Investigadores U.Porto

U.Porto Reitoria SIP
Elísio Costa
Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto / Unidade de Ciências Biomoleculares Aplicadas / Rede de Química e Tecnologia (UCIBIO/REQUIMTE) / Centro de Competências em Envelhecimento Ativo e Saudável da Universidade do Porto (Porto4Ageing)

Investigador principal no projeto BEAMER


Fale-nos um pouco sobre o seu percurso científico na U.Porto.
O meu percurso profissional na U.Porto iniciou-se em 2012 como docente no laboratório de Bioquímica da Faculdade de Farmácia, o mesmo laboratório onde tinha terminado o doutoramento em 2008. Durante os primeiros anos em que exerci funções na U.Porto fui investigador integrado do i3S e, mais tarde, do UCIBIO/REQUIMTE. Paralelamente, representei a U.Porto na Parceria Europeia para o Envelhecimento (2012-2020), onde coordenei o grupo de ação em Adesão aos Planos Terapêuticos. Em 2015, liderei a candidatura da região do Porto como sítio de referência em envelhecimento ativo e saudável (Porto4Ageing) com 2 estrelas (2/4), que foi renovada em 2018 com 4 estrelas (4/4).  Em 2015 fui nomeado Diretor do recém criado Centro de Competências em Envelhecimento Ativo e Saudável da U.Porto. Em 2018 o Centro de Competências em Envelhecimento, em colaboração com outros serviços da U.Porto – U.Porto Inovação e Serviço de investigação e Projetos – assumiu a coordenação do RIS-HUB do EIT-HEALTH, pelo qual sou responsável.

Na convocatória "H2020-JTI-IMI2-2020-23-two-stage", dos 6 projetos recomendados para financiamento e entre 56 propostas submetidas, o projeto BEAMER – BEhavioral and Adherence Model for improving quality, health outcomes and cost-Effectiveness of healthcaRe – foi um dos felizes contemplados. Na sua opinião, qual é o fator mais importante para a redação de uma boa proposta?
Em primeiro lugar é importante perceber muito bem os objetivos da convocatória para podermos responder da forma mais adequada. Não menos importante é que a candidatura seja pensada, desenvolvida e escrita com a contribuição de todas as organizações que fazem parte da parceria. O trabalho colaborativo é sempre uma mais valia.

Em que consiste o projeto BEAMER – BEhavioral and Adherence Model for improving quality, health outcomes and cost-Effectiveness of healthcaRe – e quais os seus principais objetivos?
Este projeto do programa IMI (Innovative Medicines Initiative) tem a duração de 5 anos, com financiamento global de 12 milhões de euros, e reúne 28 parceiros europeus, vindos da academia, sociedade civil e indústria. Liderado pela Pfizer e coordenado pela Universidade do Porto, o projeto BEAMER tem como objetivos melhorar a compreensão dos fatores que afetam a adesão aos planos terapêuticos e desenvolver um modelo agnóstico que responda às necessidades dos doentes e aumente as taxas de adesão.

Embora se encontre ainda em fase inicial, de que forma o projeto BEAMER e o trabalho a desenvolver no âmbito do projeto pretendem informar, além da ciência, medidas e políticas, aos níveis nacional e internacional?
Atualmente, a grande maioria dos projetos europeus prevê que, paralelamente às atividades de investigação e inovação, sejam incluídas atividades com o objetivo de influenciar as políticas. Neste projeto iremos trabalhar com autoridades públicas, nomeadamente autoridades de saúde, municípios e decisores políticos, para que a solução a desenvolver corresponda às suas necessidades e expectativas, e permita que no futuro a nossa solução seja de facto implementada na prática clínica.

Tem colaborado em diversos projetos de investigação nacionais e internacionais. De que forma a docência se articula com a investigação financiada?
O envolvimento nos diversos projetos tem permitido o desenvolvimento de novas ofertas formativas, nomeadamente ao nível da formação avançada. São exemplos disso a criação recente da Unidade Curricular INNOVPed em Saúde Digital, e os cursos de “Envelhecimento, Alterações Climáticas e Cidadania” e “Inovação para a Saúde”, desenvolvidos no contexto do projeto EUGLOH.

