Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto

Siza Barroco

'A casa é de carvão,
a porta é de prata,
oiro no ar, atmosfera doirada,
nitidez doirada, dias doirados'
por Maria Filomena Molder

Conferência | Programa 'Siza Barroco'
22 de junho, sábado, 15h30
Auditório do Museu Nacional Soares dos Reis


A 22 de junho de 2024, às 15h30, decorre no Museu Nacional Soares dos Reis a conferência 'A casa é de carvão, a porta é de prata, oiro no ar, atmosfera doirada, nitidez doirada, dias doirados' com a filósofa Maria Filomena Molder, que conclui o ciclo I de conferências do programa 'Siza Barroco'.



O meu ofício são as palavras, sem elas não há conceitos. Não é por acaso que logos, o ingrediente-chave da invenção da filosofia, significa palavra (o primeiro entre os seus usos).

E. R. Curtius ensinou-me que o logos é capaz de traduzir tudo, i.e., lendo um diálogo de Platão ficamos a saber muitas coisas sobre a cidade de Atenas, incluindo o que se passa nos anfiteatros, nos templos e até na viagem da alma após a morte. Em contrapartida, não será possível reconstituir nenhum dos diálogos de Platão através da arquitectura (ou outra arte qualquer).

Por outro lado (o mestre é Giorgio Colli), não há melhor maneira de conhecer o espírito, a energia de uma cultura já desaparecida – o exemplo é de novo grego – do que entrar num templo arruinado. Soberano, aqui, é o jogo vivo entre o corpo e o espaço.

Das palavras dos artistas engendra-se, por assim dizer, um caminho intermédio, e o logos, posto ao serviço de um animal selvagem domesticado (vénia a Wittgenstein), conhece uma surpreendente metamorfose. Daí as imagens em Álvaro Siza: uma casa com o seu esqueleto, o seu coração, os seus pulmões. Elas encontram-se com o sentimento de Chillida de ver no interior de Santa Sofia os pulmões de Bach a contrair-se e a expandir-se. Talvez assim o barroco seja convocado.



Maria Filomena Molder é Professora Catedrática Emérita de Estética da Universidade Nova de Lisboa. Membro do Instituto de Filosofia da Linguagem (IFILNOVA). Professora convidada na École des Hautes Études en Sciences Sociales (1995 e 2011). Membro do Conselho Científico do Collège International de Philosophie, Paris (2003-2009). Escreve sobre problemas de estética, enquanto problemas de conhecimento e de linguagem, para revistas de filosofia, de literatura e de arte. Últimas publicações: O Absoluto que pertence à Terra (Edições do Saguão, 2020) – Prémio de ensaio Jacinto do Prado Coelho 2021. Três Conferências I – Lança o teu Pão sobre as Águas (Edições do Saguão, 2021). Palavras Aladas. Conversas em torno do Desenho com Cristina Robalo (Documenta, 2022). Foi responsável pela edição de Fernando Gil. Paisagens dos Confins (Edições Vendaval, 2009), Morphology. Questions on Method and Language (Peter Lang, 2013) e do n.º 68 da revista Rue Descartes, "Philosopher au Portugal Aujourd’hui" (2010).

Entrada gratuita, mediante inscrição AQUI.


© Desenho de Goethe, 1816. Lápis gordo preto e branco sobre papel azul acinzentado 20,7 x 34,8 cm, apud Catálogo Johann Wolfgang von Goethe Paisajes, Círculo de Bellas Artes, Madrid, 2008.