A AMIZADE SOLAR DE NUNO GRANDE

Não sei se existe a expressão “amizade solar”, mas é a que me parece adequada quando penso no Professor Nuno Grande – sobretudo depois da sessão de encerramento da FIGURA EMINENTE 2022 NUNO GRANDE, que decorreu na Reitoria da Universidade do Porto na passada quinta-feira. Nesse dia, o Salão Nobre encheu.


O programa para a tarde, pousado em cima de cada uma das 220 cadeiras, anunciava uma sessão longa: duas intervenções musicais (Coral de Biomédicas e Coral Alumni de Biomédicas) e 24 intervenientes (para além do Reitor da U.Porto e do Diretor do ICBAS) distribuídos por três sessões moderadas pelos filhos de Nuno Grande (Catarina, Cristina e Nuno). Alguns eram nomes sonantes do mundo da academia, da medicina, da arquitetura e da política – como Alexandre Alves Costa, Alexandre Quintanilha, Artur Águas, Artur Santos Silva, Júlio Machado Vaz e Manuel Correia Fernandes, entre outros (que me perdoarão, espero, por aqui não os mencionar), mas à medida que fomos ouvindo os testemunhos destes e de outros intervenientes (familiares, colaboradores...), percebemos que tinham sido convidados a falar porque haviam beneficiado da amizade de Nuno Grande. “Beneficiado” é mesmo a palavra adequada: foi de forma comovida que o afilhado do Professor afirmou sentir-se hoje melhor pessoa por ter convivido com o seu padrinho.


Lembro-me de, em pequena, fechar os olhos e ficar quieta, sentada, de cara virada para o sol. Recordo, em particular, de o fazer no banco de trás do carro dos meus pais, e de pensar que o sol era meu amigo.


Não li tratados sobre a amizade, mas sempre pensei que temos, na vida, dois tipos de amigos: os que precisam de nós e que, na relação complexa da amizade, nos pedem atenção redobrada (o que, porque somos amigos, temos e devemos dar); e aqueles que nos iluminam com a sua presença, só por ali estarem.


Não conheci pessoalmente o Professor Nuno Grande, mas acredito que, para as muitas pessoas que passaram na sua vida, ele tenha sido um amigo solar. E esse é um legado maior do que o da sua brilhante carreira enquanto médico, investigador e professor.


Fátima Vieira

Vice-Reitora para a Cultura e Museus

O traço de Álvaro Siza e a pena de Valter Hugo Mãe encontram-se na Casa Comum


Édipo/Antígona - Desenhos de Siza Vieira com textos de Valter Hugo Mãe abre ao público dia 28 de fevereiro, às 18h00. A entrada é livre.

EU University & Culture Summit / Day 1, Afternoon
Os desenhos que integram a exposição "nasceram" em 2014, das mãos de Álvaro Siza. Foto: António Choupina


Vamos caminhar pelo universo da tragédia grega, levados pela mão ou, mais concretamente, pelo traço de Álvaro Siza.  A leveza da pluma faz-se traço fino, conduzido pela precisão de um  bisturi. Nesta viagem, o reconhecido arquiteto e antigo professor da  Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP) foi convocado  por duas personagens do dramaturgo grego Sófocles (496 a.C. – 406 a.C.)  que habitam o imaginário coletivo da humanidade: Édipo Rei e Antígona. O  que vamos ver na Casa Comum (à Reitoria) da Universidade do Porto a partir de 28 de fevereiro são desenhos de Álvaro Siza, que serviram de inspiração a textos do escritor Valter Hugo Mãe.

A memória inteira do mundo


Quando se bate a porta de casa e o dia fica lá fora, insufla-se o  tempo e o espaço da imaginação. São universos ancorados em “valores imortais da nossa coletiva humanidade”, diz-nos o arquiteto António  Choupina, que tantas vezes observou o desenlace do traço do mestre.


Álvaro Siza sempre leu muito, “Hemingway, Faulkner e tantos outros”,  desde muito jovem, aos 16 anos, nomeadamente “no elétrico que apanhava  em direção à Faculdade de Arquitetura da U.Porto”. É é “sempre à noite”  que estas narrativas, “não arquitetónicas” saltam para o papel, que é  como quem diz, para o caderno…


Ora é, precisamente, esse o caderno do primeiro Pritzker  português, em forma de harmónica de acordeão, que vamos ter na Casa  Comum. Só que a uma escala bem mais ampliada. Vamos caminhar, lado a lado, pelo imaginário de Sófocles, reinterpretado por Álvaro Siza.

