A imobilização da coluna vertebral com colete ortopédico (ortótese) não parece ter vantagens no tratamento das fraturas da coluna vertebral, quer a nível torácico, quer a nível lombar. Este é o alerta deixado por um amplo estudo, realizado por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, recentemente publicado na revista científica Spine.

Este trabalho tinha como objetivo avaliar os resultados radiológicos e clínicos de doentes que tinham sofrido fraturas na coluna, comparando os que haviam sido tratados com coletes ortopédicos com os que não foram tratados com coletes ortopédicos.

Os resultados indicam que não existem diferenças significativas entre a imobilização e a não imobilização no que se refere à dor, à incapacidade, à progressão da deformidade da coluna (também vulgarmente conhecida como “corcunda”) e à perda de altura da vértebra, nos meses seguintes à fratura.

Os autores concluem que os coletes ortopédicos “parecem não trazer benefício no tratamento agudo das fraturas da coluna torácica ou lombar”. Uma conclusão que, dizem, deve ser considerada nas recomendações e nas revisões das políticas em cuidados de saúde.

“Este artigo permitiu-nos mudar a nossa prática clínica ao pôr em causa um hábito há muito instituído”, considera Daniela Linhares, primeira autora deste trabalho.

De acordo com a investigadora da FMUP/CINTESIS, “há muitos doentes que toleram mal a utilização dos coletes e chegam mesmo a retirá-los contra a indicação médica”.

Medida com impacto na saúde… e na carteira

Estes dados “vêm reforçar a perceção com que ficamos ao seguir estes pacientes, com um potencial impacto importante a nível económico e social”. Uma das consequências imediatas pode ser a alta dos doentes dos serviços de urgência, sem necessidade de internamento, como até aqui.

Atualmente não se sabe exatamente quantas fraturas ocorrem em Portugal. Quanto às despesas, sabe-se que um colete ortopédico custa entre 150 a 200 euros, dependendo da especificação. Caso os doentes não possam pagar, o valor é geralmente suportado pelo Estado.

Além de investigadores do CINTESIS e da FMUP, participaram também neste estudo investigadores da CUF Porto e do Centro Hospitalar Universitário de São João, nomeadamente Bernardo Sousa Pinto, Manuel Ribeiro da Silva, Nuno Neves e João Fonseca.

Na calha está a publicação de outro estudo deste grupo, desta vez sobre os custos e as poupanças que poderão ser geradas pela adoção de novas recomendações.