Investigadores U.Porto

U.Porto Reitoria SIP
Ana Sofia Ribeiro
Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) / Grupo de metastização em Cancro

Investigação em Cancro da mama, Metástases e Biomarcadores

Regressando ao ponto de partida, o que a motivou a prosseguir carreira científica em oncologia e biomedicina?
Desde muito cedo que demonstrei interesse pela área da biologia e da saúde. Foi por isso que, perto dos meus 12 anos, segui com muito interesse as notícias que surgiam sobre a SIDA e a procura incessante dos investigadores em encontrar uma cura para esta doença. Nesse momento soube que queria ser investigadora e contribuir para melhorar o conhecimento, e o tratamento, de doenças incuráveis. Claro que aqui caberiam várias áreas, mas a oncologia ganhou um especial carinho, devido ao facto de presenciar a evolução desta doença em pessoas muito próximas. Estando focada na oncologia, procurei o curso que achei que me daria a melhor formação para fazer investigação, e escolhi Bioquímica na U.Porto. Depois fui afunilando a formação na área da oncologia, através do Mestrado em Oncologia molecular da FMUP, seguido de Doutoramento em Biomedicina, pela mesma faculdade. Durante este tempo comecei a trabalhar na área do cancro da mama, e aí me mantive ao longo destes 20 anos.

Integra o grupo de investigação em metastização em Cancro do i3S e a sua investigação incide, muito particularmente, no cancro da mama, no estudo das suas metásteses e biomarcadores. Poderia partilhar com a Comunidade Científica da U.Porto quais os projetos e pistas de investigação com maior potencial que se encontra atualmente a desenvolver e prosseguir, e de que forma estes/as poderão impactar o futuro desta área de investigação?
Atualmente, estou envolvida em vários projetos de investigação no i3S, com foco na área de cancro da mama e no processo de metastização. Esta área da metastização tem sido o foco dos últimos anos pois é, na verdade, a grande causa da mortalidade associada aos doentes com cancro da mama. Infelizmente, para este estadio avançado temos menos opções terapêuticas e menos formas de monitorizar as doentes. Por isso mesmo, estou interessada em explorar os mecanismos moleculares envolvidos na metastização, de forma a encontrar novas abordagens terapêuticas, mais eficazes. Adicionalmente, outra grande área da nossa investigação centra-se no estudo do secretoma tumoral, que representa tudo o que é libertado pela célula tumoral para a corrente sanguínea, de forma a encontrar novos biomarcadores que possam ser utilizados para identificar as doentes com maior risco de vir a desenvolver cancro da mama metastático. Estes projetos têm o potencial de impactar significativamente o futuro da oncologia, fornecendo insights importantes para o diagnóstico, a monitorização da doença metastática e tratamentos mais direcionados.

Mais especificamente ainda, o seu estudo das metástases cerebrais do cancro da mama levou ao desenvolvimento de novas ferramentas in vivo e à identificação de uma assinatura de células estaminais do cancro da mama no cérebro, com implicações prognósticas. Poderíamos discorrer a importância deste trabalho e o impacto que pode ter no diagnóstico e tratamento do cancro da mama com metástases cerebrais?
A metastização cerebral tem sido uma área de grande foco do nosso trabalho nos últimos anos. A principal razão prende-se com o facto de ser o local metastático com maior impacto na baixa sobrevida das doentes, para além de ser a que mais impacto tem no bem-estar e qualidade de vida. Além disso, são as metástases mais difíceis de tratar e, por isso, onde temos também menos ferramentas para ajudar estas doentes. No nosso trabalho, identificamos que as células que metastizam para o cérebro estão enriquecidas em propriedades estaminais, o que lhes confere uma vantagem na formação da metástase no cérebro, assim como podem ser mais resistentes à terapia. Dado esse conhecimento, podemos abordar quais as implicações de “atacar” estas células para controlar a doença metastática para o cérebro. Além desse trabalho, e usando os secretomas tumorais, temos vindo a identificar novas proteínas que estão em circulação e que nos parecem ter impacto no processo de metastização cerebral. Por isso, estamos a estudar o seu papel, usando modelos animais, para perceber de que forma é que a presença destas proteínas em circulação afeta a metastização cerebral.  Com esta abordagem pretendemos identificar biomarcadores preditivos e orientar o desenvolvimento de terapias personalizadas. Isso pode resultar em intervenções mais eficazes para doentes com cancro de mama metastático cerebral, impactando na sobrevivência e qualidade de vida destas doentes.

Venceu a primeira edição do Prémio Hologic Saúde da Mulher 2023. Poder-nos-ia ajudar a compreender a investigação e a descoberta que levaram a que fosse laureada, e o que significou, para si, este reconhecimento?
Foi com grande alegria e orgulho que fui selecionada na primeira edição do Prémio Hologic Saúde da Mulher 2023. Neste trabalho, identificámos uma proteína importante para a metastização cerebral do cancro da mama, denominada VGF, cujo impacto clínico pretendemos validar como biomarcador preditivo e de prognóstico para a metastização cerebral em mulheres com cancro da mama. O nosso grande objetivo é desenvolver novas ferramentas com vista a melhorar o diagnóstico e a terapêutica para mulheres com cancro de mama metastático cerebral. Isso irá permitir melhorar a vigilância precoce das doentes, as quais podem vir a beneficiar de terapias específicas, reduzindo também os custos associados ao tratamento.

O que nos diz a ciência, e a sua investigação em particular, sobre a evolução das terapias para combater o cancro da mama metastático? Que inovações nos esperam no horizonte?
A minha investigação e a de outros cientistas na área do cancro da mama metastático estão a impulsionar inovações terapêuticas, incluindo terapias direcionadas e imunoterapia. Essas abordagens promissoras têm o potencial de melhorar significativamente a sobrevida das doentes com cancro da mama metastático, oferecendo opções de tratamento mais eficazes e menos invasivas. O cancro da mama tem sido um exemplo de grande evolução de tratamento ao longo dos anos, e os investigadores estão a trabalhar arduamente para trazer novas soluções para estas doentes, com o grande objetivo de tornar esta doença o menos crónica possível.

A investigação, em qualquer que seja a área científica, é o resultado de êxitos e reveses. Sobre o impacto emocional que advém da procura por descobertas inovadoras numa área de investigação tão sensível e fundamental, que estratégias partilharia com a comunidade para melhor gerir as frustrações e o peso emocional omnipresente na investigação debruçada sobre o cancros?
Lidar com os altos e baixos na investigação numa área tão sensível quanto a do cancro, pode ser emocionalmente desafiador. Por isso, tento adotar algumas estratégias para gerir melhor essas frustrações e o peso emocional que daí advém. Parte dessa estratégia passa por manter sempre um grande foco no impacto que a nossa investigação pode vir a ter nos doentes oncológicos, relembrando-me constantemente que a ciência avança todos os dias e que, descobertas que pareciam muito longínquas há 15 anos atrás, são hoje parte da solução para tratar estes doentes. Mantendo essa perspetiva positiva sobre o impacto significativo que o nosso trabalho pode ter na vida das pessoas afetadas ajuda a ultrapassar os momentos de maior frustração.


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