No contexto da sua investigação, pode falar-nos um pouco sobre as áreas core em que tem trabalhado?
Nos últimos anos tenho estado dedicado ao desenvolvimento de atividades de investigação em rede, tendo privilegiado a validação e escalonamento de solução digitais que deem resposta às necessidades da população, particularmente da mais envelhecida. Em termos de investigação, a área a que mais me tenho dedicado é a adesão à terapêutica, nomeadamente na estandardização da terminologia e das medidas para avaliar o grau de adesão, e no desenvolvimento e avaliação do impacto de intervenções desenvolvidas para promover a adesão à terapêutica.

A pandemia de COVID-19 gerou consequências não apenas na saúde física, mas também a nível social, económico e emocional dos indivíduos. Pode falar-nos um pouco do impacto proveniente do surto do coronavírus em pessoas com doenças crónicas?
É sabido por todos o quanto esta pandemia impactou diferentes níveis das nossas vidas, mas este impacto foi muito mais significativo nos mais velhos, que são também a população com maior prevalência de doenças crónicas. Estes doentes foram aconselhados a só sair de casa em circunstâncias excecionais e indispensáveis, o que os condicionou a, na maioria das vezes, apenas recorrerem aos serviços de saúde perante situações muito graves e muitas vezes já sem solução. Não será por acaso que a mortalidade não associada a infeção por COVID-19 tenha aumentado de forma significativa durante este período. Por outro lado, muitos diagnósticos ficaram por fazer, nomeadamente os oncológicos, o que terá consequências no futuro.
Não posso deixar de referir a questão do isolamento, particularmente da população mais idosa, cujo impacto psicossocial e físico ainda está por determinar.

Estando responsável por um dos dois RIS HUB do EIT Health em Portugal, quais têm sido os contributos mais relevantes desta estrutura para a investigação, para a sociedade, e para a U.Porto?
O RIS HUB do EIT Health no Porto tem como principal missão a promoção da inovação e do empreendedorismo em saúde, na região Norte de Portugal. Para isto, têm sido desenvolvidas atividades de promoção do ecossistema de inovação local, e que ajudam os estudantes, investigadores e empreendedores a ter mais sucesso a trazer as suas ideias para o mercado. Para ter uma ideia, em 2020, o RIS HUB do EIT Health no Porto apoiou 25 projetos de provas de conceito, realizou 2 cursos de empreendedorismo, apoiou 3 candidaturas que venceram a RIS Innovation Call de 2020, uma start-up que venceu o Jumpstarter e outra semi-finalista do Catapult (estes três correspondem a programas promovidos pelo EIT Health), o que permitiu atrair para a região cerca de 800.000 euros.

De que forma perspetiva a carreira científica em Portugal, e de que modo considera que esta está associada com a captação de financiamento?
A investigação que se faz em Portugal é conduzida maioritariamente por docentes do ensino superior. No entanto, como todos sabemos, os docentes têm cargas letivas elevadas, estão embebidos em processos administrativos complexos e morosos, e num processo de ensino/aprendizagem cada vez mais exigente, o que tira disponibilidade para a captação de financiamento. Isto, porque a angariação de financiamento requer muito tempo e dedicação, nomeadamente na ligação a redes nacionais e particularmente internacionais, onde a maioria dos consórcios nascem. Assim, seria importante investir mais em investigadores de carreira e flexibilizar a carga horária dos docentes em função dos financiamentos captados.

Que conselhos daria a todos/as aqueles que se encontram atualmente a desenvolver propostas de investigação, de forma a que se prepararem melhor, e respondam de forma mais competitiva, aos futuros concursos/projetos de Investigação e Desenvolvimento (I&D), no âmbito do programa quadro Horizonte Europa (2021-2027)?
Esta é uma pergunta difícil, pois não existe uma fórmula mágica para o sucesso nestes concursos. Posso referir alguns aspetos que considero importantes: a constituição do consórcio deve incluir representantes da academia, empresas, decisores e sociedade civil; cuidado no desenvolvimento da proposta para que responda na integra ao que é solicitado na convocatória; envolver todos os parceiros do consórcio na elaboração da proposta; atenção à escrita, que deve ser cuidada e objetiva; e, finalmente, alguma sorte!


Poderá consultar mais informações e contactos na página pessoal do investigador, acessível aqui.

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