As viagens turísticas pela União Europeia passaram a ser possíveis e o site Re-open EU ajuda a conhecer as medidas, restrições e taxa de vacinação em cada país. Como esperado, pessoas provenientes de países com taxas elevadas de COVID-19, incluindo aqueles onde circulam as variantes mais agressivas (África do Sul, Brasil, Índia, Chipre, Croácia, Lituânia, Holanda, Suécia) têm a obrigação de 14 dias de isolamento profilático em Portugal. Este período tem sido ativamente supervisionado em alguns países, como na Austrália, Reino Unido e Canadá, detetando-se precocemente casos ativos e evitando a sua disseminação na comunidade.

Poderemos nós, em Portugal, reformular as nossas práticas de auto-isolamento e passar para um isolamento mais supervisionado em hotéis? Esta metodologia tem conseguido conter, de forma muito mais eficaz, a subida dos casos nos países que já a adotaram. E o novo certificado digital COVID europeu, prestes a entrar em vigor (1 de Julho de 2021), o que pode trazer de novo? Em Espanha, já é possível, desde 7 de junho, entrar no pais exibindo este certificado, que comprova que o viajante já tem a vacinação completa.

De acordo com o último relatório de vacinação da DGS, até 30 de maio, apenas 37% da população portuguesa recebeu uma dose de vacina. Sabemos que uma dose não evita o internamento hospitalar e que esse risco é agravado pela variante Delta (B.1.617, anteriormente conhecida como Indiana). A percentagem de vacinados (com uma dose) com menos de 50 anos é, naquela data, de apenas 19%. Isso deixa, neste momento, um grande número de pessoas vulneráveis em risco de infeção e permite a transmissão progressiva.

Efetivamente, o último relatório das “chamadas” linhas vermelhas de 6 de junho sugere que o grupo etário com maior incidência cumulativa a 14 dias correspondeu ao grupo dos 20 aos 29 anos (131 casos/100.000 habitantes). Por outro lado, o mesmo relatório mostra que o grupo etário com maior número de casos de COVID-19 internados em UCI corresponde ao grupo etário dos 50 aos 59 anos (19 casos neste grupo etário a 2 de junho de 2021). Nesta altura, os dados da vacinação mostravam uma taxa de vacinação completa de apenas 18% entre os 50 e os 64 anos, nitidamente, uma cobertura a indiciar alguma vulnerabilidade.

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É, pois, fundamental, que todos os portugueses vacinados com a 2.a dose mantenham a guarda! Assim, os vacinados devem manter todas as precauções nas duas semanas seguintes à última dose (que é, habitualmente, o tempo que a imunidade máxima demora a desenvolver- se). Os comportamentos essenciais, como o uso da máscara, o distanciamento social e evitar- se locais com pouca ventilação devem manter-se, rigorosamente, nesse período. Se isso não for feito, aumenta-se o risco de reinfeção (sobretudo com as novas variantes).

Devido à excelente eficácia da maioria das vacinas atuais, felizmente, a maioria das infeções, em indivíduos completamente vacinados, são casos leves. De acordo com a base de dados ISARIC, no Reino Unido, até 10 de abril de 2021, 3.842 (7,3%) dos 99.445 pacientes internados haviam sido vacinados. Dos casos diagnosticados 21 dias após a segunda dose, 113 (de 400) morreram com COVID-19 (28%). Destes, 82 estavam incluídos no grupo de “idosos frágeis”, como refere um estudo internacional.

No Catar, a 31 de março, foram registadas infeções em 6.689 pessoas que receberam uma dose da vacina e em 1.616 pessoas que receberam duas doses. Sete mortes por COVID-19 também foram registadas entre as pessoas vacinadas: cinco após a primeira dose e duas após a segunda dose.

Nos EUA, de acordo com o Centro para o Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), sabe-se que 396 (7%) pessoas completamente vacinadas foram hospitalizadas por COVID-19 e apenas 74 (1%) morreram.

Em Portugal, ainda não foram publicados os casos de COVID-19 devido à falência vacinal. Seria importante conhecer quantos doentes, que já foram previamente vacinados, estão atualmente a ser infetados/internados por COVID-19. Na ultima reunião do Infarmed de 1 de junho de 2021, Baltazar Nunes descreveu apenas 15 hospitalizações por COVID-19 em portugueses de mais de 80 anos com a vacinação completa.

O surgimento de variantes do SARS-CoV-2 em locais onde o vírus não é contido representa uma ameaça global do ponto de vista da saúde pública e da eficácia das vacinas. A variante Delta é a última a causar algumas preocupações, com a recente subida exponencial de casos no Noroeste do Reino Unido, especialmente em Bolton, Blackburn, Darwen e Bedford.

Como se comporta a variante da Índia perante a vacinação e os casos de doentes já recuperados da COVID-19? Felizmente, as notícias não parecem ser más…

Os anticorpos induzidos pela vacina COVAXIN (desenvolvida pelo Instituto Bharat da Índia) tiveram um melhor desempenho contra a variante B.1.617 (Índia) do que os produzidos em casos recuperados de COVID-19, na Índia, sugerindo que esta vacina tem uma resposta robusta contra a Variante Delta.

Outro estudo realizado na Alemanha demonstrou que a variante B.1.617 (Delta) pode escapar (de forma moderada) ao controle mediado por anticorpos, em pacientes convalescentes de COVID-19, ou a anticorpos induzidos pela vacina Pfizer/Biontech .

Analisar esta eficácia clínica no Mundo real é essencial! Em Portugal é crucial manter a vigilância das variantes e despistá-las nos novos casos de infeções por SARS-CoV2, em indivíduos vacinados.

Assim, sabemos que mesmo com duas doses da vacina ainda é possível infetar-se e transmitir o vírus. Contudo, após duas doses, a doença parece ser mais leve na maioria dos casos, embora já existam casos mortais descritos noutros países.

Todas as variantes se espalham da mesma maneira. O modo mais eficaz de impedir o desenvolvimento ou a disseminação de variantes é continuar a reduzir as taxas de infeção e transmissão do vírus nas nossas comunidades, incluindo uma atenção redobrada aos turistas. Vacinar-se logo que chegar a sua hora e continuar a manter as medidas de saúde pública serão condições essenciais para a vitória nestas Olimpíadas!