A Bruna foi estudante de licenciatura na FADEUP. Quer falar-nos do seu percurso? O que tem feito após concluir a sua licenciatura? O meu percurso foi um pouco atípico, uma vez que, assim que terminei a licenciatura, dei início à licenciatura em Fisioterapia. Enquanto estudava Fisioterapia, trabalhei como personal trainer num ginásio, o que me permitiu alguma independência financeira para me preparar para trabalhar no estrangeiro. Sempre ambicionei conhecer melhor outros horizontes culturais e profissionais. Assim que terminei a segunda licenciatura, mudei-me para Inglaterra para trabalhar como fisioterapeuta na área do Desporto. Na altura em que concorri para Inglaterra, também concorri para a Aspetar, Hospital de Medicina Desportiva no Catar, mas a entrevista só surgiu quando já estava em Inglaterra. Mais tarde, recebi a proposta para ir trabalhar para o Catar e resolvi aceitá-la. E aqui estou eu, no Catar, há 11 anos. E porque escolheu inicialmente a área do Desporto para a sua formação? Quando percebeu que era esse o caminho a seguir? Escolhi a área do Desporto, penso que pelos mesmos motivos da maioria dos meus colegas de curso. Desde criança que sempre tive contacto com Desporto e fui crescendo num ambiente de treinos e competições, que me fizeram querer saber mais sobre o Desporto, particularmente as disciplinas relacionadas com anatomia, fisiologia e metodologias de treino. Como nos disse, o seu percurso profissional seguiu pela área da fisioterapia. Como é que surge o interesse por esta área? O interesse pela reabilitação surgiu mais tarde, não consigo precisar quando, mas penso que deve ter surgido em final de carreira desportiva recreacional, quando algumas lesões vão surgindo. Recordo-me de alguma hesitação na altura do concurso nacional para me candidatar à Universidade. Pensei que talvez fosse melhor candidatar-me a Fisioterapia, mas, como tinha sido uma vontade mais recente do que a do Desporto, resolvi candidatar-me à FADEUP. Ao longo do curso de Desporto e Educação Física, o meu interesse pela área da reabilitação foi crescendo, e, por isso, decidi posteriormente estudar fisioterapia. De que forma a sua formação em Ciências do Desporto foi importante para o percurso enquanto fisioterapeuta? O conhecimento adquirido na minha formação em Ciências do Desporto foi uma grande mais valia, sobretudo na área da Fisioterapia que se denomina músculo-esquelética, uma vez que muitas das suas bases são comuns à minha formação em Ciências do Desporto. Adicionalmente, a minha formação em Ciências do Desporto permitiu-me estar mais à vontade em disciplinas relacionadas com a investigação, pois já havia passado por um processo semelhante na licenciatura anterior. Além destes aspetos da formação, atualmente a minha equipa de trabalho é multidisciplinar, incluindo profissionais das Ciências do Desporto, preparadores físicos e S&C coaches. Uma vez que partilhamos a mesma formação de base, a nossa interação é naturalmente mais fluída e permite-me facilitar a sinergia entre as duas áreas que tanto têm em comum. Como vimos, é atualmente fisioterapeuta desportiva num conceituado hospital do Qatar, já depois de ter passado por Inglaterra e Portugal. Como está a ser a experiência? A experiência internacional mudou de alguma forma a sua visão sobre o campo da fisioterapia? Se sim, de que forma? Penso que, quando se pensa em emigrar, na maioria das vezes, não se pensa em objetivos temporais. Ficamos até quando faz sentido. Já estou há 11 anos no Catar, mas, quando cheguei, não imaginava ficar tanto tempo. Sou uma privilegiada por ter encontrado um lugar no mundo onde a excelência da fisioterapia se cruza com a excelência das Ciências do Desporto. É um contexto único a nível mundial; trabalho num contexto hospitalar, mas com uma grande componente de investigação, a prática intimamente interligada à melhor evidência científica. Do ponto de vista pessoal, também sinto um grande privilégio por poder trabalhar com colegas de todo o mundo. São mais de 70 nacionalidades "under one roof". A junção de todas estas culturas, diferentes formações académicas, tem sido um motor importante para me manter motivada a trabalhar aqui. Como perspetiva a evolução da fisioterapia desportiva nos próximos anos? Perspetivo e desejo que a investigação da área da prevenção e da reabilitação se desenvolva no sentido de um melhor entendimento sobre especificidades das populações desportivas, nomeadamente, valores normativos de força e performance para as diferentes modalidades, bem como a sua adaptação para crianças e jovens, e diferenças de género. Voltando à FADEUP, do que se recorda com mais saudade do período de estudante? A minha entrada para a FADEUP coincidiu com o viver fora da casa dos meus pais pela primeira vez e coincidiu também com viver numa cidade nova, a maravilhosa Invicta, da qual tenho sempre saudades e tento visitar sempre que vou a Portugal. Portanto, as primeiras memórias que tenho são de um grupo de colegas com uma pronúncia muito única e com muitas convicções. Eu acho impossível não associar esta combinação de garra com os meus tempos na FADEUP. Guardo sempre as melhores memórias de todos os colegas e amigos, até à de todos os convívios associados à Faculdade, nomeadamente a Queimas das Fitas e, claro, todos os eventos com a Desportuna, desde os ensaios até às digressões pela Europa. Recorda-se de alguma história que o tenha marcado enquanto estudante da Faculdade e que possa partilhar connosco? As histórias que me surgem em primeiro lugar são aquelas que se relacionam com colegas especializados numa determinada área desportiva, terem que se ajustar às exigências de uma modalidade desportiva diametralmente oposta. Por exemplo, recordo-me de observar o exame de Ginástica Rítmica de um colega que pertencia à equipa nacional de andebol na altura. Recordo-me da tentativa de um corpo musculado e habituado a movimentos rápidos e explosivos, ter que ajustar a flexibilidade aos movimentos lentos e à graciosidade da Ginástica Rítmica. Com certeza deu o seu melhor e conseguiu concluir a disciplina, mas foi muito cómico observar todo aquele esforço. Assim como, uma maravilhosa ginasta olímpica mantém todos os seus traços de agilidade e beleza de movimentos em modalidades que não o exigem, tal como o futebol ou o andebol. Outra curiosidade, foi aprender o verbo "pinchar". Até lá, não sabia que as bolas de basquetebol pinchavam. Qual é a sua maior realização até hoje? Sou muito pouco saudosista, e espero que a minha maior realização ainda esteja por vir. Como ocupa os tempos livres? Entre as tarefas associadas à maternidade, tento manter-me ativa, vou ao ginásio, gosto de ler e de estar com os amigos. Sempre que podemos, viajamos em família, sobretudo pela Ásia. Quer deixar algum conselho aos nossos estudantes? O clichê: aproveitem muito. Mas isso serve para qualquer etapa. O que espera do futuro? Que se mantenha sorridente. |