Nº #55  Fev 2025
 
 
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Faculdade de Medicina
da Universidade do Porto
 
 
Música e inovação em medicina

Enquanto estudante de mestrado em Toulouse, França, em meados dos anos oitenta, trabalhei na “arritmia cardíaca de origem respiratória”: a pequena flutuação do ritmo cardíaco com o ciclo respiratório. Como guitarrista amador, não me escapava que os batimentos cardíacos e os batimentos musicais têm aproximadamente a mesma frequência – entre 60 e 150 batimentos por minuto – e podem mesmo entrar em sincronia: quando estamos entusiasmados, o nosso ritmo cardíaco aumenta e tocamos mais depressa (e se tivermos sorte, os nossos colegas de banda também). A duração do ciclo respiratório de 4 a 6 segundos é semelhante à duração de um compasso típico de música. Acaso? Não me parece!


No início dos anos noventa, fui para Gainesville, na Florida, como investigador pós-doutorado. Os estudantes de medicina estavam a treinar em ovelhas e cães, e os internos em anestesia, em doentes reais. Ao proporcionar uma alternativa baseada em simuladores, os meus colegas e eu tivemos a sorte de desencadear uma mudança de paradigma na educação e na formação médicas. Agora podemos simular à vontade incidentes críticos raros. O nosso “paciente” consumia oxigénio real e libertava dióxido de carbono real. Continha uma série de modelos matemáticos de fisiologia humana que faziam com que esta máquina ganhasse vida (ou mesmo morresse devido a um tratamento incorreto). Naturalmente, tinha um ritmo cardíaco e um ciclo respiratório espontâneo. Construir o Human Patient Simulator exigiu uma explosão criativa. Alguns dos meus trabalhos mais profundos foram realizados em estreita colaboração com Eric Nikkelen, um estagiário holandês que também tocava saxofone de jazz. Por insistência dele, mudei da guitarra para o contrabaixo. Demos vários concertos como o duo Double Dutch .


Na Universidade do Porto, no início do século, o Prof. Diogo Ayres de Campos, da FMUP, e eu criámos uma equipa e concebemos o simulador de parto Lucina para formação de obstetras e parteiras. Agora tínhamos dois ritmos cardíacos: o do feto (na altura não simulávamos gémeos) e o da mãe. Imagine o pânico se, durante o trabalho de parto, a mãe entra em fibrilhação ventricular. É raro, mas acontece, e por isso é preciso estar preparado para este caso. Quem se salva primeiro: a mãe (através da massagem cardíaca e uma desfibrilhação) ou o feto (através de uma cesariana)? Uma decisão muito difícil e muito pouco tempo para a tomar, mas que hoje pode ser treinada. Diogo, um multi-instrumentista talentoso, e eu tocámos uma ou duas vezes juntos, mas não chegámos a formar uma banda. No entanto, ambos percebemos o paralelismo entre a música e a investigação e desenvolvimento. A música mobiliza predominantemente a emoção e a ciência, a razão, mas as duas têm em comum o trabalho de equipa, a inteligência coletiva e a criatividade.


Agora, de volta à FMUP como professor convidado, tive uma conversa informal com o diretor, Prof. Altamiro da Costa Pereira. Ele sabia das minhas atividades musicais e perguntou-me se eu estaria interessado em organizar um ciclo de concertos de jazz na instituição, no âmbito do bicentenário da FMUP . Achei que ele estava a brincar e respondi: “Porque não?” Mas depois as coisas rapidamente se tornaram sérias: bandas, espaço, piano, luz, amplificação, orçamentos ... Como bónus, a Dra. Olga Magalhães, que eu tinha conhecido há mais de duas décadas no contexto da montagem do centro de simulação médica SIMFMUP, seria a minha coorganizadora. O primeiro concerto Upbeat teve lugar em dezembro de 2024. O segundo está marcado para 5 de março de 2025 e trará o excelente Quinteto Mariana Vergueiro ao belo Auditório do Centro de Investigação Médica da FMUP ( inscrição prévia ). O tempo que isto me retira do ensino e da investigação é mais do que compensado pela alegria da descoberta que cria no público. Estes concertos e os contactos com Altamiro, Olga e os músicos oxigenam o meu cérebro, o que resulta em novas ideias de engenharia biomédica.


No dia 12 de março de 2025 farei uma curta palestra sobre ritmos, como parte da disciplina optativa “ Medicina e Música – Para Além da Arte ”, uma cadeira coordenada pela Profa. Carla Moura. Talvez traga o meu contrabaixo para demonstrar alguns ritmos e, se eu conseguir convencer o meu amigo cantor Bruce McCrorie, poderemos fazer com que os nossos ritmos balancem em sincronia. Salvar vidas, celebrar a vida, é tudo num dia de trabalho! 


Willem van Meurs
Professor Convidado



 
 
 
 
FMUP HOMENAGEOU AS PESSOAS QUE DOAM O CORPO À CIÊNCIA
A FMUP e a AEFMUP voltaram a organizar a tradicional cerimónia da “Evocação da Dádiva”. O Serenarium do Cemitério de Agramonte acolheu a homenagem às pessoas que doaram o seu corpo à ciência e contribuíram para a formação médica e para o avanço do conhecimento médico e científico.

Para os estudantes ( ler discurso ), esta é uma oportunidade para reconhecerem e prestarem tributo aos que, através da doação cadavérica, permitem uma aprendizagem sólida e robusta da anatomia humana, lançando as bases para o exercício da sua profissão como médicos.


