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Entrevista_SalomePinho

Investigadores U.Porto

U.Porto Reitoria SIP
Salomé Pinho
Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da U.Porto (i3S) / Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP) / Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da U.Porto (ICBAS)

Vencedora ERC Synergy Grant


Fale-nos um pouco sobre o seu percurso científico na U.Porto e o que mais valoriza no i3S.
O meu percurso académico na Universidade do Porto iniciou-se no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), onde concluí a licenciatura em Medicina Veterinária, seguindo-se um doutoramento em Ciências Biomédicas, também no ICBAS. Realizei o meu projeto de doutoramento no Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da U.Porto (IPATIMUP) e na Boston Medical School (EUA). Após um período de pós-doutoramento no IPATIMUP, acompanhei a génese e o crescimento do i3S, local onde agora coordeno um grupo de investigação (Immunology, Cancer & GlycoMedicine). O que mais valorizo no i3S é a excelência científica, aliada a uma visão multidisciplinar das Ciências da Vida e da Saúde.

Consegue identificar 2 ou 3 marcos, na sua carreira profissional, que tenham sido mais relevantes para si?
A conclusão do doutoramento, que abriu portas para desenvolver e “dar asa” à minha criatividade científica; a liderança do meu primeiro projeto de investigação na qualidade de Investigadora Principal, que me permitiu criar e evoluir cientificamente de uma forma independente e, agora, inevitavelmente, a conquista do projeto ERC Synergy, como  expoente máximo da minha criatividade e liberdade científica.

O que representa para si e para o seu grupo de investigação a aprovação de um projeto ERC Synergy Grant (GlycanSwitch - Glycans as Master Switches of B Cell Activity in Autoimmunity) – o terceiro atribuído a investigadores portugueses?
Ganhar um projeto ERC, nomeadamente um ERC Synergy, que é somente a terceira vez que é atribuído a um português, é atingir o expoente máximo do reconhecimento mundial da excelência da investigação, e da ciência que desenvolvemos. A elevada competitividade que caracteriza os projetos ERC, a exigência científica e o rigor metodológico que caracterizam as avaliações dos projetos ERC pela Comissão Europeia - através de um leque diverso e variado de revisores e experts mundiais, de todas as áreas científicas, que avaliam os projetos - revela a exigência do processo, e torna este desfecho altamente gratificante. Mais do que um reconhecimento individual, este projeto ERC representa um reconhecimento coletivo do mérito da brilhante equipa que me tem acompanhado ao longo dos anos e da excelência científica do instituto a que pertenço, o i3S.

Fale-nos um pouco do projeto GlycanSwitch. Como surgiu a ideia, qual é a sua missão e os seus objetivos?
A tolerância imunológica é responsável por manter o sistema imunitário equilibrado, ou seja, ataca os agentes invasores, e não reage contra os seus próprios órgãos, tecidos ou células. Quando esta tolerância se perde, o sistema imunológico reage de forma descontrolada e exagerada, podendo levar ao desenvolvimento de uma doença autoimune. Mas, afinal, o que provoca esta perda de tolerância do sistema imune? E quais são os momentos-chave em que isso acontece, para que seja possível detetá-los e evitá-los antes do doente ter sintomas? Estas são algumas das questões a que pretendemos responder com o projeto GlycanSwitch. Em concreto, pretendemos compreender porquê, como e quando é que as modificações de glicanos (açucares/carbo-hidratos) nas células B (um tipo de linfócitos/células imunes que atuam na resposta inflamatória e na produção de anticorpos) atuam como interruptores-mestre, que desencadeiam a atividade anormal das células B, resultando, assim, na produção de autoanticorpos patogénicos associados à perda de tolerância imunológica, e ao desenvolvimento da autoimunidade.

Pode falar-nos um pouco sobre o processo de candidatura a que se submeteu - desde a preparação da candidatura à sua submissão -, e das várias fases seguintes à submissão da proposta?
Os projetos ERC Synergy implicam a existência de uma verdadeira sinergia entre os Investigadores Principais, em que o todo tem que ser maior do que a simples soma das partes. Perante a ideia científica e o objetivo do projeto, que deverá ser disruptiva e transformadora numa determinada área de investigação, foi criada uma combinação única de know-how em reumatologia, imunologia e glicobiologia, as quais foram potenciadas com a utilização de tecnologia avançada em glicoproteómica e glicómica, assim como a utilização de protótipos celulares e modelos animais únicos de doença autoimune. Esta equação, que alia a ideia única, a sinergia, e complementaridade dos parceiros com a utilização de uma abordagem tecnológica transformadora, resultará no desvendar da causa da perda de imuno-tolerância e, desta forma, para a prevenção do desenvolvimento de doenças autoimunes. O processo é constituído por 3 exigentes fases de avaliação, que culminam com uma entrevista em Bruxelas. É um processo de avaliação muito rigoroso, que se rege por standards de excelência científica com participação de peritos, que são referências mundiais em diferentes domínios.

