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Em final de ano e como vem sendo já uma tradição, a Fundação Marques da Silva apresenta o seu Postal de Boas Festas, construído a partir de um desenho de um dos «seus» arquitetos. Desta vez, uma perspetiva da linha do horizonte de Veneza, ao anoitecer, a partir da Torre de S. Marcos, desenhada por António Menéres em 1993. É com ele que a todos começamos por desejar festas felizes e um auspicioso Novo Ano.
E porque esse Novo Ano está quase a chegar, esta última newsletter de 2025 é lançada já com os olhos postos em 2026 e no compromisso de um regresso com novas propostas e projetos, novas razões para que continue a acompanhar, a visitar, a apoiar o que na Fundação ou a partir dela vai acontecendo.
Por enquanto, hoje, dia 18 de dezembro, e depois, entre 22 de dezembro e 4 de janeiro, incluvise, estaremos encerrados ao público. Mas manteremos o contacto através das redes sociais. Continue connosco!
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O acervo do Arquitecto António Menéres já mora na Fundação
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O acervo de António Menéres já mora na Fundação Marques da Silva. Entrou primeiro, em Arquivo, documentação relativa a alguns projetos, aqueles que começou por desenvolver em resposta a convites de David Moreira da Silva para Rio Covo, em Barcelos. Ao longo destes últimos anos, sobretudo por ocasião do seu aniversário, foram sendo partilhadas algumas fotografias que, invariavelmente, traziam uma história para contar. É que, além da arquitetura, também a paixão pela fotografia se fez sentir desde muito cedo. Será ela, aliás, a garantir a este arquiteto, em cujo Diploma se reúnem as assinaturas de Carlos Ramos, Rogério de Azevedo e Octávio Lixa Filgueiras, o «passaporte» para integrar em 1955, juntamente com Rui Pimentel, a equipa coordenada por Fernando Távora no Inquérito à Arquitectura Popular Portuguesa (vide notícia publicada em 26 de abril de 2022). De facto, o seu percurso é longo e muito rico, pela obra feita e por todos aqueles com quem se cruzou. No início deste mês de dezembro, chegou finalmente a oportunidade de passar definitivamente o seu acervo profissional, aquele que há alguns anos se mantinha depositado no atelier da Rua de Lima Júnior, para a Fundação Marques da Silva, assegurando-lhe assim a sua unicidade original. Referimo-nos a mais de duas centenas de projetos, datados entre 1961 e a primeira década do século XXI, assim como a trabalhos académicos. Uns e outros, nesta nova casa, adquirem um significado maior e estimulam novos acessos à rede de relações que liga muitos dos arquitetos aqui representados, trazendo novos dados sobre o mundo prático do exercício da profissão.
António Sérgio Maciel Menéres nasceu em Matosinhos, em 1930. Tornou-se arquiteto diplomado, após tirocínio com Fernando Távora, ao defender o seu CODA na Escola Superior de Belas Artes do Porto em 1961: um projeto de adaptação do Forte de Leça a Capitania, intitulado «Da Renovação Urbana. Considerações sobre integração e vitalização». Obteve 19 valores. Mas a sua primeira mesa de trabalho estava já montada, desde 1949, na mítica Sala 35, no edifício do antigo Café Imperial, na Praça da Liberdade, no Porto, junto à de outros jovens «caloiros» nestas andanças da arquitetura: Alberto Neves, Alfredo Matos Ferreira, Álvaro Siza, Joaquim Sampaio e Vasco Macieira Mendes. Aí permaneceram todos até que, já na década de 60, se mudaram para uma velha casa do século XIX, na rua Duque de Terceira. A saída de Alberto Neves, que se tornara colaborador permanente de Fernando Távora, seria compensada pela entrada de Luiz Botelho Dias no grupo que por aí se foi mantendo. Seguiu-se a partilha de atelier com Duílio Silveira, numa sala do r/c do Bloco de Costa Cabral de Viana de Lima, onde vários outros arquitetos se instalaram. Porém, com o passar dos anos e o avolumar de encomendas, veio a tornar-se por fim possível a António Menéres alugar uma moradia em nome individual, na já referida Rua de Lima Júnior. O atelier próprio, entre finais da década de 80 e o início da década seguinte, chegou mesmo a ter 7 colaboradores a trabalhar em simultâneo. Projetou de tudo um pouco, da grande à pequena escala, para clientes institucionais e para clientes privados, dos grandes equipamentos, a habitação e estabelecimentos comerciais, associando a esta intensa atividade projetual uma profícua atividade enquanto professor e conferencista. Num olhar retrospetivo, vai, no entanto, destacando alguns projetos: o Posto para os Pilotos da Barra do Douro e Porto Artificial de Leixões, obra de juventude; a moradia para o pediatra António Maria Amaral Santos, em Viseu; a habitação em Nevogilde nos terrenos da Viscondessa de Paçô Vieira, prima de Fernando Távora, a quem deve a encomenda; o Abrigo Maternal da Junta Distrital do Porto, na Rua de S. Brás; e, em colaboração com João Santos, a Biblioteca Municipal de Moncorvo, uma adaptação do antigo Solar dos Távoras que obteve uma menção honrosa na Bienal de S. Paulo de 1989.