 
 
SENSIBILIDADE SENSORIAL É MAIS COMUM EM PAIS DE CRIANÇAS COM AUTISMO

Faltar palavras para descrever o que se sente, não conseguir expressar emoções ou processar sensações de forma convencional pode estar associado a diversas condições, incluindo a perturbação do espetro do autismo.


Um estudo da FMUP sugere que as diferenças no processamento sensorial podem ser mais comuns do que se pensava, mesmo em pessoas sem doença. O trabalho sublinha que estas diferenças, que incluem respostas intensificadas a estímulos sensoriais normais como a luz, o som ou o movimento, podem ter impacto nas dinâmicas familiares.



 
 
 
PROFESSORES DA FMUP DISTINGUIDOS PELA FUNDAÇÃO BIAL 

Uma investigação sobre a Degenerescência Macular da Idade (DMI), da autoria de José Paulo Andrade e Ângela Carneiro, professores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), foi distinguida com uma menção honrosa no âmbito do Prémio BIAL de Medicina Clínica 2024.


O estudo premiado defende que a promoção de hábitos de vida saudáveis e estratégias de deteção precoce podem contribuir para reduzir significativamente o número de casos de cegueira irreversível causadas pela DMI.


Segundo José Paulo Andrade, o objetivo principal consistiu em aumentar a literacia sobre a doença, “que ainda é desconhecida por muitos, até na comunidade médica geral”, mas também “sensibilizar para a sua deteção precoce e contribuir para a diminuição do risco de aparecimento e progressão”.


Estima-se que esta doença ocular afetará cerca de 400 mil pessoas em Portugal. O estudo propõe um modelo integrado de colaboração entre cuidados de saúde primários e oftalmologistas para acelerar o diagnóstico e o tratamento da DMI.


“É fundamental estar atento e saber identificar corretamente os sinais de alerta que podem surgir a partir dos 55 anos, como o aparecimento de distorção nas imagens ou de manchas no campo visual”, ressalva Ângela Carneiro, a propósito das principais queixas que, vulgarmente, são confundidas pelas pessoas como meras dificuldades em ver ao longe.


A médica oftalmologista acrescenta que “se as pessoas detetarem precocemente estes sintomas e recorrem a um médico especializado, será possível evitar-se lesões irreversíveis, o que irá traduzir-se em melhorias na visão e na qualidade de vida”.


Com o envelhecimento da população portuguesa, os investigadores estimam que esta doença vá aumentar em larga escala ao longo dos próximos anos. “Sabemos que a idade é um dos fatores de risco, tal como a genética, mas também mas também como a alimentação e o tabagismo, que aumenta o risco da doença entre 2 a 4 vezes”, referem os autores.


Enquanto investigador que estuda o efeito de elementos nutricionais no sistema nervoso central, em que o “olho é uma espécie de extensão desse sistema, nomeadamente a retina”, José Paulo Andrade sublinha que a adoção da dieta mediterrânea, com a inclusão de frutas, vegetais e peixe nas refeições, aliada à prática de exercício físico regular, são “medidas preventivas fundamentais para evitar a DMI e muitas outras doenças associadas a fatores nutricionais”.


O estudo intitulado “ Degenerescência Macular da Idade - A Primeira Causa de Cegueira Irreversível em Portugal ” resultou da colaboração entre o Departamento de Biomedicina da FMUP e do Serviço de Oftalmologia da ULS de São João.


A cerimónia de entrega do Prémio BIAL de Medicina Clínica 2024 decorreu no dia 12 de fevereiro, em Lisboa.



 
 
 
 
FMUP VAI DEBATER O IMPACTO DA IA NA GESTÃO DA SAÚDE


 
 
FMUP MOSTRA BENEFÍCIOS DE PROGRAMA DE REABILITAÇÃO


 
 
PODCAST #14 | O RITMO FRENÉTICO DE SALVAR VIDAS


 
 
Bicentenário da FMUP integra debate "A Medicina é Mulher"


 
 
FMUP NOS MEDIA

- O Expresso deu destaque à entrega do Prémio Bial de Medicina Clínica 2024, que distinguiu José Paulo Andrade e Ângela Carneiro, professores da FMUP, com uma menção honrosa.


- O programa Sociedade Civil , da RTP2, ouviu Lia Fernandes, professora da FMUP, no episódio dedicado à “Saúde dos Idosos”.


- “A paixão tira-nos a capacidade crítica e há motivos antropológicos para funcionarmos assim” é o título de um artigo da Renascença , que contou com as explicações de Miguel Ricou, psicólogo e professor da FMUP.


- A jovem investigadora Ana Beatriz Almeida foi entrevistada pela Antena 1 , a propósito do projeto que visa o tratamento para o cancro do endométrio e endometriose.


- Um estudo americano concluiu que o cérebro processa memórias recentes e antigas em alturas diferentes do sono. Patrícia Monteiro, neurocientista da FMUP, comentou o tema numa reportagem da SIC .


- A Agência Lusa deu conta do estudo realizado na FMUP sobre a forma como as pessoas reagem a diferentes estímulos do dia a dia.


- A Notícias Magazine auscultou Alda Mira Coelho, professora da FMUP, num artigo sobre o número crescente de bebés e crianças pequenas com quadros depressivos.


- André Albergaria, especialista em oncobiologia e docente da FMUP, defende ser preciso recuperar a confiança dos cidadãos no SNS. Para ler o artigo no site do Expresso .


- Os professores da FMUP Fernando Schmitt , Joana Ferreira Gomes , Rosa Vilares e Sofia Magina prestaram esclarecimentos ao Viral em quatro artigos de fact-checking de saúde.



 
 
 
 
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