Opinião

Vacinação covid-19: estaremos na presença de uma proteção ampla?

Vacinação covid-19: estaremos na presença de uma proteção ampla?

Nuno Vale

Investigador em Farmacologia no Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e professor da Faculdade de Medicina do Porto

No período em que muito se discute a eficácia da vacina para as novas variantes do SARS-CoV-2, até que ponto as vacinas atuais podem proteger contra essas variantes do vírus? Nuno Vale, investigador na área da Farmacologia no Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e professor na faculdade de Medicina da Universidade do Porto, reflete sobre a preocupação de as variantes de SARS-CoV-2 poderem reduzir a eficácia das vacinas atuais que foram desenvolvidas para proteger contra a estirpe do início da pandemia

Nos três meses após a vacina COVID-19 da Janssen (Grupo Johnson & Johnson) ter recebido autorização da FDA (Food and Drug Admnistration) dos EUA, e de acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA, mais de dez milhões de americanos tinham recebido esta terapêutica. A vacina Ad26.COV2.S, conhecida como vacina da Janssen, possui um vetor de adenovírus humano tipo 26 recombinante e foi autorizada a sua utilização com base em dados clínicos que mostraram forte eficácia clínica em pacientes sintomáticos nos EUA, América Latina e África do Sul.

Já durante este mês de junho, dia 9, foi publicado na revista Nature um novo trabalho que aborda as respostas imunológicas celulares e de anticorpos obtidas após vacinação com a Ad26.COV2.S contra o vírus SARS-CoV-2 original e as variantes mais preocupantes. A excelente notícia é que a vacina da Janssen induziu respostas imunológicas contra todas as variantes virais. Para explorar a resposta imunológica, os autores administraram a vacina da Janssen com uma ou duas doses aos vinte voluntários com idades entre os 18 e os 55 anos. Este pequeno grupo fazia parte de um estudo maior multicêntrico para avaliar a vacina em várias doses e diferentes esquemas de aplicação.

Os investigadores usaram vários métodos para avaliar as respostas imunológicas celulares e de anticorpos contra a estirpe viral original (WA1/2020) e contra as várias variantes virais identificadas pela primeira vez na África do Sul (B.1.351 ou beta), no Reino Unido (B.1.1.7 ou alfa), Brasil (P.1 ou gama) e EUA (CAL.20C ou épsilon). Os dados recolhidos mostram “que as respostas de anticorpos neutralizantes induzidas por Ad26.COV2.S foram reduzidas contra as variantes B.1.351 e P.1, mas as respostas de anticorpos não neutralizantes funcionais e as respostas de células T foram amplamente preservadas contra as variantes de SARS-CoV-2. Essas descobertas têm implicações para a proteção da vacina contra as variantes do SARS-CoV-2 preocupantes”. Por outras palavras, o sistema imunológico dos participantes reteve parte de sua capacidade de combater as variantes virais, mesmo quando seus níveis de anticorpos neutralizantes caíram.

Embora o número de variantes associadas ao SARS-CoV-2 possa já estar alterado desde a realização destes ensaios, sem dúvida que é uma excelente notícia a realização de estudos complementares que comprovam a eficácia das vacinas atuais, neste caso da vacina da Janssen.

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