Durante uma hora e meia, quatro matemáticos da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) integraram um painel de debate que teve lugar na Biblioteca, no passado dia 27 de maio. O evento moderado por Carlos Menezes e António Machiavelo, diretor e subdiretor do Mestrado em Matemática, incidiu sobre a importância da matemática e dos matemáticos na sociedade.
“Ao contrário do que as pessoas pensam, a Matemática não é a ciência dos números”, começou por dizer Pedro Ventura Silva, docente que trabalha em álgebra associada à geometria e à combinatória. “É a Ciência que nos ajuda a compreender o que pode acontecer no futuro”.
Para Peter Gothen, cuja área de investigação é a geometria, “o matemático não precisa de ser um génio”. Necessita sim de trabalho, persistência, curiosidade e paixão, áreas elencadas pelos matemáticos como características essenciais a quem quer seguir esta área.
Mas afinal para que serve a matemática? O que faz um matemático e qual a importância da dualidade desta área?
“Porque é que a minha investigação é importante para a ciência de computadores? Esta ciência não vive apenas do presente, mas das expectativas do futuro. A informática teórica ajuda a perceber aquilo que é possível e impossível de fazer no futuro”, explica Pedro Ventura Silva.
Enquanto isso, José Ferreira Alves, que trabalha na área dos sistemas dinâmicos, defende a importância de não desconsiderar a matemática fundamental: “Não é de menosprezar de jeito nenhum a capacidade de pensar a matemática em abstracto e conceber novos objetos matemáticos porque é isso que contribui para que haja avanços noutras ciências”. “O mundo é cada vez mais complexo e seguramente será com instrumentos matemáticos mais sofisticados que esses problemas vão poder ser atacados”, acrescenta.
E é precisamente a capacidade para resolver problemas que é desafiante e, ao mesmo tempo, atrativa para alguém que se inscreve no Mestrado em Matemática, e para as empresas que cada vez mais valorizam esta qualidade.
“Fora de Portugal é quase impossível encontrar um estatístico que queira ir trabalhar para a universidade porque olham para o salário e comparam com um banco, uma seguradora ou empresa no mercado financeiro onde conseguem posições de altíssimo nível e com salários muito altos”, descreve Jorge Freitas, investigador também na área dos sistemas dinâmicos. “Este paradigma já está mais que estabelecido no estrangeiro; em Portugal começa a crescer, mas na minha opinião tem margem de crescimento”, acrescenta.
A investigação no contexto académico pode também abrir portas para o futuro. Peter Gothen deu o exemplo de um estudante que trabalha com estruturas topológicas e que foi para Inglaterra fazer o doutoramento nesta área. “Trabalhou com problemas associados à robótica. Fez um trabalho muito teórico, mas que esteve relacionado com a perceção de como se pode gerir as várias posições do braço de um robô”.
Da academia passou para a Goldman Sachs e hoje em dia tem uma startup que faz análise de dados da população dos alojamentos locais do género airbnb para prever a evolução do mercado em tempo real.
Com direito a várias perguntas da audiência, no “Meet the Mathematicians” falou-se também da capacidade da matemática para resolver problemas atuais como, por exemplo, na colaboração do docente da FCUP Óscar Felgueiras com a ARS Norte.
Entre as vantagens de seguir uma carreira a partir de um mestrado em matemática, está o desenvolvimento de competências de comunicação. “Os matemáticos que vão para as empresas também têm de saber comunicar as ideias matemáticas para os colegas que não são necessariamente especialistas”, explica Peter Gothen.
Interação e bom humor não faltaram naquele que foi o primeiro painel de debate na FCUP dedicado à matemática.
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Renata Silva. SICC. 02-06-2021