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Coronavírus

“Tivemos as vacinas para conquistar a nossa liberdade e agora temos de voltar ao normal”, mas com prudência

“Tivemos as vacinas para conquistar a nossa liberdade e agora temos de voltar ao normal”, mas com prudência
HUGO DELGADO/LUSA

Com a máscara a cair na rua e com quase 85% da população portuguesa totalmente vacinada, estamos cada vez mais próximos da chamada "normalidade". E Portugal deve continuar a avançar no plano de desconfinamento, defenderam os peritos esta quinta-feira na reunião do Infarmed. Pode não ser possível voltar a 2019, mas talvez seja ao "novo normal". Para isso "temos de ser prudentes, senão o novo normal não existe", dizem os especialistas ouvidos pelo Expresso

“Tivemos as vacinas para conquistar a nossa liberdade e agora temos de voltar ao normal”, mas com prudência

Mara Tribuna

Jornalista

Portugal está no “fim de uma fase pandémica” e numa situação epidemiológica descrita como “muito confortável”. Na reunião do Infarmed, realizada nesta quinta-feira, os peritos apoiaram a libertação do país, tendo em conta a elevada percentagem de população vacinada contra a covid: 81,5% já tem o esquema vacinal completo e 86% tem uma dose.

O Governo quis ouvir primeiro a opinião dos especialistas antes de tomar decisões sobre a terceira e última fase do desconfinamento. Mas a normalidade está cada vez mais próxima. No próximo Conselho de Ministros, as últimas restrições podem começar a ser levantadas. E, como disse a diretora-geral da Saúde esta semana, “vamos tender a voltar à nossa vida como era em 2019”.

O virologista Pedro Simas concorda “em absoluto” com Graça Freitas. Defende o regresso total à normalidade, ou pelo menos ao “novo normal”, porque Portugal já está numa situação de estabilidade endémica. “Tivemos as vacinas para conquistar a nossa liberdade e agora temos de voltar ao normal”, sustenta. O investigador principal do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa acredita ainda que o novo coronavírus (SARS-CoV-2) será o quinto coronavírus e que vai coexistir com os outros quatro.

O investigador Nuno Vale diz que faz sentido continuar a abrir a sociedade e regressar à normalidade, mas é mais cauteloso e considera que ainda é preciso “calma”. “Temos de ser prudentes senão o novo normal não existe”, defende o investigador na área de Farmacologia do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde.

“Temos de manter alguns cuidados, temos de manter as pessoas de maior risco protegidas e em 2019 não tínhamos de fazer isso, não andávamos de máscara nessa altura”, lembra o professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. “Isto não é o normal de 2019, não é para já”, acrescenta Nuno Vale, apontando para a importância de continuar a usar máscara e de apostar na vacinação.

Novo plano de vacinação para 2022?

A vacinação contra a covid-19 foi um dos temas mais falados na reunião do Infarmed. “Estamos numa situação muito confortável, mas há ameaças a que devemos estar atentos”, afirmou Raquel Duarte. “Devemos continuar a apostar na vacinação e antecipar desde já a eventual necessidade do reforço massivo da vacinação”, recomendou a médica que é um dos elementos da Administração Regional de Saúde do Norte que tem trabalhado no plano de desconfinamento.

O reforço da vacinação não é consensual na comunidade científica. Nuno Vale é uma das vozes a favor. O investigador de farmacologia defende mesmo que seria “benéfico um novo plano de vacinação em 2022 para toda a população”. Ou seja, considera que no próximo ano deveria existir um novo período de vacinação (com as duas doses previstas) a começar na mesma pelos grupos prioritários. “Devíamos prevenir e replicar o que aconteceu em 2021 para 2022”.

Já na perspetiva de Pedro Simas, o reforço da vacinação contra a covid-19 a toda a população “não será necessário”. Veja-se o caso da gripe, exemplifica, “que está sempre a mudar antigenicamente e são vacinados apenas os grupos de risco”. “Não me revejo no reforço massivo da vacinação”, resume o investigador científico.

Ainda não é certo se a vacina contra a covid-19 vai continuar a fazer parte das nossas vidas. Ainda assim, “continuam a ser desenvolvidas muitas vacinas, principalmente, a entrarem em ensaios clínicos”, adiantou Fátima Ventura, da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed), na reunião. "Neste momento, temos 30 vacinas ainda em fase três e oito delas em fase quatro, o que significa que são vacinas que já foram aprovadas e a sua investigação continua", avançou a especialista de avaliação de medicamentos do Infarmed.

A reunião desta quinta-feira trouxe outra novidade: é provável que até ao final do ano sejam entregues pedidos para a administração das vacinas da Pfizer, Moderna e Astrazeneca a partir dos cinco anos. As empresas estão a preparar ensaios clínicos que testem a segurança e eficácia das vacinas em bebés e crianças até aos 12 anos.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mtribuna@expresso.impresa.pt

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