Um trabalho de investigação conduzido por João Carlos Winck, médico pneumologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), propõe um algoritmo que pode ajudar os médicos a decidir o momento em que devem iniciar, descontinuar e interromper cada terapia respiratória não-invasiva, no tratamento da insuficiência respiratória aguda provocada pela COVID-19.

De acordo com o investigador do Porto, a estratégia desenvolvida em colaboração com o médico Raffaelle Scala, diretor da Unidade de Cuidados Intermédios Respiratórios de Arezzo (Itália), “pretende ajudar a uniformizar as práticas clínicas”.

“O nosso objetivo é que as terapias respiratórias não-invasivas possam ser escolhidas de forma personalizada, tendo em conta o perfil de cada paciente”, explica João Carlos Winck.

Os dados acumulados de todas as séries mais recentes em todo o mundo mostraram que estas terapias não-invasivas representam, em média, taxas de sucesso que rondam os 55 a 60%.

“Estamos a falar de casos em que não foi necessário recorrer à ventilação mecânica invasiva, que é, como sabemos, um processo altamente complexo e que acarreta mais riscos para o doente”, refere o investigador português, que integra também o grupo de investigação em “Metabolism, Nutrition & Endocrinology” do Instituto de Inovação e Investigação em Saúde (i3S) da U.Porto.

As vantagens do algoritmo

Através da utilização deste algoritmo, será então possível elencar as melhores opções de fornecimento de oxigenação e suporte respiratório não-invasivo, de forma sequencial e rotativa.

Os clínicos poderão igualmente escalar as terapias de acordo com a sua maior eficácia, mas também descontinuá-las quando existirem melhorias significativas e ainda antecipar o momento em que será necessário recorrer a estratégias invasivas, como uma entubação.

Segundo João Carlos Winck, idealmente, estas terapias, tal como todos os procedimentos de pneumologia de intervenção, devem ser realizadas numa sala de pressão negativa, com precauções rigorosas de isolamento e ventilação suficiente para evitar a contaminação por aerossóis.

“No entanto, com os equipamentos de proteção individual adequados e adaptações de segurança nos ventiladores, os riscos são reduzidos, mesmo sem a existência de pressão negativa”, conclui o também colaborador do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde.

Cerca de 20% dos pacientes com infeção por SARS-CoV-2 chegam a ser hospitalizados. (Foto: DR)

Recorde-se que as terapias respiratórias não-invasivas se tornaram intervenções primordiais na gestão da atual pandemia, poupando de forma significativa o recurso às preciosas camas de cuidados intensivos.

Dados recentes da mais ampla base de dados do mundo – International Severe Acute Respiratory and emerging Infections Consortium-ISARIC) – dão conta que cerca de 20% dos pacientes com infeção por SARS-CoV-2 são admitidos numa unidade de cuidados intensivos ou numa unidade de cuidados intermédios.