Duas equipas de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) venceram o Prémio Grünenthal DOR 2020 nas categorias de investigação básica e de investigação clínica.

O Prémio de Investigação Clínica, no valor de 7.500 euros, distinguiu um estudo inédito que avaliou as razões para a falta de adesão à medicação da perspetiva dos doentes com dor crónica ao longo de 12 meses.

“Este estudo mostra que a não adesão à terapêutica é comum nos doentes com dor crónica. Apenas uma semana após o início do tratamento, 37% dos doentes já não tomavam os medicamentos prescritos. Ao fim de um ano, essa percentagem atingia os 51%”, sublinha Rute Sampaio, investigadora da FMUP/CINTESIS.

A autora principal deste trabalho, publicado no Patient Preference and Adherence, encara o Prémio recebido como “o reconhecimento da importância da Adesão Terapêutica, enquanto comportamento de saúde, como um domínio da responsabilidade de  todos os intervenientes da saúde”.

Os resultados do trabalho, assinado também por Luís Azevedo, Cláudia Camila Dias e José Castro Lopes, contrariam a ideia de que a falta de adesão à medicação ocorre apenas quando a doença não dá sintomas ou que se deve principalmente a esquecimento dos doentes.

As razões para a não adesão à terapêutica na dor crónica incluem a perceção e receio de efeitos secundários ou colaterais, a perceção de falta de eficácia, a ideia de que os medicamentos não são necessários, o aparecimento de um novo problema de saúde ou mesmo constrangimentos financeiros.

Os autores acreditam que “identificar doentes em risco de não adesão a grupos de fármacos específicos prescritos para dor, com base nas crenças dos doentes, poderia fornecer informações confiáveis ​​para desenvolver novas intervenções-alvo para prevenir e reduzir comportamentos de não adesão no futuro”.

A dor em doentes de cancro

Já o Prémio de Investigação Básica, também no valor de 7.500 euros, contemplou este ano o trabalho realizado por Isaura Tavares (principal autora), José Tiago Pereira, Joana Ribeiro, Paula Serrão e Isabel Martins.

A  investigação premiada, que recorreu a modelos animais, lança uma nova luz sobre os mecanismos neurológicos subjacentes à dor e aos sintomas da neuropatia induzida pela quimioterapia, nomeadamente quanto às consequências centrais da lesão dos nervos periféricos pelos agentes citostáticos usados no tratamento de doentes com cancro.

“A principal conclusão é que o sistema nervoso central é indiretamente afetado pela lesão dos nervos periféricos. Entre as áreas do cérebro afetadas estão áreas envolvidas no controlo da dor”, explica Isaura Tavares.

A neuropatia é caracterizada por um aumento da sensibilidade a estímulos dolorosos, mas também a estímulos que não deveriam causar dor. Esta complicação é comum no tratamento do cancro, afetando significativamente a qualidade de vida dos doentes e podendo obrigar mesmo à mudança da terapêutica.

“Este trabalho tem um enorme significado para mim. Na minha vida, houve pessoas próximas que tiveram esta complicação durante o tratamento oncológico”, reage a também investigadora da FMUP e do i3S.

Os investigadores sugerem o desenvolvimento de novas drogas que combinem mecanismos de ação diversos para aumentar a eficácia do tratamento da neuropatia. Os resultados deverão ser agora reavaliados com recurso a métodos em desenvolvimento, de modo a avaliar o real impacto no tratamento de doentes oncológicos.

A cerimónia de entrega do Prémio Grünenthal DOR 2020 às duas equipas da FMUP vai decorrer esta terça-feira, 19 de outubro, na Fundação Calouste Gulbenkian.