De que forma o projeto GlycanSwitch e o trabalho desenvolvido nesta área, podem informar, para além da ciência, também medidas e políticas aos níveis nacional e internacional?
O projeto GlycanSwitch prevê completar um ciclo “da molécula ao doente”, onde o decifrar dos mecanismos subjacentes à perda de tolerância imunológica se traduzirão em novos biomarcadores clínicos e em novas estratégias terapêuticas, que visam prever e prevenir o desenvolvimento de doenças autoimunes com impacto na qualidade de vida dos doentes.

Que conselhos daria a todos(as) aquele(as) que se encontram atualmente a desenvolver propostas de investigação, de forma a melhor se prepararem, e responderem de forma mais competitiva, a futuros concursos de financiamento de projetos de IC&DT, como é o exemplo do Conselho Europeu de Investigação?
Se tiver uma ideia, uma hipótese científica que considere transformadora para o estado da arte atual, deverá persegui-la e solidificá-la e, no momento certo, submetê-la a financiamento competitivo. Diria que o aliar desta ideia única/disruptiva a uma equipa competitiva e multidisciplinar serão os ingredientes básicos para poder submeter uma proposta ao Conselho Europeu de Investigação.

Qual o atual retrato da prevalência das doenças autoimunes em Portugal? Considera que os portugueses estão devidamente sensibilizados no que respeita às doenças autoimunes?
As doenças autoimunes são doenças crónicas, debilitantes, podendo, em alguns casos, ser fatais, e com altos custos médicos e sociais. Grande parte delas são incuráveis - como a Artrite Reumatóide, Lúpus Eritematoso Sistémico, diabetes juvenil (tipo 1) e Doença Inflamatória Intestinal – e têm vindo a aumentar em todo o mundo. São atualmente um importante problema de saúde pública, que necessita de intervenção urgente. Um dos objetivos deste projeto é também promover a literacia em saúde, em particular, no que diz respeito às doenças autoimunes. Considero que a Ciência está cada vez mais próxima da sociedade, e essa proximidade é crucial para um melhor conhecimento e literacia em saúde.

Face ao inevitável aumento dos encargos do Serviço Nacional de Saúde, é expetável um gradual crescimento na utilização de fármacos biossimilares em Portugal. Como cientista, qual a sua opinião quanto ao recurso a fármacos biossimilares para o tratamento de doenças autoimunes?
Em princípio, os mecanismos de atuação dos fármacos biossimilares serão muito semelhantes à molécula original; contudo, a sua efetividade deverá ser sempre validada em ensaios clínicos multicêntricos.

Que apreciação faz do panorama científico português na sua área de investigação, e em outras áreas, de um modo geral? Considera que a ciência é devidamente valorizada em Portugal?
A Ciência é uma força motriz de um país e da economia do mesmo. Os países que mais investem em Ciência são aqueles que estão na vanguarda da inovação e tecnologia e, consequentemente, na criação de conhecimento, o que inevitavelmente se traduz em mais riqueza. O investimento em Ciência deverá ser uma prioridade; em Portugal temos cientistas de topo a nível mundial, altamente competitivos em concursos internacionais - como é o exemplo do Conselho Europeu de Investigação -, e com capacidade de atrair financiamento a nível mundial. Temos recursos humanos altamente diferenciados e de enorme qualidade; falta claramente criar condições de estabilidade para os Cientistas, assim como um maior investimento em Ciência. Isto traduzir-se-á seguramente na geração de conhecimento que a médio-longo prazo permitirá o desenvolvimento de novas ferramentas clinicas e novas abordagens terapêuticas, de modo a tratar melhor e mais eficientemente os doentes, com impacto não só na saúde mas, também, na economia de um país: “If you think research is expensive, try disease!



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