Newsletter #15 - Outubro de 2024
Gestão de Documentação e Informação
A criação da Sala Salazar nasce de uma fervorosa iniciativa estudantil apresentada durante um jantar na sede da Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (a FNAT), realizado no âmbito das comemorações do primeiro centenário da Academia Politécnica do Porto, a 14 de abril de 1937. Desta confraternização, como nos mostram os recortes de imprensa da época, constavam cerca de 500 pessoas, estudantes operários, e personalidades ilustres da sociedade de então como o Reitor da Universidade do Porto e, entre outros, António Faria de Carneiro Pacheco, Ministro da Educação Nacional. Após o jantar, várias foram as elocuções realizadas entre as quais se destacou o discurso inflamado de um jovem aluno da Faculdade de Medicina, António José de Lemos Salta que, aproveitando a presença do Ministro da Educação, pede a criação de uma sala de estudos nacionalista com o nome de António Oliveira Salazar. Esta ideia foi prontamente apoiada pelo Sr. Ministro, o qual, na parte final do seu discurso, exclama “Havemos de ter a Sala Salazar no Porto”.
Figura 3 e 4 - Imagens de livros pertencentes à Biblioteca do Fundo Antigo da U.Porto contendo carimbos e dedicatórias à direção da Sala Salazar
A Sala Salazar foi instituída por despacho ministerial a 27 de abril de 1937 e solenemente inaugurada um ano depois, a 27 de abril de 1938, na celebração do 10º aniversário de Salazar como ministro das Finanças, como nos relatam os vários recortes de jornais da época conservados no Arquivo da Universidade do Porto. Num discurso proferido pelo Reitor da Universidade, José Pereira Salgado, ficamos a saber um pouco mais sobre este projeto: “A proposta de criação do espaço partiu de um grupo de alunos com o louvável intuito de valorizar a sua formação intelectual com o estudo de problemas políticos e particularmente daqueles que ao Portugal Novo interessavam e a todos os novos convinha patentear por meio de lições, conferências, exposições, publicação de um boletim [...] É a primeira criada e com isso muita se honra e dignifica a Universidade do Porto pela sua primazia, que será seguida pela criação de salas análogas nas outras universidades. A Sala será um instituto Universitário de cultura nacionalista que sendo exclusivamente intelectual e essencialmente universitário se destina aos alunos da Universidade do Porto [...] Proceder-se-á igualmente à inauguração do Posto Emissor de T. S. F. do Laboratório de Física da Faculdade de Ciências, no qual o seu ilustre Diretor Prof. Sousa Pinto dirá algumas palavras. [....] O Sr. Reitor, antes de encerrar a sessão, convidou o auditório a visitar a Sala Salazar. Ali, e no meio de aplausos, concedeu a palavra ao Dr. Alexandre de Sousa Pinto que, pelo microfone do posto emissor privativo da Universidade, relatou as seguintes palavras:
“Daqui posto emissor CT1HB da Sala Salazar. Nenhuma inauguração seria mais feliz para dirigir saudações calorosas ao Presidente do Ministério. Deus dê saúde a Oliveira Salazar. Deus guarde Portugal”.
Pelo discurso do Sr. Reitor, José Pereira Salgado, ficamos a saber que a sala era um “espaço pequeno só comportando poucas dezenas de pessoas” e que se encontrava munida de um posto radiotelefónico emissor-recetor que seria utilizado como instrumento de propaganda. Esta peça (figura 5), única no acervo do MHNC-UP, pertenceu ao amador senfilista Francisco Pinto Moreira tendo sido adquirido pelo Laboratório de Física em 1934. Estavam assim planeadas emissões de informações de interesse académico, social e educativo, ao final da tarde, incluindo informações meteorológicas da responsabilidade do Observatório da Serra do Pilar (atual instituto geofísico). Contudo as emissões foram suspensas um mês depois com o argumento de a anterior licença de rádio amador não ser suficiente para legitimar o seu funcionamento. A intransigência do diretor interino do Laboratório em pagar quaisquer outras taxas, atendendo à função educativa do posto, ditou o fim do projeto radiofónico.
Figura 5 – Posto radiotelefónico emissor-recetor (MHNC-UP).
Apesar da sua inauguração solene ter sido a 27 de abril, somente a 28 de novembro de 1938 é que os estatutos da Sala Salazar são publicados em Diário da República. E neles podemos ver que a Sala era dirigida por uma comissão de estudantes nomeada anualmente pelo Ministro da Educação sob proposta do Reitor da Universidade do Porto, possuía uma biblioteca e um funcionário a ela afeto, e tinha como principais atividades a organização de conferências, exposições e outras iniciativas propagandísticas.
Inicialmente prevista para os novos espaços da Faculdade de Engenharia, a Sala Salazar encontrava-se instalada numa área do 2º piso (atualmente 4º piso, sala 419) da Faculdade de Ciências (figura 6).
No que diz respeito às atividades realizadas foi possível encontrar dois registos para o ano de 1941, nomeadamente uma sessão cultural comemorativa dos 15 anos da “Revolução Nacional”, e uma conferência proferida pelo historiador Alfredo Pimenta a 31 de outubro (figuras 7 e 8).
O último anuário da Universidade do Porto, publicado no ano letivo de 1962/63, ainda refere a Sala Salazar como um espaço afeto à Faculdade de Ciências. Mediante a consulta de diferentes Diários da República verificaram-se transferências anuais de 2000 escudos dentro dos orçamentos de estado para a manutenção da Sala Salazar, com início em 1960, sendo a última datada de 19 de novembro de 1971.
Desconhece-se até que ano se manteve em funcionamento a Sala Salazar.
Figura 6 – Localização da Sala Salazar numa planta do edifício da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto em c. 1958.
Figuras 7 e 8 – Comunicação de Alfredo Pimenta organizada pela direção da Sala Salazar em 1941.