Da participação no Inquérito ficou entranhado o gosto pela viagem e pelo estudo da arquitetura dos aglomerados rurais, tendo sido bolseiro da FCG, em 1962, o que lhe permitiu aprofundar o levantamento dos aglomerados ligados à vida litoral do Douro e Minho. Levantamentos que eram acompanhados de minuciosas reportagens fotográficas de um território que continuou a percorrer ao longo do tempo, registando assim as mutações e os desvanecimentos que nele se foram verificando e cultivando uma prática que foi alargando à Leça da sua infância, a Trás-os-Montes, onde a família era proprietária e geria a Quinta do Romeu, a Vilarinho das Furnas e, mais tarde ao Algarve, lugar de férias de verão, com direito a caminhadas exploratórias, muitas delas em companhia de Manuel Teles. Ainda em 2024, a Fundação Marques da Silva publicou o seu Glossário de termos de construção caídos em desuso, maioritariamente recolhidos nestas ações de estudo de campo.
O querer descobrir o mundo, traduzido numa vontade de viajar para outros países, surgiu igualmente no início da década de 60, impulsionado pelo apoio recebido do Instituto de Cultura Brasileira da Faculdade de Letras de Lisboa e da TAP, que lhe atribuiu em 1963 o Prémio Infante D. Henrique. Houve, porém, um destino que se tornou uma constante. O Brasil tornou-se lugar seu, uma extensão de Portugal. Aí cultivou amizades que perduraram, como as que manteve com o pianista Joel Bello Soares, com o arquiteto Benedito Lima de Toledo ou com o casal Odiléa e João Walter Toscano, entre muitos outros; aí foi sendo chamado, ano após ano, a fazer palestras e a expor a sua obra. O que foi vendo, mais uma vez, foi ficando registado pela lente da câmara fotográfica e nos desenhos que foi guardando. Este ano, como antecipado, foi um desenho seu, feito durante uma viagem a Veneza em 1993, guiada por Fernando Pernes e em companhia de Irene Vilar, a servir de base ao Postal de Boas Festas da Fundação Marques da Silva.
Amante de música, de vela e de carros, António Menéres manteve inalterada a sua proverbial convivialidade, patente na generosidade com que sempre recebeu e continua a receber quem o procura ou na forma bem humorada como partilha as suas memórias, importantes porque já raras enquanto testemunhos vivos de tempos distantes. Encerraram-se as portas de Lima Júnior para que o acervo, agora doado, possa finalmente ser preservado, tratado e, em breve, disponibilizado para consulta pública.
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EXPOSIÇÕES / FUNDAÇÃO o que pode visitar a abrir 2026
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LOUREIRO 100 ARQUITECTURAS DE REPRESENTAÇÃO
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No passado dia 2 de dezembro passaram 100 sobre o nascimento de José Carlos Loureiro. Um centenário a justificar, pelo tempo longo que foi o da sua vida, a entrega à profissão que desde muito cedo escolheu, as centenas de projetos que individualmente ou em sociedade desenvolveu, a proposição de um amplo conjunto de iniciativas. Não somente para refazer a extensa linha cronológica da sua obra de arquitetura, que a recente incorporação de mais um importante núcleo documental na Fundação Marques da Silva permitiu, mas para, a partir dela e na sua invulgar dimensão e diversidade, identificar as idiossincrasias de um autor e as constantes que distinguem uma prática guiada por “ideais de modernidade, urbanidade e solidez”. Loureiro 100, título aglutinador dessas iniciativas, tem como objetivo refletir e debater uma obra “simultaneamente afirmativa, generosa e democrática”, que continua a marcar “a paisagem construída de várias cidades portuguesas”.
A exposição que ocupa presentemente o Palacete Lopes Martins, na Fundação Marques da Silva, Arquitecturas de Representação, com curadoria de Luís Martinho Urbano e Joaquim Vieira de Magalhães, é parte integrante desse programa e nela se apresentam, entre desenhos e maquetas, 46 projetos, maioritariamente construídos, datados entre 1952 e 2010. Mas também algumas das máquinas fotográficas que o foram acompanhando, em visita às obras ou em viagem, e alguns dos livros de uma biblioteca que confirma o alinhamento de José Carlos Loureiro com o seu tempo. São obras onde a arquitectura é encenada, isto é, onde mais do que responderem a um determinado uso, os edifícios têm como desígnio representar as instituições públicas ou privadas no espaço urbano onde se encontram implantadas, não se inibindo de experimentar uma monumentalidade contemporânea.
A exposição, que vai reabrir ao público a 5 de janeiro, poderá ser visitada até 21 de fevereiro do próximo ano, de segunda a sábado, entre as 14h e as 18h00. E está já agendada uma visita guiada pelos curadores logo a 10 de janeiro, com início às 15h00. Para participar, basta comparecer na Fundação à hora agendada.
LOUREIRO 100 é uma iniciativa conjunta da Fundação Marques da Silva, do Lugar do Desenho – Fundação Júlio Resende e da Câmara Municipal da Maia, com o apoio da Rede Portuguesa de Arte Contemporânea, Direcção Geral das Artes, Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto e Ordem dos Arquitectos. Inclui exposições, conferências, visitas e a publicação de um livro com a sua vasta obra.
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