A Elisa foi estudante de licenciatura, mestrado e doutoramento na FADEUP. Quer falar-nos do seu percurso? O que tem feito profissionalmente? A FADEUP não foi apenas a minha instituição de ensino, mas sim o local que me viu (e fez) crescer e a base para um percurso profissional diversificado. Acredito que, enquanto profissionais na área do Desporto, partilhamos a capacidade de sermos ecléticos e de desempenharmos múltiplos papéis ao longo do nosso percurso. Comecei como professora de dança de salão, depois fui instrutora de fitness (aulas de grupo e sala de musculação), professora de Educação Física, hidroginástica e natação. À medida que a vertente científica crescia, o meu interesse e disponibilidade para essas atividades foram diminuindo, até que encontrei a minha verdadeira vocação na investigação e no ensino universitário. Concluí um pós-doutoramento (também na FADEUP) e, posteriormente, fui docente em várias universidades portuguesas, incluindo a FADEUP. Destaco a Universidade da Maia, que é a minha "casa" em Portugal desde 2012. Durante um período de quatro anos, fui investigadora no National Institutes of Health (NIH) nos EUA, um momento especial na minha carreira, não só por ter integrado um dos maiores centros de investigação do mundo na área da saúde, mas também porque comprovei que a área do Desporto não tem limites. Mais recentemente, integrei um projeto de investigação na Loughborough University (Reino Unido), onde pude voltar a focar-me nas minhas raízes (treino de força para potenciar adaptações musculo-esqueleticas em pessoas mais velhas). E o meu desafio profissional mais recente está nos Emirados Árabes Unidos (EAU), na Universidade de Kalba, uma universidade muito jovem, pioneira no país, e cuja missão é o desenvolvimento das ciências do Desporto. Porque escolheu a área do Desporto para a sua formação? Quando percebeu que era esse o caminho a seguir? A escolha pela área do Desporto foi algo que surpreendeu a minha família, pois sempre disse que seria médica! No entanto, vários professores de Educação Física destacaram-se durante a minha formação inicial como verdadeiros modelos a seguir, e esses modelos foram crescendo, juntamente com o facto de adorar praticar Desporto. No final do ensino secundário, estava irredutivelmente convencida de que essa era a minha única paixão profissional. E porque escolheu a FADEUP para os três ciclos de estudos que concluiu? Escolhi a FADEUP de forma natural, graças à sua proximidade geográfica e ao prestígio e qualidade reconhecidos. No entanto, foram os eventos subsequentes que tornaram o mestrado e o doutoramento escolhas naturais. Após a licenciatura, fui selecionada para uma posição de investigadora assistente associada a um projeto europeu (EUNAAPA), no, na altura, Gabinete de Recreação e Tempos Livres. Essa proximidade à área do exercício e saúde continuou a ser fortalecida, e isso levou-me, naturalmente, a continuar a investigar nessa área, rodeada das pessoas que me apoiaram desde a licenciatura. Embora o desejo de explorar outras instituições e culturas sempre me tenha fascinado, a FADEUP permaneceu como um ambiente familiar e estimulante para o meu crescimento académico. Quais foram os aspetos da formação na FADEUP que mais influenciaram a sua carreira? O que mais me marcou na FADEUP foram as pessoas que encontrei, nomeadamente os professores que moldaram o meu percurso académico e profissional. Foram vários, mas gostaria de destacar alguns que tiveram um impacto significativo. A Professora Teresa Lacerda foi fundamental, pois despertou em mim a paixão pelo processo científico de leitura, análise e discussão. A Professora Joana Carvalho, minha mentora de longa data, foi uma inspiração constante, com inúmeras conquistas científicas e pessoais que me motivaram ao longo do caminho. Além disso, tenho a sorte de continuarmos a trabalhar juntas. E, claro, o Professor Jorge Mota, um líder e mentor incrível, que me impulsionou a seguir por caminhos importantes na minha carreira profissional. Ele incentivou-me a realizar períodos de formação complementar fora de Portugal, como na Dinamarca e no Brasil, e mais tarde nos Estados Unidos da América. Essas oportunidades foram cruciais para o meu crescimento e desenvolvimento como profissional. Depois de ter passado por diversas universidades portuguesas, entre as quais a FADEUP, e estrangeiras, é atualmente docente na Universidade de Kalba, nos Emirados Árabes Unidos (EAU). Quais os principais desafios que encontrou na adaptação ao meio académico de um país culturalmente tão diferente? Os desafios e a adaptação são, sem dúvida, as palavras-chave quando se trata de integrar um novo ambiente de trabalho. Todos os novos locais de trabalho trazem desafios, e isso é algo que eu gosto e procuro ativamente – penso que essa é uma das razões pelas quais já estive em várias instituições nos últimos 20 anos. No entanto, os desafios nos Emirados Árabes Unidos têm uma componente cultural muito mais forte comparativamente às minhas experiências anteriores. Apesar da cultura diferente, os emiratis são extremamente afáveis e cordiais, o que me faz sentir bem-vinda e bem acolhida. A Universidade de Kalba tem uma grande predominância da língua árabe, e este é provavelmente o aspeto que, atualmente, tem mais impacto no meu trabalho. Por outro lado, a típica energia e vigor portugueses, precisam ser adaptados, o que tem sido uma oportunidade valiosa para aprender sobre a importância da sensibilidade cultural em ambientes internacionais. Ao longo da sua carreira tem dado especial atenção às