EU University & Culture Summit / Day 1, Afternoon
Retirado do caderno de desenhos de Álvaro Siza Vieira

É a tragédia grega, mas com adaptações. Não se conte, por exemplo,  com o desenho da carruagem que Édipo encontra quando sai de Corinto em  direção a Tebas. O veículo que vamos encontrar faz-nos antes lembrar um Volkswagen Carocha, ou mesmo, “uma mescla do Fiat de Siza com o Cadillac limusina que o seu pai alugava nos verões de 1940-50”.


Nasceram em 2014, os desenhos que contam a história de Édipo Rei, destinado à maldição de matar o próprio pai e casar com a mãe. Deste  leito incestuoso, esposa/mãe, nasceram quatro filhos/irmãos, nomeadamente Antígona. Ora, 2014, recorda António Choupina, foi  precisamente o ano em que Siza tomou a difícil decisão de qual o destino a dar ao seu arquivo de arquitetura (Serralves, Gulbenkian e Centro Canadiano de Arquitetura).


Possivelmente no “subconsciente”, diz-nos Choupina, o arquiteto recorreu a uma personagem da mitologia, Édipo, “que descobre não ter  controlo sobre o seu próprio destino”.

EU University & Culture Summit / Day 1, Afternoon

Sempre ao final do dia, os desenhos sobre a Antígona surgem em 2019, mas em Berlim, enquanto preparava a exposição SIZA – Inédito & Desconhecido. Álvaro Siza, acrescenta Choupina, “é o instrumento vivo de um conjunto  infindável de experiências, histórias e da memória inteira do mundo que  vai construindo”. E mais recentemente, quais serão as preferências de  leitura do mestre? Por que universos se escoa a curiosidade? “Agora… São  os Haikus”, responde António Choupina. Ou seja, o sentido da procura é  bussolado pela “ideia de síntese. Também no modo de escrita”.


Os desenhos de Álvaro Siza Vieira com textos de António Choupina serão alvo da edição de um livro com a chancela da Coral Books.

EU University & Culture Summit / Day 1, Afternoon
Retirado do caderno de desenhos de Álvaro Siza Vieira

O gesto puro que é esplendor do pensamento


“É a criação de um vocabulário para o que é apenas de ver”, escreve  Valter Hugo Mãe. São figuras apuradas numa “síntese absoluta, à procura  de uma caligrafia do corpo”. A linha é “tão magra que atravessa o leite  puro da página, sem perder sentido. Uma quebra amável”, pode ler-se nos  textos criados por Valter Hugo Mãe.


As imagens obedecem ao “ímpeto do objeto puro, o gesto puro, o  esplendor do pensamento”.  Sendo “escultura” que ganha forma,  reinterpretadas por Álvaro Siza, as tragédias “são tumulares”. Tão  “limpas” como “as suas casas”.


Édipo/Antígona – Desenhos de Siza Vieira com textos de Valter Hugo Mãe inaugura a 28 de fevereiro, às 18h00, na Casa Comum e prolonga-se até 6  de maio. A sessão de abertura contará com a presença do escritor e do arquiteto António Choupina e da professora e investigadora da Faculdade de Letras Marta Várzeas.


Fonte: Notícias U.Porto

Do Povo para o Povo: um concerto que reinventa o folclore português

Espetáculo marcado para 3 de março, na Reitoria, vai juntar em palco o ensemble Trovar o Povo e o Núcleo de Etnografia e Folclore da U.Porto.

​​​​EU University & Culture Summit / Day 1, Afternoon
O ensemble musical Trovar o Povo vai interpretar algumas peças do repertório etnográfico do folclore português. Foto: DR

É uma experiência que vai para além do esforço, ou poderemos mesmo dizer, da luta contra o esquecimento do repertório etnográfico. É um exercício educativo que se mantém fiel às raízes, às origens da memória, acrescentando uma vertente artística. O coletivo Aurum et Purpura, em parceria com o Núcleo de Etnografia e Folclore da Universidade do Porto (NEFUP), apresenta, no próximo dia 3 de março, às 21h30, no Salão Nobre da Reitoria da Universidade do Porto, o concerto Do Povo para o Povo.


