Vamos ao início da teia e tentemos desembrulhá-la. Há um vírus. Esse vírus propaga-se quando pessoas infetadas estão, sem máscara, próximas de pessoas não infetadas. Após seis meses de aprendizagem, quais serão as atividades em que isto acontece? Carlos Martins, médico especialista em Medicina Geral e Familiar, investigador e professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, diz que faltam medidas para travar a disseminação do vírus e para organizar os cuidados de saúde que tratam dos infetados. Medidas como o recolher obrigatório parecem-lhe “mais simbólicas do que eficazes” e acusa a DGS e o Ministério da Saúde de falta de transparência. É preciso diminuir as hipóteses de contágio em bares e restaurantes, fechar cantinas e cancelar festas e casamentos. Para apoiar um sistema de saúde a colapsar, defende que é preciso acionar a proteção civil, os bombeiros ou até cidadãos voluntários para rastrearem contactos e seguirem doentes ligeiros, por forma a tirar os telefones das mãos dos médicos e deixá-los tratar doentes.
Os autarcas do Norte estão a tentar pôr em vigor medidas específicas na região e pedem ao Governo que decrete o Estado de Emergência. O senhor também vive no norte do país. Concorda com esta visão?
Esta pressão e iniciativa dos autarcas do Norte resulta da constatação de uma realidade, que é o facto de termos uma pandemia descontrolada. Estão a ser procuradas medidas de uma forma quase desesperada, quando, no fundo, tivémos tempo mais que suficiente para nos prepararmos enquanto país. Nós desdenhámos de evidências científicas de que isto ia acontecer desta forma e de que a segunda vaga seria, de forma natural, pior do que a primeira. Mas não foram tomadas essas medidas, houve um certo facilitismo. Parecia que estávamos a navegar seguindo os passos da Suécia. Não estou com isto a dizer que defendo, como alternativa, o confinamento total e absoluto, como se fez na primeira vaga. Há caminhos alternativos.
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