questões da atividade física e do envelhecimento. É também nesta área que desenvolve a sua atividade EAU? Dentro da área do exercício físico e saúde, o impacto do exercício físico na saúde músculo-esquelética de pessoas mais velhas tem sido o foco do meu trabalho. Por exemplo, a minha investigação no National Institute on Aging - NIH (EUA) e, mais recentemente, na Loughborough University (Reino Unido) foram centrados nesse segmento demográfico. Agora nos EAU, acredito que haverá oportunidade de continuar nesta área, mas há um grande potencial para expandir o meu trabalho e abranger uma gama mais ampla de necessidades na área do Desporto, atividade física e saúde. A Estratégia Nacional (EAU) para o Desporto - 2031 visa aumentar para 71% da população a proporção de pessoas que praticam desportos, desenvolver o Desporto profissional e descobrir talentos desportivos nas escolas. Por outro lado, o país está a passar por uma transição demográfica, porque se prevê que o número de pessoas com mais de 60 anos irá aumentar mais de seis vezes entre 2020 e 2050 (de cerca de 3,1% para 19,7% da população total). Isso significa que há uma necessidade de criar estruturas, conhecimento e capacidade para melhor servir as necessidades da população, especialmente em termos de saúde e bem-estar dos idosos. Em Portugal estamos a trabalhar bem essas áreas? O que podemos fazer para melhorar? Infelizmente, acho que não estamos a fazer o suficiente. Embora tenhamos melhorado significativamente desde que trabalho nesta área, o envelhecimento demográfico em Portugal continua a acentuar-se, o que exige mais esforços. Programas de exercício físico devem ser disponibilizados a toda a população sénior, tal como fazemos com a Educação Física nas escolas. Temos muitos profissionais altamente qualificados na área do envelhecimento, exercício e saúde, mas há um desequilíbrio entre a oferta de emprego e a qualificação dos profissionais. Isso significa que muitos desses profissionais enfrentam desafios para encontrar oportunidades que correspondam às suas habilidades e formação, o que pode levar a uma perda de talentos para outras áreas. Para melhorar, devemos investir mais em infraestruturas e oportunidades que promovam o envelhecimento ativo e saudável, garantindo que os idosos possam participar plenamente na sociedade e que os profissionais qualificados possam contribuir de forma significativa. Voltando à FADEUP, do que se recorda com mais saudade dos tempos de estudante da Faculdade? Dos primeiros anos! A alegria e a boa disposição dentro das portas da FADEUP eram algo único. Mas à medida que amadurecíamos, a seriedade do estudo começou a prevalecer. Lembro-me da energia contagiante dos meus colegas e professores, que criavam um ambiente acolhedor e estimulante. A FADEUP foi mais do que um local de estudo; foi um espaço onde construí amizades duradouras e que ainda me acompanham hoje. Recorda-se de alguma história que a tenha marcado enquanto estudante da Faculdade e que possa partilhar connosco? Muitas! As aulas de História do Desporto eram incríveis! O professor merece o primeiro prémio por conseguir transformar tópicos que, à partida, pareciam aborrecidos em momentos apaixonantes. Ele envolvia-nos nas narrações, por vezes até teatrais. Cada aula era uma aventura inesperada que nos surpreendia a todos! Lembro-me de como ele nos transportava para outras épocas, fazendo-nos sentir parte da história do Desporto. Qual é a sua maior realização até hoje? Sinto-me realizada ao pensar que pude inspirar alguns dos meus alunos (e espero continuar). Saber que, de alguma forma, contribuí para o seu percurso académico e profissional é uma fonte de orgulho e satisfação. Além disso, ter tido a oportunidade de trabalhar em projetos de investigação que promovem o bem-estar e a saúde das pessoas, especialmente dos idosos, também é uma grande realização. Como ocupa os tempos livres? O meu tempo livre é uma mistura de atividades que me permitem relaxar e manter-me ativa. Tenho uma cadela que passa o dia a dormir à espera que eu volte do trabalho, mas, quando chego, ela transforma-se numa bola de energia! Depois de conseguir que ela atinja um dispêndio energético razoável, é a minha vez! Pratico exercício quase todos os dias – afinal, não podemos ser apenas especialistas em teoria! Além disso, gosto de ler – mais de um livro ao mesmo tempo – em papel! E, quando tenho um momento mais tranquilo, aprecio pintar, pois é uma forma de expressar a minha criatividade e relaxar. Quer deixar algum conselho aos nossos estudantes? Aproveitem ao máximo a vossa formação (sem deixar de se divertirem) e depois poderão ser tudo o que sonharem – as possibilidades são infinitas! Acreditem em vocês mesmos, sejam curiosos e abertos a novas experiências. A formação académica é um momento único para explorar diferentes áreas e descobrir as vossas paixões. Não tenham medo de arriscar e de perseguir os vossos sonhos, pois é através desses desafios que vocês crescerão e se tornarão profissionais realizados. O que espera do futuro? Espero continuar a contribuir para a formação e o conhecimento na área das ciências do Desporto e influenciar positivamente as práticas de exercício para pessoas mais velhas. Além disso, gostaria de promover o nome de Portugal além-fronteiras, destacando o nosso trabalho e a nossa excelência no campo das ciências do Desporto. Acredito que, através da investigação e do ensino, posso inspirar novas gerações a perseguir carreiras na área do Desporto e da saúde, contribuindo assim para um futuro mais saudável e ativo para todos. |