O ensemble musical Trovar o Povo, constituído por dois jovens músicos portugueses especializados em música  antiga, vai apresentar um programa que parte das recolhas etnográficas do folclore português, realizadas de norte a sul do país,  reinventando-as. É um novo objeto artístico que une a interpretação etnográfica e histórica à criação e recriação musical.


Através de quatro temáticas – a Voz dos lavores; Fé e salvação;  Canção: a companheira de vida; Pátria: amor e saudade – o concerto  pretende abordar as influências e realidades históricas do povo  português.


Os instrumentos que vão “subir ao palco” são a flauta de bisel, para  relembrar a sonoridade dos instrumentos solísticos, o adufe, para  intensificar os ritmos, a voz… Tudo isto complementado pela dança.


Será ainda feita uma breve introdução a cada um dos capítulos, de  forma a situar histórica e etnograficamente a variedade ritualística da cultura tradicional portuguesa.

A vida pela voz das Cantadeiras do NEFUP

Neste concerto, o NEFUP surge como parceiro artístico, estabelecendo  um diálogo entre diferentes perspetivas de trabalho do repertório etnográfico português.


As Cantadeiras vão interpretar cantares de todo o país, que retratam a vida, o sonho,  os amores e a fé das mulheres de outrora e de agora. Vão fiando e tecendo estórias que se interligam com os temas interpretados. O repertório é maioritariamente polifónico e à capella, pontuado por percussão tradicional e outros instrumentos.


Alguns temas serão apresentados na forma recolhida no cancioneiro  tradicional português, enquanto outros são arranjados por André Ruiz, Cláudia Monteiro e Daniela Leite Castro.


A direção musical ficará a cargo de Cláudia Monteiro.

​​​​EU University & Culture Summit / Day 1, Afternoon
As Cantadeiras do NEFUP. (Foto DR)

Trovar o Povo

Com uma atividade relevante em Portugal, Reino Unido, Alemanha e nos Países Baixos, este ensemble tem como missão reclamar o folclore português nas suas origens, combatendo a desertificação da história e cultura tradicional portuguesas.


Os seus programas apresentam uma interpretação etnográfica, aliada a  uma recriação musical que acentua as origens históricas de cada canção, remetendo para os tempos medievais, renascentistas, entre outros.


O NEFUP é um organismo de extensão cultural da Universidade do Porto que tem como objetivos principais a recolha e divulgação do património etnográfico e folclórico português, tanto através da realização de  espetáculos temáticos, como da dinamização de projetos de investigação e eventos formativos e culturais. 


Fonte: Notícias U.Porto

Fevereiro / Março na U.Porto

Para conhecer o programa da Casa Comum e outras iniciativas, consulte a Agenda Casa Comum ou clique nas imagens abaixo.

Édipo/Antígona - Desenhos de Siza Vieira com textos de Valter Hugo Mãe 

28 FEV a 06 MAI'23
Exposição  | Casa Comum
Entrada Livre. Mais informações aqui

1+1=1 | Dulce e João Barata Feyo

De 06 MAR a 06 MAI'23
Exposição | Casa Comum
Entrada Livre. Mais informações aqui

Oficina de Canto e Danças Tradicionais Portuguesas | NEFUP

01, 08 e 15 MAR'23 | 19h00
Dança, Workshop  | Sede do NEFUP
Participação gratuita. Mais informações e inscrições aqui

Standards | Grupo de Jazz da FEUP

03 MAR'23 | 18h30
Música | Casa Comum
Entrada Livre. Mais informações aqui

Do Povo para o Povo | Concerto

03 MAR'23 | 21h30
Música  | Reitoria da U.Porto
Entrada Livre. Mais informações aqui

Guerra Junqueiro e os Couros Artísticos: As Cadeiras Lavradas e os Guadamecis da Fundação e da Casa-Museu, de Franklin Pereira

07 MAR'23 | 18h00
Apresentação de livro | Casa Comum
Entrada Livre. Mais informações aqui

O Museu à Minha Procura

Até SET'23
Exposição | Pólo central do Museu de História Natural e da Ciência da U.Porto
Entrada Livre. Mais informações aqui

Hestnes Ferreira , Forma - Matéria - Luz

De 11 FEV a 29 JUL'23
Exposição | Pólo central do Museu de História Natural e da Ciência da U.Porto
Entrada Livre. Mais informações aqui

CORREDOR CULTURAL DO PORTO 

Condições especiais de acesso a museus, monumentos, teatros e salas de espetáculos, mediante a apresentação do Cartão U.Porto.
Consulte a lista completa aqui

Vem aprender a cantar e a dançar com o NEFUP!

