De manhã, num dia de abril em semana de chuva, o sol brinda-nos e as aves fazem-se ouvir. Nos jardins da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e ao lado, no Jardim Botânico, voam e são “residentes” mais de 25 espécies.
Em plena Primavera, fizemos uma visita guiada com David Gonçalves, docente do Departamento de Biologia da FCUP, para saber mais sobre estas espécies e sobre a monitorização de um conjunto de caixas-ninho no Campus.
Nos últimos anos, chapins, melros, pica-paus, entre várias outras espécies, têm visto o seu habitat renovado, através da criação do Parque Botânico do Campo Alegre, e com melhores condições para nidificação. Em fevereiro e março de 2019, por iniciativa de Paulo Célio Alves, docente da FCUP, com financiamento da direção da FCUP, foram instalados 23 ninhos, com a ajuda de David Gonçalves.
“Estamos a proporcionar locais alternativos para um conjunto de espécies que fazem ninho em cavidades, como a trepadeira-comum, os chapins, ou o pardal-montês, por exemplo”, conta o professor.
Quatro caixas com ninhos ativos
Ainda antes de chegar ao Departamento de Ciência de Computadores, encontramos a primeira caixa-ninho que foi instalada. Cada uma delas está numerada para facilitar a sua identificação. Todas são regularmente acompanhadas de perto pelos professores e estudantes. Neste momento há quatro que estão ocupadas pelas aves.
“Quando as caixas não têm nada, damos um período de tempo maior entre visitas, por exemplo, de quatro em quatro semanas. Se verificarmos que existe algum ninho construído ou iniciado, ou postura, essa caixa passa a ser objeto de visitas semanais”. Num futuro próximo, esta verificação poderá ser feita também em aulas de campo da licenciatura em Biologia.
No Pinhal dos Cedros, atrás do Departamento de Matemática, ou no Jardim Silvestre, junto ao Departamento de Biologia, existem caixas-ninho com ninhos elaborados pelo chapim-carvoeiro e pelo chapim-real. Na monitorização que é feita nestas caixas, biólogos e futuros biólogos tentam perceber, por exemplo, o número de ovos que perfazem a postura e quantos juvenis saem da caixa-ninho.
Pelo caminho, entre pombos e pegas-rabudas, conversamos ainda sobre duas espécies que também tiveram direito à sua própria caixa-ninho. O pica-pau-malhado e o pica-pau-verde, ambos produzindo sons e com voos ondulantes muito característicos, e que também podem ser encontradas nos jardins da FCUP e no Jardim Botânico.
No vídeo que se segue é possível conhecer algumas das muitas espécies que podem ser observadas na FCUP, o seu canto e alguns dos ninhos ocupados:
Dos ninhos à observação de aves
E como pode a comunidade académica conhecer, identificar e localizar estas aves? David Gonçalves, que nos fez a visita “equipado” a rigor, dá-nos algumas dicas: “A melhor altura do dia para as observar é ao início do dia, quando estão mais ativas e movimentam-se mais. Isto de uma forma geral ao longo de todo o ano. No verão, nos períodos de maior calor são menos ativas. Também ajuda ter uns binóculos para as identificar à distância e para as estudar”. Saber identificar o seu canto é também importante e, quem quiser, pode também usar um guia de campo para ajudar a perceber de que espécie se trata.
Para quem não dispensa a tecnologia, o telemóvel pode ser um importante aliado. Existem várias aplicações gratuitas que podem ser descarregadas. Um exemplo, o "Merlin Bird ID" (do Cornell Lab of Ornithology". “Ajuda a identificar a espécie pelas vocalizações e pela descrição”, conta David Gonçalves.