”, o verbo agir”,  apela o dramaturgo.

A homenagem a Maria Teresa Horta

Rodeado dos intérpretes Allex  Miranda, David Carvalho, Fernando André, Kátia Guedes, Luciana Sanhudo,  Mariana Costa e Silva, Maria Tavares e Mário Moutinho (com a  participação especial de Sandra Salomé),  Tó Maia “criou uma metáfora cheia de metonímias visuais e palavras singulares” diz-nos Castro  Guedes, Diretor Artístico da Seiva Trupe. E  ainda nos acrescenta temas  como o da “Emancipação da Mulher Negra”.


Para tal, o encenador  recorreu a vários textos, não deixando de se centrar “nessa figura ímpar  que é Maria Teresa Horta“, a quem se presta homenagem “como símbolo vivo das célebres Três Marias das Novas Cartas Portuguesas e intrépidas  lutadoras da Causa das Mulheres”- sendo, ela mesma, “a Causa da  Liberdade”.

“Confio na generosidade do público”

Para  além de “uma  honra”, Castro Guedes considera “uma tremenda responsabilidade terem  sido chamados, com um teatro interativo, para integrar o encerramento  do Transeuropa 22 “que, este ano, decorre na mais que liberal cidade  portuguesa: o Porto”.

O  Diretor Artístico da Seiva Trupe confessa que  “quando a Fátima Vieira  (Vice-Reitora da U.Porto) lançou a ideia e o  Álvaro Vasconcelos (Fórum  Demos) nos veio desinquietar”, temeu perante o  desafio, mas olhando  para o que tem pela frente não se arrepende.  “Confio neles todos e confio na generosidade do público para nos  acompanhar nesta aventura”. Em tom de desabafo, “bendigo a hora em que a  Fátima (Vieira) e  o  Álvaro (Vasconcelos) ousaram ter o fogo sagrado da  loucura  artística”.


Com entrada livre e gratuita, o espetáculo vai  decorrer no Salão Nobre da  Reitoria da U.Porto.  Mas não se apresse a  entrar no edifício histórico. Há uma performance, que antecede a peça. Onde? Precisamente, na Praça Gomes Teixeira.

Integrado  na programação  do primeiro Casa Comum Fest, Convocam-se os ventres das  mulheres de  Portugal marca igualmente o encerramento do TRANSEUROPA, um festival  artístico, cultural e político transnacional que existe   desde 2007 e  que tem organizado conferências, workshops, exposições   artísticas,  performances, exibições, concertos e debates políticos.

Na  edição de  2022, a principal cidade é o Porto e o festival foi organizado em  cooperação com a Universidade do Porto, a Cooperativa Árvore, o Fórum  Demos e a Casa Comum da Humanidade, entre outras instituições.

Fonte: Notícias U.Porto

Há novos podcasts no espaço virtual da Casa Comum

2. Deixo-te as flores, Albano Martins 

“Deixo-te as flores”, Albano Martins

30. Poema Pessoal 

Agustina toma como mote um poema de Pessoa: “todo o teatro é um muro de música, por onde um cão verde corre atrás da minha saudade”. E volta  Agustina às suas memórias, lembrando a casa de Esposende.

Mais podcasts AQUI


Doutores Honoris Causa da U.Porto

Maria Manuela Gouveia Delille

A 15 de maio de 2008 houve mais um Doutoramento Honoris Causa na Universidade do Porto, o 68.º da história desta instituição. A nova Doutora, Maria Manuela Gouveia Delille, foi escolhida pela Faculdade de Letras.


A cerimónia teve lugar no Salão Nobre da Reitoria da Universidade do Porto. Entre os presentes destacavam-se, além da homenageada, o Reitor da Universidade, Professor Doutor José Carlos Diogo Marques dos Santos (18.º Reitor, de 2006-2014); o Diretor da Faculdade de Letras, Professor Doutor Jorge Alves; o Mestre de Cerimónias, Professor Doutor José Meirinhos; o elogiador da doutoranda, Professor Doutor John Greenfield e o seu Padrinho, Professor Doutor Gonçalo Vilas-Boas.

EU University & Culture Summit / Day 1, Afternoon

Maria Manuela Gouveia Delille

Maria Manuela Gouveia Delille nasceu em Coimbra em 1936. Em 1961 licenciou-se em Filologia Germânica, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, depois de ter frequentado, como bolseira do Deutscher Akademischer Austauschdienst (DAAD), a Universidade de Bona, na República Federal da Alemanha.


Em 1963 ingressou no corpo docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra onde, em 1981, defendeu a dissertação de doutoramento em literatura alemã - A Recepção Literária de H. Heine no Romantismo Português (1844-1871), depois publicada pela Imprensa Nacional - Casa da Moeda (1984).


Em 1988 realizou provas de agregação e, em 1989, foi nomeada professora catedrática de Literatura Alemã na Universidade de Coimbra, lugar que ocupou até à jubilação (2006). Nesta Faculdade desempenhou também as funções de Diretora do Instituto de Estudos Alemães, de presidente da Comissão Científica do Grupo de Estudos Germanísticos e de coordenadora do Programa Erasmus / Sócrates, na área de Estudos Alemães.


Na Faculdade de Letras da Universidade do Porto foi orientadora científico-pedagógica do Grupo de Estudos Germanísticos (1982-1987). Desempenhou funções similares no Departamento de Línguas e Culturas Modernas da Universidade de Aveiro (1988-1993).


Maria Manuela Gouveia Delille foi cofundadora e primeira presidente da Associação Portuguesa de Estudos Germanísticos (APEG) e depois sua sócia honorária, e vice-presidente da Associação Portuguesa de Literatura Comparada (1992-1996).


Integrou o Internationaler Beirat do Jahrbuch Deutsch als Fremdsprache (1988-1996). É membro de diversas associações internacionais, em Portugal e no estrangeiro. Fundou a Unidade de Investigação e Desenvolvimento CIEG - Centro Interuniversitário de Estudos Germanísticos, de que foi coordenadora científica (1994-2006), e ajudou a fundar a Runa. Revista Portuguesa de Estudos Germanísticos, que também dirigiu (1991-1997).


Publicou duas dezenas de livros (da sua autoria, edição e tradução ou em colaboração) e 75 artigos em revistas nacionais e internacionais. Os seus trabalhos tratam de diversos autores das literaturas alemã, inglesa e portuguesa e também de figuras da cultura europeia; versam ainda sobe temas da história e da política universitária e, sobretudo, das relações literárias e culturais luso-alemãs.


Em 1989 foi agraciada com a Ordem de Mérito (Verdienstkreuz am Bande) da República Federal da Alemanha e, em 2004, com o Prémio Jacob e Wilhelm Grimm (Jacob-und Wilhelm-Grimm-Preis), que é atribuído anualmente pelo DAAD a um germanista estrangeiro.


Sobre Maria Manuela Gouveia Delille (up.pt)


Sobre o doutoramento honoris causa de Maria Manuela Gouveia Delille (up.pt)

Para mais informações consulte o site da a Casa Comum - Cultura U.Porto

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