A próxima edição das oficinas de canto e dança  do NEFUP vai decorrer nos dias 1, 8 e 15 março. Inscrições abertas para  toda a comunidade U.Porto.

​​​​EU University & Culture Summit / Day 1, Afternoon
As sessões decorrem ao final da tarde, na sede do NEFUP (Rua dos Bragas, 289). Foto: NEFUP

Já vem sendo um hábito, a cada semestre, e este não é exceção. Já estão abertas as inscrições para as oficinas de canto e dança do Núcleo de Etnografia e Folclore da Universidade do Porto (NEFUP), dirigidas a toda a comunidade académica da U.Porto. A saber: estudantes nacionais e estrangeiros, alumni, docentes e funcionários.


Neste semestre, e pela primeira vez, a oferta vai ser alargada, ou  seja, as oficinas vão incidir tanto no canto como nas danças  tradicionais, numa viagem em três etapas pela cultura popular  portuguesa. Tratando-se de artes tradicionais, não é necessário ter  prática de canto ou de dança: apenas ter vontade de partilhar experiências culturais diferentes das habituais.


“Sem saudosismos, este é um trabalho de promoção da cultura popular  em contexto urbano”, diz-nos a vice-reitora para a Cultura da U.Porto. Fátima Vieira deixa por isso o apelo à participação nestas “oficinas que lançam um olhar moderno sobre o que é a nossa identidade”.


“Esta é também uma oportunidade de partilha e dialogo intercultural,  em que a dança e a música tradicionais são apenas pretexto para a  criação de laços e a valorização do nosso património”, acrescenta Luís Monteiro, presidente do NEFUP.


Ao longo das últimas quinze oficinas, estudantes universitários de  todo o mundo correram Portugal de lés-a-lés através da dança,  partilhando também as suas culturas num ambiente intercultural. No  final, haverá uma apresentação conjunta do trabalho realizado nas três  sessões.

​​​​EU University & Culture Summit / Day 1, Afternoon

Quando, onde e como?

As oficinas vão realizar-se nos dias 1, 8 e 15 março, às 19h00 (canto) e 20h00 (dança), permitindo assim que os participantes possam frequentar apenas uma ou as duas sessões. Estas realizam-se na sede do NEFUP (rua dos Bragas, 289), junto ao parque de estacionamento traseiro da Faculdade de Direito (FDUP).


A participação nas oficinas é gratuita, ainda que sujeita a inscrição obrigatória e a um número de vagas limitado à lotação da sala.


Mais informações através do e-mail nefup.workshop@gmail.com

Sobre o NEFUP

O NEFUP é um organismo de extensão cultural da Universidade do Porto que tem como objetivos principais a recolha e divulgação do património etnográfico e folclórico português, tanto através da realização de  espetáculos temáticos, como da dinamização de projetos de investigação e eventos formativos e culturais. 


Fonte: Notícias U.Porto

Há novos podcasts no espaço virtual da Casa Comum

46. Palavras próprias para poemas, João Habitualmente 

“Palavras próprias para poemas”, de João Habitualmente, in Estátuas na Praça, Edições Apuro, setembro de 2022.

54. Para falar an mirandés hai que lo mamar 

Ou quiçás: “Para falar mirandés… …hai que lo falar!”


16. Integridade na velhice 

A velhice é frequentemente representada como período da vida marcado  pela fragilidade, pela vulnerabilidade subjacente a uma autonomia mais  debilitada, a uma maior dependência do Outro, a uma aproximação ao fim,  pelo tempo cronológico, e ao princípio, pelo tempo inscrito nas  memórias. Mas a velhice é tempo de inteireza, com camadas de vulnerabilidade  que não se colam à pele. Como é a velhice representada na nossa  sociedade e no contexto específico dos cuidados de saúde? Que impacto  têm estas representações no modo como se cuida? Como enquadramos a  velhice num sistema de cuidados de saúde marcado pela procura de ordem,  objetividade, causalidade e correlação entre a palavra e a realidade? Para discutirmos esta temática, contamos com a presença de Carmen  Garcia, enfermeira na área da geriatria, colunista do jornal Público,  autora de dois livros infantis bestseller em Portugal – Uma Lição de Amor e Uma Lição Vinda do Mar –, sendo A Última Solidão o seu primeiro livro de ficção; Paulo Almeida, médico geriatra do  Centro Hospitalar de S. João, responsável pela Consulta de  Oncogeriatria; e Susana Piedade, mestre em Ciências da Comunicação, com  especialização em marketing e publicidade e escritora, tendo sido finalista do Prémio LeYa com dois dos seus livros de ficção: As Histórias Que não Se Contam e Três Mulheres no Beiral. Conversa online mantida a 30 de janeiro de 2023, com  moderação de Susana Magalhães e Manuela Vidigal Bertão. Nota: a primeira  intervenção de Carmen Garcia sofre de alguns cortes provocados por  deficiências da ligação que, contudo, não impedem a compreensão do  sentido das suas palavras.

