Investigadores U.Porto

U.Porto Reitoria SIP
Orlando Frazão
Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência         (INESCT TEC)

Investigador Sénior no Centro de Fotónica Aplicada


Poderíamos, de forma breve, percorrer o seu percurso científico na U.Porto?
O meu percurso científico teve início em 1998, no âmbito do projeto Europeu UPGRADE – High Bitrate 1300nm Upgrade of the European Standard Single Mode Network, cujo objetivo era desenvolver um laser pulsado (relógio ótico) a 10 GHz. Em 1999, ingressei no INESC Porto (atualmente INESC TEC) com uma bolsa de investigação num projeto FCT, em parceria com o INEGI. Durante alguns anos, concentrei os meus esforços no trabalho com sensores de Bragg em fibra ótica para medição de parâmetros físicos.
Iniciei o meu doutoramento em Física em 2006 na FCUP, com o propósito de estudar sensores em fibra ótica, tanto interferométricos quanto baseados em efeitos não lineares. Concluí o doutoramento em 2009, tendo sido distinguido com o Prémio Fernando Bragança Gil 2012, que reconhece a melhor tese de doutoramento em Física entre 2009 e 2010, concedido pela Sociedade Portuguesa de Física.
Desde 2009 sou investigador a tempo inteiro no INESC TEC, participando ativamente em vários projetos financiados pela FCT, assim como em projetos europeus. Desempenhei o papel de orientador em diversos doutoramentos nesta área. Em 2011, fui distinguido com a designação honorífica de Senior Member of SPIE, em reconhecimento às minhas significativas contribuições para a comunidade de Ótica e Fotónica.
Atualmente, faço parte do conselho de várias sociedades científicas de renome internacional, tais como a SPOF (Sociedade Portuguesa de Ótica e Fotónica), a EOS (European Optical Society) e a ICO (International Commission for Optics), tendo organizado, ao longo dos anos, diversos eventos nacionais e internacionais de grande relevância para a comunidade científica.

No seu percurso profissional e científico, há com certeza lugar a dois ou três marcos relevantes. Poder-nos-ia destacar quais?
Gostaria de destacar três marcos. O doutoramento foi o marco mais significativo, e acredito que atualmente é crucial divulgar aos alunos que, apesar de ser uma conquista pessoal, a obtenção de um doutoramento a médio ou longo prazo pode trazer benefícios na carreira científica e/ou indústria. Embora seja verdade que as empresas nacionais podem não ter uma grande procura por doutorados, as multinacionais tendem a exigir, cada vez mais, esse grau nos seus quadros de pessoal.
Outro marco importante foi ter recebido o prémio de melhor tese de doutoramento, o que resultou em cobertura noticiosa em vários jornais, para além da participação no Porto Canal.
Finalmente, um marco sempre relevante é a nossa primeira publicação, o nosso primeiro projeto, o primeiro convite para avaliar artigos, o nosso primeiro prémio como Best Student Paper e, por fim, quando os nossos alunos de doutoramento são, também eles, distinguidos com prémios.

Atualmente é responsável de área no Centro de Fotónica Aplicada do INESC TEC, participando, em simultâneo, em projetos inovadores como é o caso do WipTherm, no âmbito do qual se desenvolveu um laser de alta potência em fibra ótica para alimentar nano satélites. Para além das sinergias óbvias, tais como telecomunicações ou nanotecnologia, em que áreas, e de que forma, pode a fibra ótica inovar?
A fibra ótica continua a ser uma fonte constante de inovação. No momento, estou envolvido no trabalho com cabos submarinos e na utilização de técnicas óticas avançadas, tais como o DAS (Distributed Acoustics Sensing) e o SOP (Sensing Optical Polarization), para a deteção de ondas sísmicas. O progresso no desenvolvimento de novas técnicas de fabricação de fibra óticas abriu portas para a criação de fibras de cristal fotónico, adequadas para serem utilizadas em lasers de alta potência, como exemplificado no caso do projeto europeu WipTherm. Além disso, há uma exploração de efeitos não lineares para aplicações quânticas.
Neste cenário em constante evolução, o foco atual de desenvolvimento concentra-se em fibras biodegradáveis à base de algas para aplicações biomédicas. Este avanço representa uma abordagem sustentável e inovadora, indicando uma crescente sensibilidade para questões ambientais e uma adaptação da tecnologia de fibra ótica para atender às demandas da área biomédica.

A investigação em fibra ótica e fotónica é incrivelmente dinâmica, com crescente solicitação para integração em tecnologias de ponta, a título de exemplo. Que desafios se preconizam no horizonte para esta área de investigação?
A fibra ótica saiu do laboratório e ingressou na indústria, e os desafios futuros residem na incessante busca por maior eficiência e velocidade de transmissão de dados, especialmente diante do crescente volume de informações gerado pelas tecnologias modernas.
Além disso, a integração de fibras óticas em infraestruturas de risco, como sistemas de comunicação em cabos submarinos, traz desafios técnicos únicos, como a necessidade de maior resistência e durabilidade em condições adversas.
A sustentabilidade também se torna uma consideração importante, com o desenvolvimento de fibras biodegradáveis à base de algas para aplicações biomédicas, de que já falámos.

Em 2023 foi distinguido na área de optoelectrónica e fotónica pelo ranking publicado pela Universidade de Stanford, que dá nota dos 2% dos cientistas mais citados mundialmente. De que forma podemos contribuir para continuar a premiar a qualidade de investigação e incentivar a produção científica?
O importante é que as universidades apoiem as áreas de excelência em que as faculdades demonstram extrema competência, e contratem profissionais especializados nessas áreas. No caso da ótica em Portugal, estamos na vanguarda, e é imperativo manter esse elevado padrão de qualidade no trabalho, resultando na produção científica e na formação de novos doutorados.
Embora seja verdade que os prémios para a investigação em Portugal sejam limitados, até mesmo simbólicos, é crucial reconhecer que, atualmente, há mais prémios direcionados para a indústria e especialmente para start-ups, do que para a ciência. No entanto, para superar essa lacuna, conferências e sociedades internacionais desempenham um papel crucial. A ciência, pela sua natureza, é uma conquista que transcende fronteiras e recebe reconhecimento internacional.
Neste contexto, acredito que a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), e até mesmo as universidades, poderiam desempenhar um papel significativo ao premiar os 2% dos cientistas mais citados mundialmente, tal como premeia Stanford. Essa iniciativa não só incentivaria a excelência na investigação, como também destacaria o impacto global dos contributos científicos portugueses.

Conta já com quase 30 anos de experiência em investigação. Que conselhos daria a um/a jovem investigador/a em início de carreira científica?
A minha sugestão para os jovens em início de carreira será dedicarem-se a uma área de investigação de interesse, mantendo sempre em mente que a investigação é uma profissão altamente competitiva, tanto a nível nacional quanto internacional. Para alcançar o sucesso, é crucial estar familiarizado com diferentes realidades e perspetivas. Um doutoramento misto pode ser uma excelente opção, proporcionando uma abordagem mais abrangente e enriquecedora.
Conhecer e estabelecer relações com profissionais de destaque na sua área de atuação também é fundamental. Essas conexões podem oferecer oportunidades de colaboração e enriquecer a compreensão do campo. Por fim, é importante destacar que a pesquisa não é apenas mais um emprego; é um privilégio reservado para aqueles que têm a paixão de se tornarem cientistas e fazerem parte de ranking da Universidade de Stanford, por exemplo. Entender e abraçar esse compromisso exclusivo pode ser determinante para alcançar o sucesso na carreira de investigação.






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