O Regulamento da Biblioteca da Academia Politécnica do Porto (1889): Uma Visão sobre a Gestão do Conhecimento no Século XIX
Gestão de Documentação e Informação
Há 135 anos, a 9 de março de 1889, foi publicado o primeiro regulamento da Biblioteca da Academia Politécnica do Porto, aprovado pelo Ministério dos Negócios do Reino – Direção Geral de Instrução Pública. Este documento reflete a importância da biblioteca no sistema de ensino, estabelecendo normas e procedimentos rigorosos para a utilização e conservação do seu acervo bibliográfico. Colocando em destaque a exclusividade de acesso aos docentes, bem como a centralização da gestão de aquisições no Conselho Académico. O bibliotecário assumia um papel fundamental na administração da biblioteca, sendo responsável pela organização dos catálogos, manutenção e conservação das obras, além da gestão do movimento interno do acervo. Este profissional reportava diretamente ao diretor e ao Conselho Académico, garantindo o cumprimento das diretrizes institucionais.
À esquerda: ALV Fotografia Alvão, Lda. 1902/1972, [Universidade do Porto: Biblioteca], 1930/1940, PT/CPF/ALV/020741, imagem cedida pelo Centro Português de Fotografia
À direita: ALV Fotografia Alvão, Lda. 1902/1972, [Universidade do Porto: Biblioteca da Faculdade de Ciências], [1925], PT/CPF/ALV/024862, imagem cedida pelo Centro Português de Fotografia
A análise ao Regulamento da Biblioteca da Academia Politécnica do Porto, aprovado pelo Ministério dos Negócios do Reino – Direção Geral de Instrução Pública em 1889.03.09, coloca em destaque a sua organização escrupulosa e o esforço para estimular o acesso ao conhecimento entre professores e alunos da instituição. O documento revela um sistema avançado para a época, com normas e procedimentos meticulosos sobre a gestão, utilização e conservação dos acervos. A Biblioteca estava reservada à utilização do corpo docente e discente da Academia, com o objetivo de reunir obras diretamente relacionadas com as disciplinas ministradas. A sua administração estava sob a responsabilidade do Conselho Académico, que decidia sobre a aquisição de livros e publicações, em conformidade com as requisições dos lentes (professores) e as verbas disponíveis.
O bibliotecário desempenhava um papel central, estando encarregue da organização dos catálogos, manutenção do acervo, aquisição e conservação das obras, bem como da gestão do movimento interno da biblioteca. Este profissional respondia diretamente ao diretor e ao Conselho Académico, mostrando pertencer a um “grupo” visivelmente competente e eficaz.
O documento legislativo enfatiza o controle rigoroso sobre o empréstimo e manuseamento das obras:
- Apenas os professores podiam retirar livros da biblioteca, mediante condições específicas. Obras perdidas ou danificadas eram de responsabilidade dos lentes, que deveriam providenciar a sua substituição ou reparação.
- Os Livros destinados às aulas, gabinetes e salas de estudo eram requisitados formalmente, ficando sob à guarda dos responsáveis desses espaços.
Para facilitar o acesso às obras, a biblioteca mantinha uma série de catálogos organizados por autores, especialidades, dicionários e publicações periódicas. Além disso, registos detalhados acompanhavam a entrada de novos volumes, ofertas recebidas e empréstimos realizados.
Os catálogos e registos seguiam um modelo rigoroso, contendo dados completos sobre as obras, como, autor, título, edição, ano de publicação e formato. Esta organização visava garantir a eficiência no uso dos recursos e a preservação da integridade dos acervos.
O Regulamento também previa o envio do Anuário da Academia para instituições nacionais e internacionais, reforçando o compromisso com a troca de conhecimento entre pares e a integração da Academia Politécnica no cenário científico global.
Além disso, o controle sobre mapas e coleções de estampas, bem como a obrigatoriedade de preenchimento de notas de saída para qualquer material retirado, indicavam o zelo na salvaguarda do património cultural e educacional da biblioteca.
O documento comprova a preocupação da Academia Politécnica do Porto com a gestão do conhecimento e do acesso à informação no final do século XIX. A estrutura administrativa, as normas de funcionamento e a organização dos acervos refletem uma visão pioneira, que contribuiu para consolidar a instituição como referência no ensino superior e na pesquisa científica internacional.