Mais podcasts AQUI


Figuras Eminentes da U.Porto

Hernâni Monteiro

EU University & Culture Summit / Day 1, Afternoon
Hernâni Monteiro

A convite do Reitor da Universidade do Porto, a Faculdade de Medicina indiciou de entre os seus professores mais destacados da sua história, para Figura Eminente de 2014, o Professor de Anatomia, cientista, historiador da Medicina e cultivador do Teatro, da Música e da Língua Portuguesa, Hernâni Monteiro (1891-1963).


Hernâni Bastos Monteiro, filho de Joaquim Monteiro Rebelo e de Amélia Clara Bastos Monteiro nasceu no Porto a 18 de maio de 1891.


Nesta cidade estudou no Liceu Central (1901-1908), na Academia Politécnica do Porto (1907-1910) e na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, de onde transitou, em 1911, para a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), na qual concluiu o curso de Medicina, em 1915, com a apresentação da dissertação inaugural: Sífilis Hepática, que foi classificada com 18 valores.


Durante a licenciatura obteve um prémio em Química Orgânica, vários accessit e os prémios "Barão de Castelo de Paiva" e "Rodrigues Pinto", e foi convidado pelo Professor Luís Viegas (1869-1928) para 1.º assistente provisório de Anatomia (nomeado pelo decreto de 21 de agosto de 1915, tomando posse a 10 de setembro desse ano).


Pouco depois, foi incumbido de organizar o catálogo do Museu de Anatomia Normal da FMUP, sob a direção de J. A. Pires de Lima (1877-1951), com o qual recebeu um voto de louvor do Conselho Escolar em 28 de julho de 1917. No ano seguinte, foi contratado para a regência da cadeira de Anatomia Topográfica, que lecionaria ao longo de 43 anos.


Em abril de 1920 realizou provas públicas para ocupar uma vaga de 1.º assistente do grupo de Anatomia, Histologia e Embriologia. Neste concurso, em que foi aprovado por unanimidade, apresentou uma lição sobre a Evolução do aparelho hioideu. Nomeado para o lugar a 15 de maio, ficou encarregado de reger Anatomia Topográfica e a parte complementar de Anatomia Descritiva.


A 24 de novembro de 1921, o Conselho Escolar concedeu-lhe, por unanimidade e pela primeira vez, um prémio de "150$00 ao melhor trabalho de investigação publicada pelos assistentes, professores livres ou encarregados de curso, que não sejam professores ordinários".


Em 1924 concorreu ao lugar de professor catedrático de Anatomia Cirúrgica, com uma lição intitulada A importância das anomalias anatómicas em Cirurgia (foi nomeado pelo decreto de 23 de fevereiro, Diário de Governo n.º 53 de 6 de março, tomando posse a 7 desse mês), a qual lhe conferiu o grau de doutor em Medicina.


Depois do concurso para professor catedrático, foi nomeado Secretário da Faculdade, sendo reconduzido no mesmo cargo em 1927. No seu desempenho, associou-se à publicação do Anuário da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e à comemoração do I Centenário da Régia Escola de Cirurgia, tendo publicado nessa ocasião o Suplemento à História do Ensino Médico no Porto" e "Origens da Cirurgia portuense.


Em 1928, Hernâni Monteiro fundou os Laboratórios de Cirurgia Experimental e de Radiologia. No primeiro destes laboratórios realizaram-se trabalhos pioneiros de linfangiografia, trabalhos relevantes na área da anatomo-fisiologia linfática e investigações experimentais no âmbito da Cirurgia e da Fisiologia, em colaboração com os professores Joaquim Bastos e Afonso Guimarães. A importância científica deste centro levou à criação de um Centro de Medicina Experimental na FMUP, que foi dirigido por Hernâni Monteiro entre 1940 e 1961.


Hernâni Monteiro foi, também, fundador do Laboratório de Embriologia e Teratologia Experimentais. Com Roberto de Carvalho e Albano Ramos desenvolveu estudos de Anatomia Radiológica. E, no âmbito da sua docência na FMUP, também regeu a cadeira de Anatomia Descritiva entre 1936 a 1945.


Ao longo da sua carreira desempenhou cargos públicos relevantes. Foi bibliotecário e diretor da FMUP, diretor do Instituto de Anatomia dessa Faculdade, presidente da direção da Associação Médica Lusitana, Secretário da Delegação do Porto da Junta de Educação Nacional e membro da comissão técnica para a reorganização do ensino universitário, vogal da Comissão Técnica para a construção dos Hospitais Escolares de Lisboa e Porto e Presidente da Comissão Instaladora do Hospital de S. João (nomeado em 1954).


Até atingir o limite de idade, Hernâni Monteiro dirigiu o Serviço de Cirurgia Experimental, foi secretário da secção de Biologia Médica do Congresso da Associação Portuguesa para o Progresso das Ciências (1921), vice-presidente da mesma secção daquela associação, vice-presidente da Comissão Executiva do II Congresso Nacional de Medicina (Porto, 1927), vice-presidente da Comissão do Porto do Congresso Internacional de Antropologia e Arqueologia Pré-Históricas (1930), presidente das Primeiras Jornadas Médicas Galaico-portuguesas (Orense, 1935) e vereador da Câmara Municipal do Porto (entre 1951 e 1954).


Fez parte de vários júris para concursos de professores na Escola de Belas Artes do Porto e nas faculdades de Medicina das universidades de Lisboa e Coimbra.


Produziu trabalhos científicos sobre anatomia e cirurgia experimental e estudos sobre História Médica, e colaborou em inúmeras publicações periódicas portuguesas e estrangeiras. Integrou reputadas sociedades nacionais e internacionais e participou em variados encontros científicos.


Em 1934, foi convidado para reger um curso de Anatomia Experimental no Instituto de Estudos Portugueses da Faculdade de Medicina de Santiago de Compostela. Viria a reger um segundo curso nessa Faculdade, em 1942, e participou num terceiro, em 1959; ministrou, ainda, dois cursos de curta duração na Faculdade de Medicina de Salamanca, em 1946 e 1953.


Hernâni Monteiro foi um homem culto, apreciador de música, poesia e teatro, tendo sido um dos responsáveis pela instituição do Teatro Universitário do Porto (1948). Foi consultor artístico do Centro Universitário do Porto e presidente da Assembleia-geral da Associação Cultural "Amigos do Porto".


Foi agraciado com os títulos de professor honorário da Faculdade de Medicina de Santiago de Compostela (1944) e de doutor honoris causa pela Universidade de Salamanca (1954). Foi-lhe conferido o grau de grande-oficial da Ordem da Instrução Pública (decreto de 18 de junho de 1959, sob proposta do Presidente do Conselho) e de Comendador da Ordem Militar de Santiago da Espada (1961).


A 18 de maio de 1961 atingiu o limite de idade. Não proferiu a sua última lição e aposentou-se em junho desse ano. Faleceu pouco depois, a 16 de novembro de 1963, no Hospital de S. João, vítima de doença grave.


Postumamente, em 1965 a Câmara Municipal do Porto atribuiu o seu nome à alameda junto ao Hospital S. João.


Sobre Hernâni Bastos Monteiro (up.pt)

Para mais informações consulte o site da Casa Comum - Cultura U.Porto

Copyright © *2020* *Casa Comum*, All rights reserved.
Os dados fornecidos serão utilizados apenas pela Unidade de Cultura da Universidade do Porto para o envio da newsletter da Casa Comum, bem como para divulgação futura de iniciativas culturais. Se pretender cancelar a recepção das nossas comunicações, poderá fazê-lo a qualquer momento para o e-mail cultura@reit.up.pt, ou clicar em Remover. Após o que o seu contacto será prontamente eliminado da nossa base de dados.
Quaisquer questões sobre Proteção de Dados poderão ser endereçadas a dpo@reit.up.pt.